O caso de Gustavo Scarpa e Willian Bigode, que envolve investimento em criptomoedas, ganhou novo capítulo nesta semana. Em decisão da 10ª Vara Cível do Tribunal de Justiça de São Paulo, publicada na quinta-feira, Bigode se tornará réu no processo, junto com sua mulher e sócia Loisy Coelho e a outra sócia Camila Moreira de Biasi Fava na WLJC Consultoria e Gestão Empresarial.
Scarpa tenta reaver R$ 6,3 milhões do aporte financeiro da XLand, que teria "sumido" com o dinheiro do meia. O pedido, acatado pela Justiça, coloca Willian Bigode e suas duas sócias no polo passivo do processo. Segundo o juiz Daniel Fadel de Castro, a WLJC integra a mesma cadeia de fornecimento da XLand e, portanto, é vista como um polo passivo.
"É indiscutível nos autos a relação de consumo estabelecida entre as partes, consistente na prestação de serviços de intermediação para compra e venda de criptomoedas e custódia de valores por meio de depósitos operados por plataforma digital", afirma o magistrado. Com essa decisão, tanto Willian como suas sócias ficarão responsáveis por arcar com as perdas de Scarpa com a XLand.
Hoje no Athletico-PR, Willian iniciou sua relação de investimentos com Scarpa quando ambos atuavam no Palmeiras. Além deles, o lateral Mayke também move processo contra a XLand. O magistrado destacou que Scarpa não obteve sucesso na localização de bens das empresas que respondem pelo processo, sem conseguir garantias financeiras que pudessem satisfazer seu crédito.
"O fato de o contrato ser formalizado pelo autor apenas com a empresa Xland, não afasta a eventual responsabilidade solidária da WLJC, pelos alegados prejuízos materiais causados ao consumidor, eis que aproximou o cliente da prestadora de serviços e, portanto, participou da cadeia de fornecedores, sobrevindo daí, em tese, sua legitimidade solidária pelos danos porventura sofridos pelo consumidor", continua Castro.
Destaca-se, na decisão, que a empresa de Bigode atuou como interlocutora para convencer Scarpa a realizar o investimento em criptomoedas, com o aporte milionário da XLand. Em abril, o Estadão revelou troca de mensagens entre os jogadores, que compõem o conjunto probatório que a defesa de Scarpa juntou aos autos para demonstrar envolvimento da empresa de Willian na fraude.
"Ressalto que há extensas trocas de mensagens via aplicativo WhatsApp entre o autor e a sócia Camila, bem como entre o autor e o sócio Willian, sequer contestadas pelos réus, claramente intermediando as negociações de investimento, com o envio do contrato, orientação acerca dos valores para investimento e mesmo indicando a conta para os depósitos, a evidenciar captação", afirma o juiz, em sua decisão.
Há comprovação, inclusive, da evolução de relacionamento entre as partes, desde o início das negociações, com os depósitos, até o momento em que o autor se sentiu lesado
Daniel Fadel de Castro, juiz da 10ª Vara Cível do Tribunal de Justiça de São Paulo
A defesa de Willian, liderada pelo advogado Bruno Santana, deve entrar com recurso contra a decisão do magistrado ainda nesta sexta-feira. Em março, o atacante afirmou que também foi vítima na fraude e teria perdido teria perdido R$ 17,5 milhões em investimento semelhante ao dos ex-companheiros de Palmeiras.
A reportagem do Estadão entrou em contato com a defesa de Gustavo Scarpa, mas ainda não obteve resposta.
ENTENDA O CASO
O processo movido por Scarpa e Mayke aponta que partiu de Willian e de sua sócia Camila Moreira de Biasi a sugestão de investimentos na XLand, que ofereceria uma rentabilidade de 2% a 5% sobre o valor investido. Scarpa aplicou R$ 6,3 milhões, enquanto Mayke e sua mulher, Rayanne de Almeida, investiram R$ 4.583.789,31.
Os problemas com a XLand começaram em meados de 2022, quando os jogadores do Palmeiras tentaram resgatar a rentabilidade, mas não tiveram sucesso após seguidas negativas e adiamentos da XLand. Mais tarde, eles tentaram romper o contrato, mas também não receberam o valor devido.
Após seguidos contatos com os sócios da XLand, Jean do Carmo Ribeiro e Gabriel de Souza Nascimento, com Willian e Camila e um coach de gestão financeira, Marçal Siqueira, que tinha parceira com a empresa acriana, Scarpa e Mayke procuraram seus advogados e registraram um boletim de ocorrência. Desde então, o processo corre na Justiça paulista, ainda sem decisões proferidas sobre culpabilidade dos réus.
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