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Acusado de ser agente da propina, ex-Globo criou modelo da emissora

SÉRGIO RANGEL RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Marcelo Campos Pinto foi um dos principais personagens dos bastidores do futebol brasileiro nas duas últimas décadas. Em 1999, o advogado criou e moldou dentro da TV Globo o setor responsável pela compra dos

Da Redação

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Escrito por Da Redação
Publicado em 19.11.2017, 02:00:00 Editado em 19.11.2017, 02:00:11
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SÉRGIO RANGEL

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RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Marcelo Campos Pinto foi um dos principais personagens dos bastidores do futebol brasileiro nas duas últimas décadas. Em 1999, o advogado criou e moldou dentro da TV Globo o setor responsável pela compra dos direitos de transmissão dos principais eventos esportivos no Brasil e no mundo. A divisão rendeu bilhões de reais de lucro para a emissora, com o sucesso comercial das transmissões.

Como executivo, se transformou no principal pagador do esporte brasileiro e passou a ser reverenciado por cartolas e homens de negócios.

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Em 2006, a emissora foi escolhida pela Fifa como a vencedora do leilão pelos direitos de transmissão para o Brasil das Copas do Mundo de 2010 e 2014, mesmo oferecendo US$ 100 milhões a menos que a Record.

Para ter sucesso, Campos Pinto contou com a ajuda de Ricardo Teixeira, então presidente da CBF, que integrava o Comitê Executivo da Fifa, órgão responsável pela decisão.

O advogado foi demitido pela Globo em 2015, seis meses após a prisão de uma série de cartolas, incluindo o brasileiro José Maria Marin. Os dirigentes são acusados de receberem propina na venda de direitos de torneios no Brasil e no exterior.

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Na ocasião, comunicado assinado por Roberto Irineu Marinho, presidente do Grupo Globo, relatava que o executivo se aposentaria.

"Ao Marcelo, meu agradecimento pelo importante trabalho realizado durante mais de 20 anos de atuação no Grupo Globo", disse Marinho.

Nesta terça (14), a Globo foi acusada pelo empresário Alejandro Burzaco, dono da Torneos y Competencias, de pagar suborno aos cartolas. Em depoimento à Justiça americana, o argentino admitiu ter pago milhões de dólares em propina junto com a Globo e a mexicana Televisa para dirigentes do continente em troca dos direitos de transmissão de competições, como a Copa do Mundo de 2026 e 2030.

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Segundo o executivo, Campos Pinto participou de reuniões com Marin e Marco Polo Del Nero, atual presidente da CBF, e deu o aval para o pagamento da propina.

Ainda segundo Burzaco, que assinou acordo de cooperação com a Justiça americana, Del Nero receberia junto com Marin US$ 600 mil em propina a cada ano relativo a aos contratos de transmissão da Copa Libertadores e da Copa Sul-Americana. Os valores teriam aumentado para US$ 900 mil em 2013.

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O ex-executivo não se manifesta desde o depoimento. Em nota, a Globo "afirma veementemente que não pratica nem tolera pagamento de propina" (veja ao lado).

NOVOS PLANOS

Apesar de ter deixado o comando do braço esportivo da Globo, o advogado continua trabalhando no setor. Ele abriu uma empresa, a Sportsmedia, e circula o país negociando parcerias com cartolas.

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Seu projeto é aumentar a programação dos canais de TV dos clubes e ampliar a participação deles no ambiente digital, algo comum nos EUA.

Em agosto, ele foi uma das atrações de um seminário promovido pela FGV (Fundação Getúlio Vargas) e pela Fifa no Rio. Falou por mais de uma hora sobre o tema "esporte nas mídias digitais".

Campos Pinto permanece próximo dos dirigentes da CBF. O ex-executivo da Globo é presença frequente na sede da confederação brasileira. Na FGV, ele foi apresentado como um profissional que participa "ativamente das discussões sobre calendários e formatos de competições".

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Vinte e três dias antes de Marin ser preso na Suíça, em maio de 2015, Campos Pinto discursou em premiação dos melhores do Campeonato Paulista. Disse que o ex-presidente, hoje em prisão domiciliar nos EUA, inscreveu o nome na história do futebol brasileiro. O cartola tinha passado o cargo a Del Nero.

"2015 vai entrar na história do futebol brasileiro como um grande ano. O ano em que há poucas semanas o presidente José Maria Marin passou o bastão para o presidente Marco Polo. Presidente Marin, em nome do grupo Globo, em meu nome, eu gostaria de agradecer todo o carinho, toda a atenção com a qual o senhor sempre nos brindou, sempre aberto a discutir os temas que interessam ao futebol brasileiro", afirmou Campos Pinto.

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Na Globo, ele sempre teve a ajuda dos cartolas da CBF. Em 2011, com o apoio de Teixeira, acabou com o Clube dos 13, que reunia os principais times do Brasil e negociava em bloco os direitos de transmissão.

Na época, a entidade tentou fazer uma licitação com todas as emissoras pelas edições seguintes do Brasileiro.

Com a possibilidade de perder o torneio para a Record, Campos Pinto se antecipou e negociou diretamente com os clubes. Teve apoio de Andrés Sanchez, aliado de Teixeira, na época presidente do Corinthians, que foi um dos primeiros a fechar de forma isolada com a Globo.

Os outros times seguiram os passos da equipe paulista. A nova fórmula inviabilizou financeiramente o Clube dos 13, que acabou em seguida.

Na Globo, Campos Pinto formatou comercialmente uma série de torneios. O Campeonato Brasileiro virou de pontos corridos em 2003 por pressão do executivo. Ele alegava que as constantes viradas de mesa atrapalhavam a comercialização do torneio.

O advogado trabalhou na Globo por 21 anos. Mestre em Direito Comparado pela Universidade de Illinois, nos EUA, foi contratado como diretor jurídico em 1994. Após cinco anos, passou a comandar o braço esportivo, que liderou até a sua saída da empresa.

O sucesso comercial da sua carreira lhe garantiu uma vida abastada. Ele mora no Jardim Pernambuco, uma das regiões mais nobres do Rio. Localizado no Leblon, o condomínio de casas tem entre moradores herdeiros da família Marinho e Carlos Arthur Nuzman, ex-presidente do COB (Comitê Olímpico do Brasil), em prisão domiciliar.

Nos últimos dias, Campos Pinto não é visto pelos seus vizinhos. Mesmo assim, ele está no Brasil.

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