Há exatos 70 anos o Brasil disputava sua primeira final de Copa do Mundo e sediava a competição mais importante do futebol envolvendo seleções. Na decisão, o Maracanã registrava um público de 199.854 espectadores, que acompanhava Brasil e Uruguai.
O primeiro tempo terminou empatado de 0 a 0. Logo no início da segunda etapa, Friaça marcou aos 2 minutos, deixando a seleção brasileira na frente no placar. Tudo parecia encaminhado para a taça ficar eternizada no Brasil. Contudo, os uruguaios reagiram e empataram com Schiaffiino aos 21. Brasil 1 x 1 Uruguai.
A massa de torcedores brasileiros no estádio mantinha a confiança em um final feliz, afinal o empate era o suficiente para levantar o caneco. Além disso, a campanha da equipe formada pelo técnico Flávio Costa, sem dúvida, inspirava otimismo. O Brasil chegou à final invicto, com o retrospecto de quatro vitórias e um empate. Sendo que deste total de jogos, três foram goleadas: Brasil 4 x 0 México, Brasil 7 x 1 Suécia e Brasil 6 x 1 Espanha.
Contudo, aos 34 minutos do segundo tempo Ghiggia surgiu para ser o protagonista em um dos capítulos mais doloridos da história do futebol brasileiro. O ex-ponta-direita chutou rasteiro, sem tanta força, no canto esquerdo do goleiro Barbosa, que não alcançou. A multidão no Maracanã se calou e o gol que decretou o bicampeonato do Uruguai, selando a vitória por 2 a 1, ficou eternizado como Maracanazo.
No Maracanazo dois personagens foram antagonistas: Ghiggia, o herói, e Barbosa, o vilão. Em entrevista os comentaristas da Rádio Nacional Mário Silva e Waldir Luiz para comentarem o lance emblemático.
“Foi realmente um fato muito importante, porque o Brasil se preparou para aquela Copa do Mundo, mesmo com alguns problemas administrativos. Partiu para ganhar, poderia ter vencido, até porque fez uma partida admirável contra a Espanha [no jogo anterior]. Mas, isso são coisas do futebol. No final das contas, crucificaram o goleiro”, opina Mário Silva.
“O Maracanã estava superlotado. Ele tinha sido inaugurado há um mês. Era a primeira Copa do Mundo no Brasil. Então, o país parou para ver aquela competição. Mas esse Maracanazo, na minha opinião, terminou em 1970. Porque 20 anos depois o Brasil voltou a enfrentar a seleção do Uruguai em uma Copa do Mundo e venceu. Depois disso, a pressão contra os uruguaios diminuiu”, relembra Waldir Luiz, que aproveitou para revelar uma conversa que teve com o atacante Ademir de Menezes, participante daquela Copa: “Uma vez perguntei ao Ademir o que representou aquilo, e ele me disse que foi gerado um grande trauma”.
Após 64 anos, em 2014, o Brasil voltou a sediar uma edição da Copa do Mundo. A expectativa era por um desfecho diferente. O torcedor brasileiro vivia a possibilidade de conquistar o troféu mais cobiçado do mundo em casa. A seleção brasileira chegou às semifinais, mas foi terrivelmente goleada pela Alemanha por 7 a 1, no Mineirão, em Belo Horizonte. O goleiro era Júlio César.
Agora, após estas duas traumáticas derrotas, Mário Silva traça um paralelo em relação aos dois defensores: “Vamos comparar os dois goleiros. Um tomou sete da Alemanha, e o outro ficou marcado por ter tomado o gol do Ghiggia. Para mim, é mais pesado tomar sete, mas não era na final. Uma diferença de um tempo para o outro é que a imprensa trabalhou em favor de desconstruir o fato de 2014. Já em 50 a situação foi alimentada durante anos. Barbosa foi um grande goleiro, e só lhe procuravam para falar do gol do Ghiggia. Ele mesmo fez um comparativo antes de morrer, que no Brasil a maior pena era de 35 anos e ele estava condenado por mais tempo. Do ponto de vista de ser um mico, as duas situações se equivalem. Em 1950 o Brasil perdeu a Copa para o Uruguai, e em 2014 perdeu mais uma vez a chance de ser campeão em casa”.
Waldir Luiz faz um comparativo e afirma que, pelo fato de Júlio César não ter sido o responsável direto pelos gol sofridos, a culpa pelo vexame não recaiu sobre ele: “Realmente, Barbosa, que foi um grande goleiro do Vasco e terminou a carreira no Campo Grande na década de 60, sofreu muito com este gol. O Ghiggia virou herói no Uruguai e o Barbosa o vilão aqui. No lance do gol, o Ghiggia ameaçou cruzar, mas ele chutou, daí o Barbosa deu um passo para frente para tentar interceptar e a bola acabou passando. Ele foi muito criticado covardemente. Diferente do Júlio César, talvez porque não tenha falhando em nenhum dos sete gols. O Barbosa não falhou feio, mas falhou. Outra coisa, não era uma final. Em 2014 as críticas foram mais em cima do treinador [Felipão]”.
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