O nome de Javier Tebas, presidente da LaLiga (organizadora do Campeonato Espanhol), ganhou destaque na imprensa brasileira nos últimos dias. Ele discutiu com Vinícius Júnior por meio das redes sociais após ser cobrado pelo jogador do Real Madrid e da seleção brasileira por mais ações no combate ao racismo e concedeu entrevista coletiva na quinta-feira para dar explicações sobre os seguidos ataques racistas ao atacante no futebol da Espanha, prometendo trabalhar para punir os infratores.
Presidente da LaLiga desde 2013, Tebas ganhou notoriedade como advogado de 11 clubes diferentes da Espanha ao longo de sua carreira. Antes de chefiar a liga do futebol espanhol, ocupou o cargo de vice, em 2001, e chegou a presidir o modesto Huesca, em 1993. Ele também teve participação ativa nas negociações da venda dos direitos de televisão do bloco com os 30 principais times do país (G-30) e na reestruturação econômica das equipes.
Nascido na Costa Rica, Tebas, de 60 anos, também é conhecido pelo seu passado obscuro. Enquanto estudava Direito na Universidade de Zaragoza, ele foi filiado ao partido Fuerza Nueva, que surgiu durante a redemocratização da Espanha e tinha como premissa defender o legado do ditador espanhol Francisco Franco. Em 2019, o presidente da LaLiga declarou publicamente ser apoiador do Vox, partido da direita radical.
A discussão com Vini Jr. no Twitter trouxe à tona a antiga relação do presidente da LaLiga com o franquismo e o nacionalismo, com diversos torcedores colocando em dúvida a capacidade de Tebas lidar com um tema tão sensível como o racismo. Quando Vini Jr. acusou Tebas de omissão por não agir para dar fim a episódios de discriminação, Tebas rebateu dizendo que a Espanha não é um país de racistas e que o brasileiro "deveria se informar corretamente antes de criticar a competição".
Após o incidente mais recente com Vini Jr. ganhar repercussão mundial, Tebas convocou uma coletiva nesta quinta-feira para falar sobre como a LaLiga pretende se movimentar contra os casos de racismo no futebol espanhol. Ele afirmou que a liga emitirá um comunicado nesta sexta-feira pedindo aos partidos políticos e aos membros do Congresso uma "modificação urgente" na Lei 19/2007, que versa sobre crimes de ódio e discriminação", pedindo competência para agir e punir infrações por racismo, homofobia e xenofobia no futebol do país.
O chefe da entidade defendeu ainda a possibilidade da perda de pontos em caso de discriminação e afirmou que errou a rebater Vini Jr. nas redes, demonstrando apoio ao brasileiro pela postura contra os racistas. "Vinícius e eu temos uma história muito importante lutando contra o racismo. Luta contra qualquer tipo de insulto que se faça no estádio. Precisamos defendê-lo e a nossa competição", disse o dirigente. "Se ele se sentir que está sendo contra sua honra, sua condição... Ele e sua equipe, em contato com o árbitro, eu apoiaria pessoalmente, e a LaLiga também", completou.
ENTENDA O CASO
Vini Jr. foi chamado de "mono" ("macaco", em Espanhol) pela torcida do Valencia aos 27 minutos do segundo tempo da partida realizada no domingo. O brasileiro reclamou com o árbitro Ricardo de Burgos Bengoechea e o jogo foi paralisado por nove minutos. O confronto seguiu com o brasileiro revoltado e desestabilizado pelos rivais em campo.
Na reta final da partida, Vini se desentendeu com o goleiro Giorgi Mamardashvili e acabou expulso por acertar a mão no rosto do atacante Hugo Duro, mesmo tendo levado um mata-leão do jogador adversário, que não foi focado pelo VAR. Ao deixar o gramado, o atacante fez um "dois" com os dedos, em referência à luta do time contra a queda para a segunda divisão espanhola.
O incidente teve repercussão mundial após Vini Jr. criticar a LaLiga pela falta de ações no combate ao racismo. O episódio gerou revolta no Real Madrid, cujo técnico Carlo Ancelotti dedicou sua entrevista coletiva inteira para falar sobre o caso de racismo ao fim daquela partida. A polêmica aumentou quando Tebas criticou Vinícius por ter reclamado da postura da entidade diante dos casos de racismo.
Vini Jr. é sistematicamente perseguido por jogadores e torcedores adversário há pelo menos duas temporadas. Recentemente, o brasileiro depôs na Justiça espanhola no âmbito do caso em que foi xingado de "macaco" por um torcedor do Mallorca em fevereiro deste ano. "Não foi a primeira vez nem a segunda nem a terceira. O racismo é o normal na LaLiga. A competição acha normal, a federação também e os adversários incentivam. Lamento muito. O campeonato que já foi de Ronaldinho, Ronaldo, Cristiano e Messi hoje é dos racistas", afirmou o atleta em seu perfil no Twitter.
O brasileiro ainda alertou para a imagem que a Espanha passa para o exterior ao permitir que tais ataques aconteçam na maior competição esportiva da nação. "Uma nação linda, que me acolheu e que amo, mas que aceitou exportar a imagem para o mundo de um país racista. Lamento pelos espanhóis que não concordam, mas hoje, no Brasil, a Espanha é conhecida como um país de racistas."
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