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Cielo diz que 'sente saudade' da piscina, mas não marca retorno

PAULO ROBERTO CONDE, ENVIADO ESPECIAL SANTA BÁRBARA D'OESTE, SP (FOLHAPRESS) - Cesar Cielo, 29, quebrou na manhã desta quarta-feira (12) um hiato de quase seis meses de aparição pública. Campeão olímpico dos 50 m livre em Pequim-2008, o nadador quebrou t

Da Redação

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Escrito por Da Redação
Publicado em 12.10.2016, 14:45:47 Editado em 12.10.2016, 14:50:11
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PAULO ROBERTO CONDE, ENVIADO ESPECIAL

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SANTA BÁRBARA D'OESTE, SP (FOLHAPRESS) - Cesar Cielo, 29, quebrou na manhã desta quarta-feira (12) um hiato de quase seis meses de aparição pública.

Campeão olímpico dos 50 m livre em Pequim-2008, o nadador quebrou também o silêncio que perdurava desde que perdeu, em abril, a vaga para a Olimpíada do Rio.

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Na inauguração de um polo do instituto que leva seu nome e treinará 62 atletas em sua cidade natal, Santa Bárbara D'Oeste, ele recebeu afagos de políticos e pedidos de autógrafo.

Quando enfim postou-se diante dos jornalistas para responder a perguntas, porém, não foi taxativo.

Se descartou voltar às competições neste ano, por outro reconheceu que uma eventual volta a natação competitiva é provável.

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"Passei um período brigado [com a natação], mas já estou com saudade. Estou sentindo que é hora de voltar para casa, para minha segunda mulher", afirmou, em um clube na cidade.

O paulista ficou fora da Jogos após ficar em terceiro na corrida por uma vaga nos 50 m livre, atrás de Bruno Fratus e Italo Pereira.

Desde abril, ele havia adotado uma rotina reclusa. Evitou convites para carregar a tocha olímpica e até para levá-la no dia da cerimônia de abertura da Rio-2016, no Maracanã.

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Ele contou que, no meio tempo, tocou projetos pessoais e começou a dar palestras. Também elaborou um método de treinamento para ser vendido a academias.

O tempo livre, que classificou como "férias", não foi só de criação. Cielo sentiu o golpe e demorou a digerir a desclassificação. Em conversa com um alto dirigente da CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos), chegou a chorar por 15 minutos. A pessoas próximas, disse ter se sentido deixado de lado por outras entidades.

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Agora, ele disse que a pausa mostrou-lhe um lado positivo e o fez aumentar o desejo de continuar a nadar, ainda que não estabeleça data para uma reaparição competitiva.

"Não quero dizer que vou voltar em janeiro ou em 2018, mas o que posso dizer com certeza é que a natação nunca vai sair da minha vida. Faz falta na minha rotina", comentou.

Cielo afirmou que tem treinado, ou "tido contato com a água", de três a quatro vezes por semana no Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa, no Ibirapuera, em São Paulo.

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A vontade de nadar só voltou depois de ver as provas dos Jogos Olímpicos do Rio como espectador, do sofá de sua casa.

"Quando eu estava assistindo a Olimpíada eu quase arranquei a tevê do móvel. Até pensei se eu não devia estar ali na borda da piscina, ajudando. Todos somos amigos, queria que eles fossem bem", disse, em relação aos colegas de seleção brasileira.

A natação do Brasil terminou o megaevento sem nenhum pódio. Foi a primeira vez sem medalhas desde Atenas-2004. Cielo, que tem três láureas olímpicas na carreira -além do ouro em Pequim, outros dois bronzes-, evitou criticar o desempenho.

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"A prova mais difícil de assistir foi a do Thiago [Pereira, nos 200 m medley]."

Foi também, contou, a prova que o fez retomar a intenção de ir para a água. Outra inspiração foi Rubens Barrichello, que com mais de 40 anos ainda continua a correr na Stock Car.

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Cielo também comentou a crise que afeta a natação nacional. Os Correios, principais patrocinadores dos esportes aquáticos, já avisaram que vão reduzir drasticamente o aporte, isso se não o cancelarem por inteiro.

Além disso, a cúpula da CBDA é alvo de investigação do Ministério Público Federal, que apurou improbidade administrativa e pediu o afastamento de cartolas.

"Esperamos que a verdade apareça, acima de qualquer coisa. Não é querer tirar alguém do poder, afastar alguém, chutar o pau da barraca. Queremos que a verdade apareça. Todos os nadadores sempre questionaram bastante, e continuamos questionando."

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Confira alguns trechos da entrevista:

AUSÊNCIA DA PISCINA

Na verdade, assim, competição eu decidi dar uma pausa. Desde o Troféu Maria Lenk [em abril] eu não competi e não tenho previsão para voltar ainda. Então, aproveitei para dar uma acelerada em projetos fora da água. Contato com a água eu nunca vou deixar de ter. São 22 anos dentro da piscina, é que nem escovar o dente. Fora da piscina é hora de fazer coisa errada, de fazer besteira, então ao menos [na piscina] é uma hora em que eu me centro, é minha meditação. Por enquanto, não tenho previsão de voltar. Deixei para a coisa acontecer naturalmente, ter vontade é saudade.

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OLIMPÍADA

Eu assisti sim, a todas as provas. Não fiquei com o ar de fim de jornada. O ano passado inteiro já estava em uma fase de questionamento, se continuava ou não, mas depois do ciclo, depois que terminou no Maria Lenk, eu fiquei até que numa certa paz. Era a hora de dar um tempo. Achei até que tinha que ter puxado antes. Foi um pouco difícil esse ano, de continuar treinando. No fundo, eu achava que deveria ter dado uma pausa.

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Com relação aos tempos na Olimpíada, eu fiquei surpreso com alguns resultados. Nos 50 m livre, é difícil dizer que fiquei surpreso. O [Anthony] Ervin está na dele há uns cinco anos, quietinho, e naquela prova ele fez o dele. E ninguém fez melhor.

Não fiquei com o lado de que ainda estou no páreo com os caras, vi mais para ver se teria vontade, saudade daquilo e de estar no meio deles. Meu lado competitivo sempre vai existir. Mesmo que eu parta para o lado corporativo, de trabalhar com empresa, produto ou imagem, o lado competitivo sempre está vivo em mim.

Mas está sendo importante, essa pausa. Era hora de repensar o que eu queria. Minha intensidade na piscina sempre foi muito alta. Só vou voltar se eu tiver total certeza que quero voltar. Trabalho a 1.000%. Me questiono se eu ainda terei vontade de fazer o que um iniciante faria. Enquanto eu achar que ainda estou em dúvida, não é hora de voltar ainda. Nesse momento, estou esperando essa vontade aparecer de uma maneira natural.

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PATROCINADORES

Meu contrato com o Minas é até o final deste ano. Ele é todo sigiloso, não posso falar muito para vocês. Nós entramos em um acordo, ele não está na mesma forma de antes, mas a minha prioridade agora era eu me sentir bem. Todos os patrocinadores entenderam numa boa. Continuo fazendo eventos e aparições, não mudou muita coisa.

DESEMPENHO DO BRASIL NA OLIMPÍADA

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Tivemos o recorde de finais, é um grupo relativamente jovem. Então, acho que faltou a medalha para ficarmos mais tranquilos. Mas não é tão ruim quanto parece. Não é por aí. Estamos numa fase de transição. Montei o meu instituto por causa disso, porque a nossa transição de geração é muito deficiente.

Brinco com os caras da França que não dá mais para aguentar. Eles trocam a todo ciclo e eu estou aqui. Os outros países estão sempre renovando, sempre está aparecendo gente nova, e nós precisamos aprender essa fórmula aí. A culpa é nossa, precisamos ter renovação, gente nova aparecendo, e a ideia do meu instituto é essa. A natação de base está acabada.

Hoje tem campeonato inteiro com 300 atletas, na minha época era 300 por categoria. Entramos numa queda complicada, por causa da política e do próprio país, com o problema financeiro. Minha ideia é essa, para que a gente tenha renovação.

MOMENTOS PÓS-OLIMPÍADA

A opção de eu me afastar foi tirar um pouco a natação da minha vida. Se eu quisesse dar uma pausa, precisava ficar longe desse meio. Não acordar e pensar que eu tinha que dar uma entrevista, ir a um evento, tirar foto com um monte de gente.

Eu precisava dar uma recarregada nessa energia, até pelo lado pessoal, que nunca respeitei. Sempre quis mais e mais, por causa do esporte. Hoje o que eu mais queria era não ter agenda fixa nem horário para dormir. Tive horário para dormir por 22 anos. Mas a verdade é que eu sinto falta dessa rotina. Sou um cara regrado, que sempre conta tudo. Mesmo nesse período de férias, contava quantas horas eu dormia. Eu queria criar essa nova tranquilidade, porque sempre levei tudo com muita exigência. Quis curtir meu filho, aproveitar que ele está nenezinho. Desde 2004 eu estava nessa pegada, e esse foi o primeiro semestre que eu tirei para fazer o que eu queria.

Foi importante para mim. Já estou sentindo falta da minha rotina. Estou começando a sentir falta da rotina de novo. Se eu não sentisse, realmente seria a hora de parar. Agora, eu estou vendo que não. A desmotivação era por estar fazendo uma coisa forçado. Gostamos de ser atraídos, e a piscina está me atraindo de novo.

CRISE NA CBDA

Com relação à CBDA, eu sei o tanto que a imprensa está divulgando. Não tenho informações de nada. Esperamos que a verdade apareça, acima de qualquer coisa. Não é querer tirar alguém do poder, afastar alguém, chutar o pau da barraca. Queremos que a verdade apareça. Todos os nadadores sempre questionaram bastante, e continuamos questionando. A natação está passando por um período político muito complicado, a eleição está chegando. Não vou apoiar ninguém, nem sei quais são as chapas.

Se tinha um momento de virada na natação é agora, e vai acontecer de uma maneira meio radical, porque está acumulada. Tudo virou uma bola de neve. Espero que a gente saia desse período vitorioso. Nunca tive nada pessoal com ninguém da CBDA, quero deixar isso bem claro também, só quero que a verdade aparece e o que os nadadores merecem. Me irritava ver o [Felipe] França na classe econômica, um cara que ganhou cinco medalhas de ouro em um Campeonato Mundial, em Doha [2014]. A gente não dá uma premiação, uma ajuda para os atletas continuarem a fazer o que estão fazendo. Espero que agora isso mude.

VIDA PESSOAL

Fiz bastante coisa nesses últimos meses. Sou um cara acelerado, que não para de pensar. Comecei a dar palestras, semana que vem é mais outra no final do mês. Estou fazendo uma clínica. Não fiquei em casa assistindo a tevê não. Quero dizer, decorei as musicas do Disney Channel por causa do meu filho. Tem hora que eu ando na rua cantando essas musicas. Mas tem sido bacana deixar essa parte, de mudar as coisas fora da água, acontecer. Não consigo ficar parado, desde o Maria Lenk li uns 13 livros.

INVESTIMENTO TARDIO NA RIO-2016

Historicamente, o país que sedia os Jogos Olímpicos põe mais dinheiro no esporte. A gente fez isso, mas não de forma certa. Demoramos, começamos a colocar dinheiro aos 45 minutos do segundo tempo, e nos atletas em vigência. Não se criou nenhum projeto novo. Esperou-se até 2014 para liberar dinheiro. E aí não dá tempo. Precisa mudar essa política de treinamento a longo prazo. O esporte é assim. Não tem coisa momentânea, instantânea.

A natação tem esse cenário propício agora. Tem que fazer como o vôlei, que tem uma renovação enorme. Tem vezes que eu assisto a seleção e nem sei o nome dos jogadores, mas eles vão lá e ganham a Olimpíada. Falta um pouco esse formato. Não precisa inventar a roda, mas aplicar aqui e ter alguém à frente que faça funcionar.

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