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Campeonato Inglês tem quase 70% de estrangeiros no mês dos 45 anos da abertura do mercado

Imagine o atual campeão do Campeonato Inglês, Manchester City, sem o belga Kevin De Bruyne, o espanhol Rodri, o norueguês Erling Haaland e o brasileiro Ederson. Ou, então, o Liverpool, outro gigante, proibido de contar com o holandês Virgil van Dijk, o eg

Marcius Azevedo (via Agência Estado)

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Escrito por Marcius Azevedo (via Agência Estado)
Publicado em 11.07.2023, 22:45:00 Editado em 11.07.2023, 22:50:08
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Imagine o atual campeão do Campeonato Inglês, Manchester City, sem o belga Kevin De Bruyne, o espanhol Rodri, o norueguês Erling Haaland e o brasileiro Ederson. Ou, então, o Liverpool, outro gigante, proibido de contar com o holandês Virgil van Dijk, o egípcio Mohamed Salah, o português Diogo Jota ou o colombiano Luis Díaz. Se hoje ter os principais nomes do futebol mundial desfilando nos seus gramados é motivo de orgulho, os ingleses não pensaram sempre assim. Durante um longo período da história jogar na Inglaterra sem ser britânico era algo proibido e combatido por dirigentes e clubes locais.

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Um dos maiores exemplos é o do goleiro austríaco Rudi Hiden. Em 1930, o titular do histórico "Wunderteam", seria contratado pelo Arsenal, mas foi impedido de entrar no país. O episódio veio de encontro a um movimento liderado por Charles Sutcliffe, presidente do Burnley e homem com grande influência na Federação Inglesa de Futebol (FA) e no sindicato dos jogadores. Ele fazia campanha e pedia a proibição da importação de talentos.

E foi o que a FA considerou ser melhor na época. Embora houvesse brechas com jogadores nascidos em países que haviam sido colônias britânicas como Austrália, Canadá, Jamaica ou África do Sul, que não contavam como estrangeiros ou raras exceções que conseguiam atuar por lá, a liberação total para a entrada dos forasteiros demorou e teve de ser construída aos poucos.

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O primeiro passo foi dado no dia 1º de janeiro de 1973, o Reino Unido aderiu ao Mercado Comum Europeu (atual União Europeia). Cinco anos depois, no dia 23 de fevereiro de 1978, em uma reunião da organização em Bruxelas, na Bélgica, ficou decretado que seus países membros não poderiam criar barreiras para as transferências no futebol tendo como base as nacionalidades.

A FA, então, reviu sua legislação e após a Copa do Mundo de 1978, na Argentina, o Campeonato Inglês daquela temporada, há 45 anos, trouxe os primeiros estrangeiros.

Os argentinos Ossie Ardiles e Ricky Villa, campeões mundiais com sua seleção naquele ano, por exemplo, foram contratados pelo Tottenham. É verdade, contudo, que mesmo após a liberação, a invasão estrangeira só passou a ter início após o campeonato passar a ser organizado pelos clubes e se tornar a Premier League. Na primeira edição em 1992/1993, 13 atletas não britânicos ou irlandeses iniciaram o torneio.

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TEMPORADA 2022/23 TEVE 502 ESTRANGEIROS

De lá para cá, contudo, o número de estrangeiros no país só cresce. Segundo números do Transfermarkt, 840 jogadores participaram do Inglês na temporada 2022/23, sendo que destes 502 eram estrangeiros. Ou seja, quase 60% dos atuantes na liga vieram de outros países.

O plantel com mais jogadores de fora foi o Wolverhampton que contou com 34 de 43 atletas, 79% do elenco foi formado por jogadores vindos de outros países. Apenas duas equipes tiveram menos da metade dos jogadores de seus plantéis com estrangeiros. Quem teve um grupo formado com o menor número de jogadores nascidos fora da Inglaterra foi o Crystal Palace, que contou com 19 jogadores de um total de 39 (48,7%), seguido pelo Bournemouth que tinha 23 estrangeiros de 49 atletas (48,9%).

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Para a temporada 2023/2024, o número promete ser ainda maior. Neste momento, segundo o Transfermarkt, o Inglês se prepara para iniciar com 587 jogadores, sendo 401 deles estrangeiros, ou seja, 68,3% dos atletas vêm de fora da Inglaterra. A janela de transferências, contudo, continua aberta até o próximo dia 1º de setembro, o que possibilita que esse número possa ser ainda maior até o início do torneio.

"Houve aumento na promoção do campeonato. Se ganhou em qualidade do jogo, intensidade e competitividade e os melhores do mundo passaram a ser recrutados para atuarem lá. Isso trouxe mais emoção na disputa pelas vitórias, aumento do público nos estádios e garantiu maior faturamento com televisão, público e marketing", afirmou Sandro Orlandelli, brasileiro com certificado da FA na identificação de talentos.

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Ele trabalhou no Arsenal por dez anos entre 2002 e 2010, como head scout, sendo responsável direto por buscar jogadores e mapear o mercado para o técnico francês Arsène Wenger. Ele também atuou em função semelhante no Manchester United entre 2016 e 2020. Para ele alguns benefícios importantes foram conquistados com a chance de receber mais gringos nos gramados ingleses.

"O futebol inglês sofreu uma mudança absurda em sua forma de se portar em campo. E eu pude participar com o Wenger, que tinha a ideia de colocar a bola no chão. Era esse o objetivo dele e ele conseguiu. Ele foi o primeiro treinador na Inglaterra a colocar a bola no chão. Antes disso, o jogo era só verticalizado e uma luta pela segunda bola", afirmou Orlandelli, que participou na descoberta de talentos como o meio-campista espanhol Cesc Fábregas e o atacante holandês Van Persie.

O intercâmbio permitiu ainda uma renovação na formação de jogadores ingleses que passaram a servir à seleção. "Se por um lado existe uma desvantagem já que a quantidade de jogadores que ganharão oportunidade no time é menor, por outro existe um ganho absurdo no desenvolvimento e evolução dos atletas, uma vez que você treina, joga e compete no dia a dia com os melhores jogadores do mundo."

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Armênio Neto, especialista em negócios do esporte e sócio-fundador da Let!sGoal, empresa que conecta marcas, atletas, clubes e competições, reforça: "Foi preciso se reinventar a partir da tragédia de Heysel (em 1985) e consequente suspensão das equipes inglesas dos campeonatos europeus por cinco anos. Os times precisaram se unir, criar a oportunidade a partir do caos. E quando você tem uma liga séria, melhora a estrutura, se cerca de bons profissionais, cria um produto de qualidade e o aperfeiçoa ao longo do tempo, o círculo virtuoso é inevitável. O jogo melhora, a audiência sobe, os direitos valem mais, bilheteria cresce, patrocínios se valorizam e a capacidade econômica dos times vai junto. Os melhores jogadores vão para os melhores campeonatos e times em que ganham mais."

TIMES MENORES TAMBÉM INVESTEM

A divisão financeira de maneira mais equilibrada conquistada pela organização do campeonato foi um dos principais trunfos para que clubes menores também conseguissem participar do mercado e pudessem se tornar um atrativo, sobretudo, para os jogadores estrangeiros de seleção menores.

Atualmente os times recebem 50% da verba de forma igual, 25% levando em consideração o resultado esportivo no ano anterior e 25% de acordo com a audiência gerada pelo clube. Em balanço que divulgou sobre a temporada 2021/2022, a Premier League mostrou que, ao todo, foram distribuídos aproximadamente R$ 15 bilhões. Enquanto o City, equipe que mais faturou, levou R$ 916,5 milhões, o Norwich, clube que ficou com a menor fatia, arrecadou R$ 602,3 milhões.

"Quando se diminui a diferença de valores recebidos entre os clubes, a competição ganha força e mais equipes conseguem ter receitas relevantes para contratar atletas de qualidade. Por isso, é comum vermos bons nomes estrangeiros até mesmo em times modestos, como é o caso de Philippe Coutinho no Aston Villa, uma agremiação que, apesar de ser tradicional, não vence um título nacional desde 1996?, afirma Rogério Neves, CEO da Motbot, plataforma que atua com crowdfunding esportivo.

Thiago Freitas, da Roc Nation, empresa do cantor Jay-Z especializada em gerenciar carreira de atletas e artistas, que no Brasil é responsável por cuidar da imagem de Endrick e na Inglaterra possui em seu portfólio o brasileiro Gabriel Martinelli, do Arsenal, avalia: "O futebol inglês atrai estrangeiros por uma combinação de fatores. O primeiro, econômico. A Inglaterra é um país rico, e seus clubes têm por isso, torcedores mais ricos que os dos demais países, e que geram bilheteria e outras receitas em maior volume. Além disso, a reunião de estrangeiros fez crescer exponencialmente as receitas oriundas de transmissão da Premier League. Em um ambiente de competição, seja por título ou manutenção nessa liga, a maior de toda essa receita crescente é direcionada para os salários de quem é tido como importante para se vencer seus jogos."

Segundo Freitas, outro benefício importante além de se ter os melhores atuando no seu país, é o de que, quando se busca os melhores de diferentes países, é possível atrair para a sua competição a audiência dos fãs desses atletas, nos seus países de origem. "Você faz dos seus jogos, eventos de relevância em diferentes países, mesmo que neles, você não tenha torcedores dos seus clubes."

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