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Comerciantes em volta da Arena do Grêmio vivem insegurança: ‘Não posso esperar jogos voltarem’

As ruas do bairro Humaitá, na zona norte de Porto Alegre, ainda são caminho até a Arena do Grêmio. Diferente dos dias de jogos, em que as vias são tomadas por gremistas, há entulhos de lixo e sujeira levada até ali pelas águas do Guaíba, no que foi a maio

(via Agência Estado)

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Escrito por (via Agência Estado)
Publicado em 11.06.2024, 20:15:00 Editado em 11.06.2024, 20:19:44
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As ruas do bairro Humaitá, na zona norte de Porto Alegre, ainda são caminho até a Arena do Grêmio. Diferente dos dias de jogos, em que as vias são tomadas por gremistas, há entulhos de lixo e sujeira levada até ali pelas águas do Guaíba, no que foi a maior enchente da história do Rio Grande do Sul. Quem trabalha no entorno do estádio e vive do movimento dos jogos encara agora a insegurança de não ter renda.

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Um dos locais mais tradicionais de concentração pré-jogo é o Bar DJulia, bem em frente à Arena. Lá, a água alcançou cerca de 2,15 metros. Os engradados de cerveja fechados estão sujos de barro. O local é administrado por Jéssica da Silva Bueno, de 33 anos. Além dela, outras sete pessoas da família dependem da renda do estabelecimento, um deles é um idoso de 97 anos, além de duas crianças. Em dias de jogos considerados grandes, Jéssica aponta que o faturamento chega em até R$ 15 mil, mas a média gira entre R$ 3 mil e R$ 4 mil.

O bar virou um ponto de produção e distribuição de marmitas. São 500 'quentinhas' doadas diariamente junto à Associação Comunitária Quintana. Enquanto participa de ações voluntárias, Jéssica se vê sem ideia sobre o que vai acontecer. "Não posso esperar o jogo voltar. Não tenho ideia de renda para o próximo mês. E não se sabe nem como vamos retomar."

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Na quadra ao lado, o casal Denilson Braga, 29, e Taís Silva, 30, trabalhava em dias de jogos com venda de bebidas. Eles também alugavam a churrasqueira da própria casa por R$ 250 para grupos de torcedores que faziam o chamado 'alentaço' antes das partidas. Ele trabalha como pintor, e ela é caixa de loja. A mobilização a cada partida era renda extra e entregava um faturamento entre R$ 2 mil e R$ 2,5 mil, em média. Em jogos decisivos, isso chegava em até R$ 5 mil.

Quando questionados se pretendem retomar o negócio, ambos respondem em uníssono que sim. "Por enquanto, não é a renda principal, mas queremos que seja", conta Denilson. As vendas são feitas em uma parte externa, próxima à churrasqueira. Atrás, é a casa onde eles moram, que ficou submersa. Eles ainda não voltaram para lá de fato, já que perderam móveis, inclusive cama.

O relato é de abandono da região. "Falta olhar para cá, tanto das empresas, quanto poder público", desabafa Jessica.

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CENÁRIO CAÓTICO

Diferente de regiões centrais e na zona sul ainda há muito lixo nas ruas e avenidas da zona norte. Elas continuam tomadas por barro e forte cheiro de esgoto. A região historicamente tem infraestrutura pior em relação a outros locais da capital gaúcha e abriga, em boa parte, população mais vulnerável.

Nesta terça-feira, retroescavadeiras e caminhões do Exército Brasileiro atuavam na limpeza. O Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) indicou três locais do Humaitá que receberam ações ainda pela manhã. O órgão tem 400 agentes, além de outros 3,5 mil cooperados da Cootravipa e 500 funcionários de uma empresa privada.

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"(Avançamos) em outros bairros como Cidade Baixa, Menino Deus, Centro Histórico. Estão praticamente concluídos. Essa força de trabalho, estamos colocando toda na Zona Norte. Foi a última área que a água baixou. Já passamos pelo Humaitá, mas pessoas precisaram fazer novos descartes. Lá na Zona Norte, as pessoas não perderam só objetos, perderam casas", explicou o diretor-geral do DMLU, Carlos Alberto Hundertmarker.

Ele afirma que entende a "sensação de abandono" citada por moradores da região, mas garante a atuação efetiva. "As pessoas veem muito volume e acham que o poder público não esteve lá. Mas já fomos e estamos voltando. É uma sensação visual e de perda dos objetos, psicológico abalado. Perderam memórias afetivas."

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No último domingo, a Arena do Grêmio sediou um mutirão para facilitar acesso a serviços sociais para moradores dos bairros Humaitá, Anchieta e Farrapos. Além de a água ter tomado grande parte da região, o escoamento foi mais demorado que em outros pontos da cidade. Na ação feita na casa do tricolor gaúcho, 2 mil pessoas foram atendidas, e o serviço mais procurado foi a confecção de novas carteiras de identidade pelo Instituto Geral de Perícias (IGP), já que o desastre fez com que documentos fossem perdidos. No sábado, Grêmio e ONGs, junto da marca de produtos de limpezas Ypê esperam reunir 2 mil voluntários para limpeza próximo da Arena.

ÚLTIMO LUGAR A VER ÁGUA BAIXAR

O Departamento Municipal de Águas e Esgotos (Dmae) foi criticado sobre o atendimento na Zona Norte da capital gaúcha. A demora para ações de escoamento foi um dos pontos apontados. Em uma publicação no dia 27 de maio, o órgão afirmou que "a comunidade do Humaitá não estava desassistida". Foi citado que uma bomba de drenagem cedida pela Sabesp seria especialmente deslocada para a região.

Dois dias depois, a operação acelerou com o equipamento extra. A falha no abastecimento de geradores da casa de bombeamento do Humaitá, porém, mostrou a fragilidade do sistema de drenagem, como já havia sido evidenciado em outros pontos da cidade. O diretor-geral do Dmae, Maurício Loss, informou o caso quando já havia sido solucionado. "Esses geradores pararam de funcionar, mas já abastecemos de maneira manual. A bomba da Sabesp já está funcionando. Temos duas bombas aqui na casa, faltando apenas mais um gerador em operação para funcionar o terceiro grupo e seguir bombeando água aqui do Humaitá", disse em vídeo publicado nas redes sociais do órgão.

O Grêmio não tem previsão de voltar a mandar jogos na Arena. O time encontrou acolhimento no Couto Pereira. Os CTs de Grêmio e Internacional também sofreram e ficaram embaixo dágua. Os jogadores colorados têm atividades em outra instalação, o CT de Alvorada, normalmente utilizado pelas categorias de base. Já os gremistas treinam nas instalações do Corinthians. O próximo compromisso do tricolor gaúcho é nesta quinta-feira, 13, contra o Flamengo, no Maracanã.

A enchente que atingiu o Rio Grande do Sul no mês de maio foi a pior da história do Estado. Dos 497 municípios gaúchos, 478 foram afetados. Até o momento, conforme o último boletim da Defesa Civil, atualizado na segunda-feira, 9, 423 mil pessoas continuam desalojadas, e 38, desaparecidas. Ao todo, foram 173 mortes em decorrência da tragédia.

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