Wagner Mendes não esquece de 11 de abril de 2014. Foi o dia em que o hoje professor de educação física percebeu que havia se tornado um "morto-vivo", como define, em referência ao vício em cocaína. A droga transformou um jovem ativo, esportista e membro de projetos sociais envolvendo futebol e outras modalidades em sua cidade, Santana de Parnaíba, na Grande São Paulo, num sujeito "sem sonhos".
Para derrotar o vício na cocaína e refazer sua vida, passou a lembrar do que tinha vivido, dos esportes que praticava com os amigos na comunidade onde morava e, principalmente, dos 11 anos em que foi aluno a Fundação Esportiva Educacional Pró Criança e Adolescente, a Eprocad.
Foi graças à fundação, contemplada com um projeto da Fifa Foundation, que Wagner, ainda adolescente, teve a oportunidade de conhecer a África do Sul durante a Copa do Mundo de 2010.
Depois que ele saiu da fundação, aos 18 anos, que passou a usar drogas. Mas a Eprocad cruzaria de novo o caminho de Wagner para que pudesse modificar seu destino. "Surgiu uma oportunidade de trabalhar na área de manutenção da Eprocad. Quando pisei na fundação, comecei a reviver meus sonhos", conta ele.
Da manutenção, Wagner virou monitor. Depois, com auxílio da Eprocad, cursou educação física e se tornou um dos professores da ONG. Hoje, é difícil para o professor encontrar tempo em meio a uma rotina tão atribulada. Entre as atividades estão aulas de ginástica laboral em um galpão no bairro onde mora para catadoras de uma cooperativa de material reciclável.
"Também dou aula num projeto de funcional à noite. De sábado, dou aula numa comunidade que fica num bairro que não tem nada. Um bairro afastado, só com sítios. A prefeitura não abraçou a causa, mas a fundação abraçou", cita o educador, orgulhoso de seus projetos.
Todos essas iniciativas estão ligadas à Eprocad, que tem núcleos espalhados por Santana de Parnaíba e outras cidades da região, além de sua sede de 20 mil metros quadrados equipada com quadras poliesportivas, um campo de futebol society construído com material reciclável, pista de atletismo e uma sala gamer. No espaço, são oferecidas atividades esportivas, educacionais, culturais e de lazer.
Fundada em 1985, a ONG atende comunidades vulneráveis onde a desigualdade social é alarmante. São, atualmente, 1300 crianças e adolescentes atendidos em local próprio e nas escolas parceiras da organização. Grande parte dos recursos é obtido por meio de leis de incentivo ao esporte. Grandes empresas, como Grupo Pão de Açúcar, Centauro, PepsiCo, Pfizer, Itaú, CCR e Cacau Show, destinam recursos para a ONG em troca de renúncia fiscal.
"O que o jovem precisa é de uma oportunidade", enfatiza Paula Ghirardello, 60 anos, diretora-presidente da fundação. Ela comanda a organização há dez anos. Nesse período, a ONG nunca ficou no vermelho, mas as intempéries são muitas.
Ela se orgulha de a organização caminhar sem ter uma personalidade do esporte como padrinho. Mas isso torna a missão de obter recursos mais difícil, já que nomes famosos atraem patrocínios com mais facilidade. "O nosso desafio é ficar de pé", diz Paula, de acordo com a qual o terceiro setor "sempre foi muito banalizado".
A Eprocad coleciona prêmios pelo seu trabalho. O mais importante deles foi conquistado no ano passado, o Prêmio Melhores ONGs na categoria Esportes. Na mesma premiação, também foi relacionada entre as 100 melhores ONGs do País em consequência das ações desenvolvidas com as instituições apoiadoras.
Essa parceria levou a metodologia de trabalho da Eprocad para 12 países, em quatro continentes, promovendo intercâmbio com organizações que utilizam o futebol como ferramenta educacional, incluindo a Fifa Foundation. Em ano de Copa do Mundo, o foco, agora, é o futebol feminino. "Queremos empoderar as mulheres", salienta Paula.
O diferencial da Eprocad, dizem as pessoas que lá trabalham, é a metodologia desenvolvida que envolve valores usando o esporte, especialmente o futebol, como ferramenta de transformação social. "O desenvolvimento dos valores, a comunicação, a empatia, a justiça e a cooperação permeiam todas as atividades da fundação", afirma Ana Paula Cassaro, supervisora de projetos.
A metodologia "três tempos" é aplicada em quase todas as atividades. Nela, os alunos propõem as regras, praticam a modalidade e, depois do jogo, discutem o que deu certo e o que não deu.
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