MAIS LIDAS
VER TODOS

Esportes

Flávio Adauto destoa do mercado e não cobra para dirigir futebol corintiano

ALEX SABINO SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Escolhido para diretor de futebol do Corinthians em outubro de 2016, Flávio Adauto, 69, foi ao cartório. Levou cópias de todas as escrituras de imóveis que possui, extratos bancários e de investimentos. Autenticou

Da Redação

·
Escrito por Da Redação
Publicado em 24.11.2017, 03:00:00 Editado em 24.11.2017, 03:00:10
Imagen google News
Siga o TNOnline no Google News
Associe sua marca ao jornalismo sério e de credibilidade, anuncie no TNOnline.
Continua após publicidade

ALEX SABINO

continua após publicidade

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Escolhido para diretor de futebol do Corinthians em outubro de 2016, Flávio Adauto, 69, foi ao cartório. Levou cópias de todas as escrituras de imóveis que possui, extratos bancários e de investimentos. Autenticou tudo e enfiou em um envelope. Saiu de lá para a sala do diretor de finanças, Emerson Piovezan, seu amigo de infância.

"Coloca isso no cofre do clube", pediu o cartola.

continua após publicidade

Era prevenção porque, segundo ele, quando alguém entra no futebol, começam os boatos de que "é ladrão."

"Disse para mim mesmo: enquanto eu estiver no Corinthians, não vou trocar de carro. Se troco, começaria o falatório", completou, em entrevista à reportagem na última quarta (22), em sua sala no CT Joaquim Grava.

Jornalista com sete Copas do Mundo no currículo e passagens por jornais, rádios e TVs de São Paulo, Flavio Adauto nadou contra a corrente no futebol brasileiro. Na época dos executivos bem remunerados, ele foi campeão brasileiro e paulista de 2017 como cartola à moda antiga.

continua após publicidade

"Sou amador, não é? Mas meu comprometimento foi de profissional. Estive todos os dias no centro de treinamento, até mesmo em 23 de dezembro do ano passado. O celular é meu, a gasolina do carro eu que ponho e quando vou almoçar com alguém para falar sobre o clube, pago com o meu dinheiro", afirma.

O Corinthians também tem um gerente profissional, o ex-lateral Alessandro Nunes. "Ele não é bom, é excepcional", elogia o diretor. Mas a presença de Adauto na comissão técnica como representante do presidente inspira reivindicações parecidas na concorrência.

O conselheiro Mustafá Contursi, uma das pessoas mais influentes do Palmeiras, defende que o clube precisa ter "um Flavio Adauto" para balancear o poder de Alexandre Mattos, que tem o título de diretor de futebol, mas desempenha papel de executivo remunerado.

continua após publicidade

"Soube [da declaração de Contursi]. Fiquei envaidecido, mas ter alguém que representa a diretoria não invalida a presença de profissional que faça o primeiro contato."

Adauto fala pelos cotovelos e reconhece isso. É herança dos tempos em que foi repórter, editor e comentarista. Quando precisa pedir algo para a secretária, não usa o telefone interno do CT. Levanta-se da mesa, abre a porta da sala e diz.

continua após publicidade

"Eu gosto de gente. Minha vida inteira foi assim."

Seu celular vibra a cada minuto com mensagens. Depois de o Corinthians ser campeão brasileiro, recebe vídeos, áudios e textos do início de 2017. Todos colocando em descrédito o elenco e Fábio Carille. Material que ele garante estar vendo pela primeira vez. Em janeiro, quando as perspectivas não eram boas, não quis saber.

GRAÇA

continua após publicidade

Só prestou atenção no que foi dito quando aconteceu o anúncio de que seria diretor. Uma das acusações que recebeu foi de ser um amador no futebol profissional.

"Achei graça. Muita graça. Porque os que disseram isso não tinham a vivência no esporte que eu tive. Aprendi com os melhores do mundo."

O conhecimento de Adauto no ambiente da bola vem de privilégio que ele mesmo admite não ser acessível aos jornalistas atuais: conviver com jogadores e técnicos.

continua após publicidade

A simples menção de um nome como o de Rubens Minelli, treinador que hoje está com 88 anos, traz lembranças de viagens de carro após partidas em que o assunto era apenas o futebol. O mesmo vale para Telê Santana e Oswaldo Brandão.

"O Sócrates ia na minha casa, chegava com engradado de cerveja às nove da noite e ia embora às quatro da manhã. Essa convivência com jogadores e técnicos que eu tive como jornalista, vocês, da nova geração, não têm. Para chegar no atleta agora tem de passar por dez pessoas", diz.

continua após publicidade

Antes de falar sobre o futuro, Adauto sempre faz referência ao passado. Usa sua memória quase fotográfica para lembrar de eventos. Recorda-se dos livros sobre a 2ª Guerra Mundial que Minelli usava para montar as formações táticas de suas equipes.

Conselheiro vitalício, admite estar afastado do Parque São Jorge porque quis fazer do Centro de Treinamento a sua casa. Ressalta que o único jogo em que não esteve presente neste ano foi em Mirassol, pelo Paulista.

"Levei um tombo e não poderia ficar cinco horas sentado no ônibus. Mas fui em todos os outros. Todos!"

continua após publicidade

Reapareceu no clube para ajudar a enterrar o impeachment do presidente Roberto de Andrade, no início deste ano, que qualifica como uma "bobagem".

Ele usa a palavra "anteparo" para definir seu papel na temporada do Corinthians. É também o que acredita ser a função do diretor de futebol. Absorver críticas que não podem chegar aos jogadores e receber as demandas que precisam ser levadas para o presidente. De preferência, com a resolução já encaminhada.

SAÍDAS

Uma das decisões foi não negociar nenhum jogador durante o ano. Sabe ter descontentado integrantes do elenco por causa disso. Guilherme Arana, Rodriguinho e Balbuena receberam sondagens de clubes do exterior. Poderiam ganhar mais dinheiro.

"No início, ficaram emburrados. Mas quando vencemos o Paulista, entenderam. O Rodriguinho disse ter sido a melhor coisa que aconteceu para ele [ter ficado]."

Agora chegou a hora da conta e Adauto não consegue negar. A saída de algumas peças da equipe campeã nacional será inevitável. "No máximo três", admite.

Guilherme Arana deverá puxar a fila. O cartola sabe que vai sair em fevereiro, após a eleição do novo presidente, mas será responsável pela contratação de reforços.

O perfil vai ser o mesmo de 2017. Jogadores que o Corinthians não tenha de pagar para quebrar contratos, dispostos a receber bom salário, mas nada astronômico, e a estar na vitrine do clube que vai entrar na Libertadores como um dos favoritos.

Negociações acontecem e os nomes são conversados com Carille e Alessandro, que realiza o contato inicial. É quando o diretor tem de fazer o que menos gosta: ter reuniões com os empresários.

"Acho que sou mal visto pelos agentes. Fui uma pedrinha no sapato deles porque sempre disse 'não' para aquilo que não era bom para o Corinthians. Esse negócio de que quando o jogador quer ir embora ninguém segura é mito. Quando o jogador quer ir embora, você conversa com ele para ficar", afirma. É conclusão obtida com experiências acumuladas por quem foi visto como amador. E que o moldaram para ser diretor do futebol.

"Quer saber? Eu fiz do meu jeito. Não fui procurar saber como os outros faziam. Acho que deu certo, né?"

Gostou desta matéria? Compartilhe!

Icone FaceBook
Icone Whattsapp
Icone Linkedin
Icone Twitter

Mais matérias de Esportes

    Deixe seu comentário sobre: "Flávio Adauto destoa do mercado e não cobra para dirigir futebol corintiano"

    O portal TNOnline.com.br não se responsabiliza pelos comentários, opiniões, depoimentos, mensagens ou qualquer outro tipo de conteúdo. Seu comentário passará por um filtro de moderação. O portal TNOnline.com.br não se obriga a publicar caso não esteja de acordo com a política de privacidade do site. Leia aqui o termo de uso e responsabilidade.
    Compartilhe! x

    Inscreva-se na nossa newsletter

    Notícia em primeira mão no início do dia, inscreva-se agora!