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Amigos tentam entender morte de surfista que ensinou a viver intensamente

ADRIANO WILKSON E BEATRIZ CESARINI SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) - As lágrimas de um grupo de surfistas profissionais se misturaram ao mar do Havaí na tarde do último sábado (25) enquanto eles choravam a morte de um amigo próximo. Tinha dado off, o que n

Da Redação

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Escrito por Da Redação
Publicado em 26.11.2017, 11:50:00 Editado em 26.11.2017, 11:50:21
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ADRIANO WILKSON E BEATRIZ CESARINI

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SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) - As lágrimas de um grupo de surfistas profissionais se misturaram ao mar do Havaí na tarde do último sábado (25) enquanto eles choravam a morte de um amigo próximo. Tinha dado off, o que na linguagem deles significava que, por falta de ondas no mar, não haveria competição. Eles fizeram uma roda e rezaram por Jean da Silva, o surfista catarinense que havia sido encontrado sem vida em sua casa, em Joinville, na noite anterior.

No meio da homenagem, Willian Cardoso, que cresceu ao lado de Jean nas ondas do litoral catarinense, percebeu que chovia. E que enquanto a chuva apertava, por trás das nuvens surgia um arco-íris. “Estava todo mundo devastado”, contou ele horas depois. “Quando a chuva parou e o sol clareou, o arco-íris ficou mais forte.”

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Sobram dúvidas a respeito das circunstâncias da morte de Jean, e seus amigos mais próximos se afligem ao refletir sobre os últimos meses de vida do rapaz de 32 anos, bonito, sorridente, atlético, viajado. Patrocinado por uma marca de roupas esportivas, ele parecia passar por um momento estável na carreira e na vida pessoal. Adorava cozinhar e caçar ondas gigantes ao redor do mundo.

Tinha passado recentemente alguns meses em Mentaway, um arquipélago paradisíaco na Indonésia famoso por suas ondas, surfando e conhecendo melhor a cultura local. “Se tem uma coisa que ele me ensinou”, diz Petterson Thomaz, um de seus amigos mais próximos, “foi a viver a vida intensamente.”

Jean foi campeão brasileiro de surfe em 2010. Atleta profissional desde a adolescência, era bastante competitivo, mas ultimamente tinha se dedicado a uma jornada de autoconhecimento. Vinha surfando, cada dia mais, apenas pelo prazer de se comunicar com o mar. Praticava ioga, estudava formas de alimentação saudável, dedicava-se a sua religiosidade e convidava os amigos a provar sua especialidade na cozinha, o poke, um prato havaiano a base de atum cru e óleo de gergelim. “Não tinha cara mais humilde e gente boa no circuito do surfe do que o Jean”, diz o produtor de eventos André Zavarize, que o conheceu no ano em que ele se tornou o melhor surfista do país. “O cara era um monstro na água, voava, mas tratava todo mundo de igual para igual. Ele chegava e dizia: ‘Ô André, posso pegar essa fruta? Posso pegar uma caixinha de cerveja pra comemorar?’ E eu: ‘Cara, você é campeão brasileiro, você pode fazer o que quiser!’”

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André considerava Jean um irmão e diz que o surfista catarinense tinha uma vida muito confortável. “Em alguns anos chegou a viajar para uns 30, 40 países, para surfar”, afirma ele. “Eu não encontrava tanto o Jean ultimamente, mas curtia as fotos na internet. Fico pensando se ninguém nunca percebeu uma faísca do fogarel que podia estar consumindo ele por dentro.”

NÔMADE DAS ONDAS

Conhecido como “Magrinho”, Jean é lembrado como alguém que faria qualquer coisa para estar em cima de uma boa onda. Vivia como uma espécie de nômade moderno, estabelecendo-se na casa de amigos e conhecidos que moravam perto de praias importantes para o mundo do surfe.

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Um dia, na Indonésia, depois de semanas de mar calmo, ele soube que havia previsão de swell, um fenômeno causado por tempestades e ventanias no meio do oceano que gera ondas limpas e altas no litoral. O sonho de todo surfista. Mas para Jean, havia dois problemas: ele tinha passagem marcada de volta para o Brasil e sofria como uma lesão no tímpano. Com a certeza da chegada do swell, não pensou duas vezes: adiou sua viagem e foi se consultar com um curandeiro local em busca de um tratamento alternativo para seu ouvido. “Deu as melhores ondas daquele lugar em 20 anos, ondas gigantes, de três a quatro metros”, lembra Petterson Thomaz. “Foi uma lição que ele me deu, ele acreditou que poderia melhorar e melhorou e deu aula de surfe durante esses três dias. Era a minha primeira vez lá e o mar estava gigante. Eu nunca tinha pegado ondas daquele tamanho. Eu estava com muito medo, mas ele me deu confiança para conseguir ir ao mar. Ele sempre me puxou ao meu limite.”

Jean competia na divisão de acesso do circuito mundial. Willian Cardoso, que recentemente passou para a principal, caiu na água com o amigo no começo de novembro em Maresias (SP). Ele lembra que os dois entraram no mar juntos: “Ele saiu em primeiro e eu em segundo. Nos abraçamos e foi isso. A gente tava nessa desde moleques, vivendo a mesma paixão por essa vida louca que o surfe nos dá.”

Durante o último sábado, sua morte foi lamentada publicamente pelos principais nomes do surfe brasileiro, como Gabriel Medina e Adriano de Souza, o Mineirinho, que disse que Jean foi um dos responsáveis por melhorar o seu próprio desempenho.

Ainda não há informação oficial sobre a causa da morte do surfista, que não deixa filhos e estaria lutando contra depressão. “Eu prefiro acreditar que ele cumpriu a missão dele aqui na Terra”, diz Petterson, “que foi mostrar como viver durante 32 anos de maneira intensa. Ele não parava um minuto, seja competindo, seja viajando. Se ele estava na cozinha, ele gostava de fazer o melhor prato para te deixar feliz, se ele conversava contigo, ele te observava atentamente para aprender algo com você. É assim que quero lembrar dele.”

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