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Gilmar Fubá volta a trabalhar e planeja estágio com Guardiola

ALEX SABINO E GUILHERME SETO SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Gilmar Fubá, 41, já sabe o que fará quando se livrar em definitivo da doença que quase o matou: mandar mensagem para um amigo espanhol. "Quem sabe mais para frente eu não consigo um estágio? Sabe p

Da Redação

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Escrito por Da Redação
Publicado em 08.07.2017, 05:30:08 Editado em 08.07.2017, 05:30:08
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ALEX SABINO E GUILHERME SETO

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Gilmar Fubá, 41, já sabe o que fará quando se livrar em definitivo da doença que quase o matou: mandar mensagem para um amigo espanhol.

"Quem sabe mais para frente eu não consigo um estágio? Sabe pouco de futebol, não é? Vai ser um jeito de começar bem quando eu quiser ser técnico", explica o ex-volante em entrevista à Folha de S. Paulo.

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Difícil pensar em uma combinação mais improvável. Gilmar Fubá é expansivo e falastrão, com um arsenal de histórias engraçadas. Pep Guardiola, 46, técnico do Manchester City (ING), um dos maiores treinadores da história do futebol, é cerebral e obcecado pela questão tática do jogo.

Apesar disso...

"A gente jogou junto na Arábia [nos Qatar, na verdade]. Tenho amizade com ele e mando mensagens pelas redes sociais. Dou parabéns por títulos, pergunto como estão as coisas. Não contei sobre a minha doença. Acho que ele tem mais o que fazer...", completa.

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A doença é mieloma múltiplo. Câncer que, quando descoberto, estava tão avançado que os médicos lhe deram seis meses de vida. Os tumores avançaram sobre os ossos do ex-jogador e os corroeram. "Não tinha um osso inteiro no peito. Estavam todos quebrados, comidos... O diagnóstico foi dado para o doutor Joaquim [Grava, consultor médico do Corinthians] e para a minha mulher. Eu não sabia. O pessoal vinha me visitar e eu tirava sarro. 'Eu estou doente e quem chora são vocês?'".

Menos de seis meses após ter o câncer diagnosticado, Gilmar fez a última sessão de quimioterapia. Não havia mais vestígios da doença em seu organismo. A última parte do tratamento é um transplante de medula óssea, que ele deve fazer em breve.

Fubá e Guardiola jogaram juntos no Al-Ahli, no Qatar, em 2005. O espanhol era reservado demais para entrar no espírito anárquico de Gilmar, que colocou abaixo toda a ordem estabelecida no clube.

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"Depois de três meses, o xeque que era dono do time veio perguntar o que eu tinha feito com os jogadores dele, que não queriam mais rezar", se diverte. Quando Fubá chegou, os atletas não tinham sequer o costume de ficarem nus no vestiário, o que é a regra após jogos e treinos no mundo cristão ocidental.

"Após algumas semanas já estava todo mundo pelado depois dos jogos, rodando a toalha por cima da cabeça."

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Ter amizade com Guardiola nem pode ser considerado o maior feito futebolístico do volante. Ele conseguiu ser titular em vários momentos em uma das maiores equipes da história do Corinthians. Foi campeão brasileiro de 1998 e 1999, paulista em 1997 e 1999 e do Mundial de Clubes de 2000. No meio-campo que tinha Vampeta, Rincón, Marcelinho Carioca e Ricardinho, Gilmar Fubá, o volante saído da várzea de São Mateus, na periferia de São Paulo, encontrou o seu lugar.

"Eu era o único que fazia o trabalho sujo. Alguém tinha de marcar", completa.

Por isso que começou como titular na final do Brasileiro de 1999, contra o Atlético-MG, depois de oito meses afastado por causa de lesão no joelho.

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A mesma capacidade de desrespeitar convenções ele mostrou no hospital. Recebia entre 10 e 15 visitas diárias. Alguns amigos queriam sair para comprar cerveja, como se fosse um churrasco na laje. Quando enfim recebeu alta, chorava com tudo. Na primeira vez que voltou ao Parque São Jorge, ao entrar no Itaquerão. Até ao ver os inimigos passarem na frente de sua casa. "Senti falta até de não gostar desses caras", diz.

IMPONDERÁVEL

A vida de Fubá é feita do imponderável.

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Do adolescente que aos 14 anos andava mais de 20 quilômetros por dia para chegar aos treinos. Do garoto que tirou do banco todo o dinheiro do prêmio do título da Copa do Brasil de 1995, entrou em uma concessionária vestido com bermuda e chinelo, abriu a mala cheia de notas e disse: "quero comprar uma BMW". Do veterano que ficou tão abalado com a morte da mãe Marinete que jogou o celular fora e passou três meses na rua, dormindo no carro, bebendo, fumando e sem dar notícias para a mulher ou para os filhos.

O paciente que almoçava ao mesmo tempo que fazia quimioterapia, tratamento agressivo conhecido por ter como efeitos colaterais enjoo e falta de apetite. Apelidou o medicamento de "vitamina".

A vitamina de Gilmar agora é trabalhar com a garotada do Corinthians. Ele foi contratado para ser olheiro e descobrir talentos. Viaja no ônibus com os jovens jogadores, que o apelidaram de Mussum.

"É porque eu só vivo fazendo palhaçada."

Na tarefa, ele reencontrou a motivação no futebol que havia perdido há tempos. Tem planos de fazer renascer as "peneiras" na base. Tem confiança de que vai encontrar vários talentos porque os meninos que estão na várzea são mais "fortes, malandros e preparados para o choque". Lembra que para participar de testes no Corinthians, o aspirante a craque precisa se apresentar com exames médicos. Entre eles, ecocardiograma.

"Isso custa uns R$ 150. O moleque que mora na favela não tem como pagar. Futebol hoje tem essa imagem de que se você não tiver empresário, não chega a lugar nenhum. Isso não é verdade", contesta.

E quando se considerar pronto, tanto fisicamente quanto no conhecimento do futebol, já sabe quem procurar. Seu velho amigo Pep Guardiola.

"Ele é gente boa. Quem é de verdade sabe, não é? Guardiola nunca precisou meter marra nem nada. Ele sabe de futebol", finaliza.

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