Presença constante no noticiário e na mídia em geral, mesmo aposentado há 24 anos, Boris Becker mal saiu das páginas dos jornais do mundo, em dezembro, e já ganhou as telas do streaming. O controverso ex-tenista é o protagonista do documentário "Boom! Boom! The World vs. Boris Becker" ("O Mundo contra Boris Becker"), a ser lançado nesta sexta-feira, dia 7, pela Apple TV+.
A obra é dividida em duas partes, totalizando quase quatro horas de duração, mostrando a "ascensão e a queda" do alemão de 55 anos. E, ao contrário de outros documentários do tipo, este passa longe de preservar seu protagonista, do começo ao fim. O diretor Alex Gibney e o produtor John Battsek, ambos vencedores do Oscar por outras produções, não aliviam em nenhum momento.
Eles despem Becker desde a adolescência, quando se tornou um dos primeiros popstars do tênis mundial, ao se sagrar campeão de Wimbledon com apenas 17 anos - é o mais jovem a ganhar na grama inglesa até hoje. A obra traz diversos achados, caso de entrevistas antigas, recheadas de declarações fortes e, às vezes, impensadas de Becker. O contexto histórico da brilhante carreira do alemão, já conhecido por boa parte dos fãs de tênis, é a moldura de um quadro pintado pelo próprio ex-atleta em uma série de entrevistas ao diretor.
Nelas a ascensão e a queda de Becker se escancaram em sua própria imagem. Nas primeiras, ele aparece altivo, com postura ereta enquanto fala com orgulho sobre sua trajetória nas quadras. Os olhos brilham. Já nas entrevistas mais recentes o alemão parece uma fotografia esmaecida. Os cabelos antes loiros agora aparecem quase brancos, as rugas despontam na face e olhar é cabisbaixo. Brilham ainda, mas de lágrimas de tristeza.
Não por acaso. A última conversa foi gravada dois dias antes do julgamento em que Boris seria condenado a dois anos e meio de prisão por fraude fiscal, na Inglaterra - foi solto em dezembro, quando retornou ao noticiário, após oito meses de custódia. A cena, das mais intensas da obra, praticamente coloca o ex-tenista "de joelhos" diante das câmeras, entre lágrimas causadas pela angústia sobre o seu futuro.
O achado jornalístico, obra do acaso, é muito bem explorado pelo diretor, que transforma o documentário numa avaliação constante sobre a vida e o caráter do alemão. É tão implacável ao farejar as controvérsias, incoerências e contradições do protagonista, que, no mundo dos esportes, só é comparável à biografia do americano Andre Agassi, que se desnuda de forma impressionante a cada página do livro publicado em 2010.
A produção do documentário teve acesso direto a Becker por mais de três anos, até abril do ano passado, quando o dono de seis títulos de Grand Slam foi condenado pela Justiça britânica por ocultar bens e empréstimos para não pagar dívidas milionárias.
O diretor também apresenta entrevistas exclusivas com alguns dos principais rivais do alemão, como o americano John McEnroe, o sueco Mats Wilander e o compatriota Michael Stich, além do ídolo sueco Bjorn Borg e do pupilo sérvio Novak Djokovic, a quem treinou por três anos, até 2016.
O fã de tênis terá diante de si um prato cheio sobre boa parte da história do tênis dos anos 80 e 90. Desfilam pela tela o sueco Stefan Edberg, o próprio Agassi, Borg, além de Djokovic e Roger Federer, entre aces e ralis do fundo de quadra. De quebra, é possível saborear as ricas e esclarecedoras declarações do romeno Ion Tiriac, ex-técnico de Becker e uma daquelas lendas do tênis que se tornaram mais famosas pelo que fizeram fora de quadra.
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