Ivan Toney, jogador do Brentford, foi suspenso pela Associação de Futebol da Inglaterra (FA, na sigla em inglês) na última semana após infringir 232 vezes o código de conduta que proíbe atletas de apostarem, no período entre 25 de fevereiro de 2017 e 23 de janeiro de 2021 - cinco temporadas, no total. Nesta sexta-feira, a entidade divulgou a decisão de um comissão reguladora independente sobre o caso, no qual indica que o atacante apostou 13 vezes na derrota de seu próprio time.
Das 232 apostas que Toney admitiu terem sido realizadas, 126 aconteceram em competições que o time do jogador participou naquela temporada - Campeonato Inglês, Copa da Inglaterra e Copa da Liga Inglesa, por exemplo. Destas, 29 foram direcionadas para o clube que o atacante estava inscrito ou emprestado à época.
Das 29 apostas no resultado do jogo, em 16 Toney apostou que seu time venceria. Ele veio a atuar em 11 destas partidas e esteve no banco de reservas em outra ocasião. O caso mais chocante são as 13 apostas restantes, no qual o atacante apostou na derrota do seu próprio time.
Segundo o relatório, Toney realizou 11 apostas em jogos do Newcastle, entre 2017 e 2018, quando ainda tinha vínculo com o clube, mas estava emprestado ao Wigan. Outras duas apostas, que totalizam as 13 que o atacante foi considerado culpado, ocorreram no duelo Wigan x Aston Villa, em 2017, pela segunda divisão do Inglês. A partida terminou com a vitória dos visitantes, resultado que favoreceu o atacante na aposta. Toney ficou fora desta partida.
Ainda há outras 21 apostas, realizadas por Toney, para que ele próprio ou outros jogadores marcassem gols nas partidas em questão. De acordo com a FA, estas, somadas às 29 em resultados dos duelos, foram as consideradas mais graves ao longo da investigação.
"O presente caso não envolve manipulação de resultados. Se fosse, as acusações teriam sido processadas sob disposições diferentes. Não há evidências de que o Sr. Toney tenha feito ou mesmo estivesse em posição de influenciar seu próprio time a perder quando ele fez apostas contra a vitória deles - ele não estava no time ou elegível para jogar no momento, conforme explicado", aponta a decisão da FA.
"A proibição de apostas no futebol pelos participantes (jogadores, treinadores e dirigentes) é necessária para proteger a integridade do jogo e manter a confiança do público no esporte. A percepção do impacto das apostas de futebol na integridade do jogo é uma consideração importante ao decidir sobre uma sanção", completou a entidade.
Nos depoimentos de Toney à FA, ele admitiu que utilizou contas de terceiros para realizar as apostas em plataformas na internet. No entanto, afirma que não tinha conhecimento da impossibilidade de apostar até 2018, quando defendia o Peterborough. "Vocês (FA) costumavam vir a Peterborough quando eu estava lá para dizer que não podemos apostar no futebol", disse o atacante.
"Eu me recordo de assistir a um vídeo e, naquele momento (no Brentford), eu passei a reconhecer que havia um prolema nas apostas que havia realizado nas partidas de futebol", apontou. Toney também admitiu que mentiu durante as investigações. Em outubro de 2022, afirmou que nunca havia realizado em apostas em partidas de futebol.
VÍCIO EM APOSTAS
Durante o julgamento, a FA chegou a considerar que Toney fosse suspenso por, no mínimo, 12 meses. Um dos pontos levados em consideração para a redução da pena, atualmente em oito meses de suspensão e multa de 50 mil libras (cerca de R$ 308 mil), foi o fato de que Toney foi diagnosticado com vício compulsivo em jogos de azar.
Philip Hopley, médico e consultor psiquiatra, foi ouvido pela FA e conversou com Toney em duas ocasiões nos últimos meses. Em conclusão, afirmou que o jogador tem um histórico de vício em apostas e é necessário que o atacante busque ajuda profissional para iniciar um tratamento. De acordo com o manifesto, Toney está a disposto a buscar auxílio.
O vício em jogos já é considerado como uma questão de saúde pública no Reino Unido. Recentemente, os clubes do Campeonato Inglês aceitaram retirar de seus uniformes qualquer menção a casas de apostas a partir da temporada 2026/2027.
James Grimes, de 33 anos, é o fundador do The Big Step, cuja finalidade é promover debates para o fim dos patrocínios de casas de apostas no futebol inglês. A ação já conta com o apoio de 30 clubes do futebol inglês. Ao Estadão, revelou que viveu um drama pessoal semelhante ao de Toney com vício em jogos.
"Supõe-se que este (o esporte) seja um lugar que forneça saúde, que fortaleça a comunidade, que forneça segurança, que proporcione diversão. Ele não deveria ser usado para promover algo que sabemos que destrói todas essas coisas", afirma. Na última temporada do Campeonato Inglês, 19 dos clubes tinham acordo com alguma casa de apostas. Oito destes, incluindo o Brentford, estampavam sua marca no patrocínio central do uniforme.
MANIFESTAÇÃO DE TONEY E DO BRENTFORD
Ivan Toney e Brentford se manifestaram nesta sexta-feira, após vir a público a decisão completa da FA. Ambos aceitaram a punição. Por meio de suas redes sociais, e o jogador apenas afirmou que "irá se pronunciar em breve, sem filtros". Já o clube teve uma postura de defender seu atleta, ao citar que, de acordo com a análise, Toney não impactou em nenhum dos eventos que apostou e espera receber o jogador de volta ao elenco ao fim da suspensão.
Toney poderá voltar a treinar com Brentford nos últimos quatro meses de sua suspensão, que se encerra no dia 16 de janeiro de 2024. Ele não é o primeiro jogador de futebol proeminente a ser penalizado por violar as regras do jogo. Em 2017, o ex-meio-campista do Manchester City e do Newcastle, Joey Barton, foi punido por 18 meses em 2017 depois de admitir ter feito 1.260 apostas relacionadas ao futebol durante um período de mais de dez anos.
Nesta temporada, Toney disputou 36 jogos pelo time inglês, com 21 gols e cinco assistências. Ele chegou a ser convocado pela seleção inglesa para as Eliminatórias da Eurocopa, em março.
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