GIANCARLO GIAMPIETRO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O técnico César Guidetti e a nova diretoria da CBB (Confederação Brasileira de Basquete) tinham grande expectativa pela estreia do ala Bruno Caboclo, 21, na seleção.
Uma esvaziada Copa América, que já não vale mais vaga para as Olimpíadas, era vista como a chance ideal para sua primeira apresentação.
O otimismo em torno do jogador do Toronto Raptors, da NBA, se encerrou na noite de sábado (26), em Medellín, Colômbia, quando o atleta ignorou orientações do técnico e do supervisor Renato Llamas e se recusou a voltar à quadra em derrota para o México, pela segunda rodada do torneio.
Insatisfeito, mesmo que, até, então, tivesse disputado 46 dos 50 minutos possíveis pela competição, o jogador não deu ouvidos a Guidetti quando chamado no segundo quarto. Manteve a posição após duas conversas com Llamas, a segunda no intervalo.
O supervisor, então, anunciou sua suspensão "por tempo indeterminado" da seleção. Estava encerrado, de forma abrupta, o experimento.
A estreia de Caboclo pela seleção poderia, na verdade, nem ter acontecido. Durante a fase de treinos em Pindamonhangaba, o jogador chegou a faltar em um treino na segunda (14), após folga dada ao grupo no Dia dos Pais.
A frustração com o corte de Caboclo não se limitou aos funcionários da CBB. Ela se estendeu aos Raptors.
Quando a informação chegou à metrópole canadense, seus dirigentes se manifestaram decepcionados, mas não estavam surpresos. Não era o primeiro ato de imaturidade do ala de que tinham notícia.
Durante os três anos de Caboclo em Toronto, a franquia abafou histórias de teor semelhante, preservando o atleta e seu investimento.
Em 2014, o clube surpreendeu ao usar a 20ª escolha do "Draft" (processo seletivo de calouros da liga) no atleta nascido em Osasco. Uma aposta arriscada em um ala que só havia jogado 17 vezes pelo Pinheiros no NBB. Daí o esforço em blindá-lo.
Em seus primeiros três anos de contrato, o brasileiro jogou apenas 106 minutos pelos Raptors. O que equivale a duas partidas completas e mais dez minutos.
Até por isso sua convocação foi recebida de modo positivo em Toronto. Para surpresa da CBB, não exigiram nem o pagamento de seguro. A Copa América seria valiosa para seu desenvolvimento. À distância, porém, não havia como abafar esse caso.
Bem diferente do que aconteceu em 1º de janeiro de 2015, quando o clube anunciou o retorno do aleta de um empréstimo ao Fort Wayne Mad Ants, franquia da Liga de Desenvolvimento da NBA localizada em Indiana.
Após três jogos pela equipe, Caboclo, então com 19 anos, teve retorno antecipado sem maiores explicações.
Foi, na verdade, uma espécie de operação de resgate.
Após derrota dos Mad Ants, Caboclo havia "sumido". Funcionários do clube tentavam contato e não tinham resposta por telefone, redes sociais ou campainha.
Preocupados, recorreram ao estafe do hotel em que estava hospedado, para que seu quarto fosse aberto. Quando entraram, se depararam com o jogador sentado em sua cama, calado, assistindo à TV.
O jogador estava frustrado por não ter sido aproveitado nem mesmo numa equipe inferior como os Mad Ants. Mais uma vez o plano dos Raptors de dar rodagem ao ala foi encerrado antes do previsto.
O episódio, confirmado à reportagem por três fontes independentes, foi apenas um de uma série de desacertos dentro e fora de quadra que pontuam a trajetória. "Emocional" é um adjetivo que o tem acompanhado no Canadá.
Agora, a serviço da seleção, as questões vieram à tona. Nas redes sociais, no sábado, o ala foi duramente criticado. Chegou a tirar do ar uma de suas contas. O perfil foi reativado um dia depois com pedido de desculpas.
"Respeito meus treinadores e colegas, e deixei que minhas emoções entrassem no caminho dos objetivos da nossa equipe", afirmou. "Humildemente aceito as consequências para minhas ações."
Ainda no sábado, de volta ao hotel em Medellín, Caboclo novamente "sumiu". Dessa vez, não estava trancafiado em seu quarto. Apenas encerrou sua estadia e foi para outro estabelecimento, sem comunicar à CBB.
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