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'Não quero ter paz, eu quero o conflito', diz presidente do Palmeiras

Leila Pereira tem um aperto de mão firme. Sempre olha para o interlocutor quando está falando. Vai e vem nas histórias sem perder o fio da meada. Lembra do dia em que decidiu procurar o Palmeiras para se oferecer como patrocinadora. Conta que achavam que

Da Redação

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Escrito por Da Redação
Publicado em 08.03.2022, 18:00:00 Editado em 08.03.2022, 18:08:56
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Leila Pereira tem um aperto de mão firme. Sempre olha para o interlocutor quando está falando. Vai e vem nas histórias sem perder o fio da meada. Lembra do dia em que decidiu procurar o Palmeiras para se oferecer como patrocinadora. Conta que achavam que era trote. Faz um balanço e mostra-se preocupada nesses quase três meses de mandato na presidência para um período de três anos e mais três se conseguir a reeleição, como planeja. Rechaça que vai renunciar, como chegou a ouvir na semana passada, enfrenta e promete dar um basta na gastança sem necessidade no clube, rompe com a torcida e pede a devolução de R$ 200 mil dela e não teme o conflito.

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O momento é turbulento no Palmeiras como ela nunca viu antes. "A cobrança da torcida não me incomoda, não quero ter paz. Eu quero o conflito... esse é o futebol, jamais imaginei que as pessoas iam bater palmas para mim quando estivesse sentada na cadeira da presidência", disse em entrevista ao Estadão.

Suas preocupações dizem respeito a assuntos fortes e pontuais que causam nela uma mistura de sentimentos entre a decepção e a desconfiança, e que gera reação e recados claros para quem quer que seja. Leila está decepcionada com os membros da torcida organizada Mancha Alviverde, com quem "rompeu" relações. Ela está desconfiada de que muitos no Palmeiras não gostam de ver uma mulher com tanto poder no clube.

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"Sou a mesma do meu primeiro dia, mas a minha percepção é que as pessoas mudaram comigo. Antes de ser presidente, o torcedor me tratava com carinho e paciência. A partir do momento que me tornei presidente, começou uma cobrança sem fundamento", alega. "Eles entendiam que a Leila não teria limites (financeiros). Não é assim. A gastança e o descontrole são um absurdo no clube. Estou dando um basta nisso."

Leila admite que as pessoas olham para ela e veem um cifrão andando, como no desenho animado. Não vai ser assim, ela diz com voz segura. Há dinheiro, mas o clube não vai torrá-lo sem critérios, o que a faz dar mais um recado à comunidade palmeirense antes mesmo dos 100 dias de sua presidência. Uma auditoria externa foi contratada para avaliar todos os departamentos do clube. Ela vai dizer o que funciona e o que não funciona no Palmeiras. "A partir daí, muita coisa vai mudar."

O rompimento com a Mancha a fez pedir de volta R$ 200 mil que havia gasto para levar torcedores uniformizados para Abu Dabi a pedido de Paulo Serdan e de outros líderes da organizada, como o próprio Serdan informou em live feita em sua rede social. O dinheiro foi devolvido. O motivo desse rompimento, para Leila, é "ridículo". Diz respeito à presença de seu assessor pessoal, Oliverio Jr., no comando da assessoria de imprensa do Palmeiras.

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Acusado de ser corintiano e ter relações estreitas com o "lado de lá", a torcida pediu sua cabeça - ele é acusado ainda de provocações a torcedores no Allianz Parque. "É crime isso o que estão fazendo, pedindo a demissão de um colaborador por ele ser torcedor de outro time. Nunca perguntei isso para nenhum de meus colaboradores", disse a presidente. Leila manteria Oliverio no posto não fosse o pedido dele para sair. Sua decepção então fez com que ela rompesse com a torcida.

A presidente não vai mais ajudar os torcedores com dinheiro, passagens, ingressos ou qualquer outro tipo de auxílio, tampouco aceitará projetos da Lei Rouanet para o carnaval, como admite ter feito no passado. O rompimento, por ora, é total. "É óbvio que o dinheiro sempre foi meu. Eu escolho e faço o aporte aos projetos da Lei. Recebo 150 projetos por ano, mas escolho o da Mancha."

Ainda sobre o caso de seu assessor, ela revelou que membros da torcida, incluindo Paulo Serdan, estiveram em seu camarote no Allianz Parque para um show do Phil Collins. O colaborador estava lá e todos se abraçaram e se divertiram juntos. Por isso, diz não entender o que mudou e nem a necessidade da demissão. Pediu para relevar, mas a torcida não atendeu ao seu pedido.

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"Foi decisão do Oliverio Jr de sair. Por mim, ele continuaria à frente do departamento de comunicação do Palmeiras. Não me vejo acuada em hipótese alguma com isso. Zero. Não me sinto acuada em nada. Vou deixar claro que a presidente do Palmeiras sou eu. Todos querem mandar aqui. Não vão", diz, dando mais um recado de como será sua gestão nos próximos dois anos e nove meses.

PRECONCEITO

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Leila espera estar enganada, segura as palavras para não se expressar de forma errada, mas começa a olhar de forma diferente para focos de "preconceitos" pelo fato de ser mulher. Diz que nunca havia sentido isso antes de se sentar na cadeira que, desde a fundação do Palmeiras, em 1914, só havia pertencido a homens. Ela não aceita isso também. "Eu começo a olhar para isso de outra forma. Mas não é a Leila que tem todo esse poder. É o cargo que ocupo." Todas as decisões do Palmeiras passam por ela. "Sou eu que decido e não tenho medo de decidir", diz.

GASTANÇA

Em quase três meses no cargo, Leila Pereira garante que não vai se dobrar ao "sistema". Mas qual sistema ela está se referindo? Ao sistema do futebol e das gestões dos clubes, do dinheiro fácil, dos pedidos de camisa a todo instante, dos voos fretados sem necessidade, das comissões pagas a empresários na ordem de R$ 30 milhões (a informação é dela e se refere a um jogador que "veio de graça" e que não está mais no clube), enfim, da torneira aberta por onde jorram R$ 900 milhões, valor estimado da receita da temporada.

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Leila não é o cifrão que todos imaginavam que ela seria. "Estou dando um basta nisso. A cobrança da torcida não me incomoda, não quero ter paz, eu quero o conflito... esse é o futebol, jamais imaginei que as pessoas iriam bater palmas para mim sentada na presidência... Eu vi como trataram o Maurício (Galiotte, seu antecessor). Muitos querem se sentar na cadeira de presidente. Mas a presidente sou eu."

O clube deve R$ 130 milhões à Crefisa. Esse dinheiro só pode ser pago com a venda de jogadores do elenco. Se isso acontecer, o Palmeiras tem dois anos para fazer o pagamento. Como ela está nas duas pontas da mesa, enxerga a transação com clareza e sem preocupação porque entende que o clube tem faturamento para quitar essa e outras dívidas. O dinheiro da patrocinadora continua entrando (R$ 82 milhões por ano até 2024) e não há sinais de que isso termine.

CAMISA 9

Mas nenhum centavo será investido, segundo ela, no que não precisa, por pressão ou para acalmar a torcida. Nem mesmo o mantra "cadê o camisa 9" tira a presidente do sério. Leila aproveita o tema para mandar mais um recado. "Não haverá contratação de jogador sem o aval da presidência, do treinador e do gerente de futebol. Não vamos comprar 'jogador-aposta', não vamos fazer contratos longos com atletas com mais de 29 anos. É um princípio meu. Não há centroavante no futebol brasileiro, há bem poucos na América do Sul e ninguém que atua na Europa quer vir para o Brasil. Então, todos terão de esperar aparecer um jogador interessante e pronto", diz.

"Também já falei com os profissionais do departamento médico que não somos uma instituição de recuperação de jogador. Só contrataremos quem passar nos testes clínicos." Algumas ofertas foram feitas e recusadas. Outras jamais chegaram a ser mencionadas. Ela sabe das necessidades de Abel Ferreira e vai atendê-lo quando encontrar o atleta certo. Diz que não há teto financeiro para as negociações, mas exige que o jogador chegue pronto.

Para cada assunto, Leila tem uma história. Contou recentemente o valor que chegou em sua mesa para fretar um avião para os Emirados Árabes Unidos a fim de ilustrar essa gastança desenfreada do clube. Gente do Palmeiras pediu R$ 1 bilhão. Ela foi informada de que tinha de decidir naquele dia porque a Fifa estava cobrando. Disse "não". Os valores foram baixando até chegar na metade da proposta. O clube resolveu alugar o avião porque começou a vender assentos livres. Levantou dinheiro necessário para cobrir as despesas. "É esse gasto sem necessidade que estou me referindo. O sistema sempre foi assim. Não será comigo."

Leila ainda disse que o Palmeiras vai continuar apostando na sua base, cujo investimento anual é de R$ 30 milhões. O projeto de uma nova Academia 1 está pronto, em busca de documentação dos órgãos públicos competentes para iniciar as obras. Em junho, a mais nova joia do clube, Endrick, de 15 anos, vai assinar seu primeiro contrato.

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