Aos 42 anos, Nicholas Santos conquistou nesta quarta-feira, 14, a medalha de ouro nos 50m borboleta no Mundial de piscinas curtas, realizado em Melbourne, na Austrália, e tornou-se o atleta mais velho a subir no lugar mais alto do pódio, superando a sua própria marca. O brasileiro ainda bateu o recorde do campeonato ao completar a prova em 21s78. Ao fim da competição, anunciou a aposentadoria do esporte.
"Saio da natação com 42 anos e estou muito feliz e orgulhoso. Sou tetracampeão mundial e saio do esporte como recordista mundial. Já viajei para mais de 40 países, mas esta noite foi o último evento da minha carreira", disse.
Mas, como Nicholas Santos conseguiu se manter em altíssimo nível aos 42 anos, em um esporte que exige tanto fisicamente como a natação? A alimentação é regrada e os treinos são diários. Durante a semana, o nadador de 1,91 m da Unisanta cumpre oito sessões na água, onde nada até três mil metros. Fora da piscina a saga continua com mais três treinos de musculação. "Tentei inspirar as pessoas, incluindo muitas crianças que me viram nadar", disse.
Muito do seu equilíbrio tem como ponto básico a sintonia entre corpo e mente. Ele tem o hábito de meditar e trabalhar a respiração. Com isso desafiou o que muitos pensavam ser impossível. O nervosismo, a ansiedade e a falta de uma boa noite de sono às vésperas das competições ficaram no passado.
"É o lado bom de envelhecer. Você fica mais observador e lida melhor com situações de risco. Houve ocasiões comigo, quando era mais novo, em que treinava muito, mas na hora de competir, não conseguia o resultado. Muitas vezes isso acontecia pela ansiedade ou pelo estado de frequência cardíaca elevada antes de nadar. Você perdia o controle da situação", afirmou em entrevista ao Estadão no ano passado.
Nicholas impressiona quando o assunto é longevidade. Sua primeira medalha de ouro no Mundial de Piscina Curta foi há dez anos, em Istambul, na Turquia. Na natação, são raríssimos os casos de atletas que seguem em alto nível depois dos 30. Considerado um dos maiores nadadores de todos os tempos, Michael Phelps se aposentou pela primeira vez aos 27. Após um hiato de duas temporadas sem cair na água, o americano voltou a nadar nos Jogos do Rio, em 2016, e parou definitivamente aos 31 anos. O australiano Ian Thorpe, grande nome das piscinas antes de Phelps, encerrou a carreira aos 24 anos.
Ayrton Senna, morto em 1994, é o ídolo de infância que ainda o inspira quando vai disputar uma prova. A busca incessante de Senna pelas vitórias na Fórmula 1, inclusive, serviu como combustível para Nicholas enfrentar a rotina do esporte de alto rendimento.
Ao longo da sua carreira, Nicholas conseguiu conciliar as piscinas com os estudos. É formado e pós-graduado em Fisioterapia e tem ainda um MBA com ênfase em empreendedorismo. Por fim, uma curiosidade: entre os 13 e 14 anos, Nicholas jogou futebol e defendeu o Botafogo de Ribeirão Preto nas categorias de base. Ele era atacante e gostava do Raí.
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