Quando Wanderlei Silva anunciou sua aposentadoria do MMA no final da última semana, ficou claro que aquele desabafo, principalmente contra o UFC, era apenas a ponta do iceberg. Então decidi ir atrás do Cachorro Louco para tentar entender melhor os motivos de ele ter abandonado uma das mais bem sucedidas carreiras.
Consegui encontrá-lo aqui em São Paulo e pudemos conversar por mais de meia hora. Não é muito, mas já deu para clarear uma série de pontos do agora ex-lutador. É apenas o começo da análise da caixa-preta que ele tem em mãos. O rancor contra o UFC e seus mandatários é óbvio, mas é até engraçado como ele não cita, em momento algum, o evento ou seus mandatários nominalmente. No entanto, deixa claro de quem se trata em suas falas e sua revolta.
Wanderlei não consegue conceber a maneira com que o Ultimate vem tratando seus atletas e fez um alerta: se o maior evento não começar a se preocupar com os lutadores, o MMA vai acabar em breve – pelo menos com a atenção que ele tem hoje em dia. Ele tem um plano para virar esse jogo e, mais que isso, se coloca para liderar um movimento que moralize a relação entre atletas e eventos.
Nesse papo, ele ainda falou sobre seu banimento de lutar nos Estados Unidos, como ele não reconhece o trabalho da Comissão Atlética do Estado de Nevada, como são as negociações com o UFC, os motivos de ter fugido de um exame antidoping surpresa, sua rivalidade com Vitor Belfort e – acreditem vocês – perdoou seu até então desafeto Chael Sonnen.
Entrevista
Quando você decidiu parar de lutar? Qual foi o momento em que você percebeu que não dava mais? Não teve um momento, as coisas foram acontecendo, não foi de agora, foi de algum tempo. Até pouco tempo atrás estava com vontade, me sentido bem, mas começaram a acontecer sucessivos fatos que tiraram minha gana de lutar.
O problema é que não tive o suporte do evento e o diretor lá começou a falar bobagem de mim, falar coisas ao meu respeito. Como que vou lutar para esses caras, continuar fazendo o show? Isso me tirou a vontade até de treinar. Essas declarações como as dele e de alguns veículos me tiraram a gana.
Mas essa parada é para sempre? Nos Estados Unidos sabemos que você não pode mais lutar, mas e se daqui algum tempo surgir um evento no Brasil e algum amigo seu te chamar? Hoje, nesse exato momento, eu não voltaria por nada. O físico se cura, se fosse para fazer mais uma luta ou outra, arrumaria uma maneira de ficar bom, mas do jeito que está andando o esporte, não estou vendo como voltar. Os dirigentes não estão cuidando dos atletas. Isso são todas as organizações, elas não dão suporte, não promovem, fora do monopólio as pessoas não conseguem aparecer. Conseguiram ser tão competentes para estabelecer o monopólio, mas não cuidam dos seus empregados. Ou você está ali ou não está em lugar nenhum. Não pode ser assim.
O UFC perdeu muito evento esse ano, muita luta principal. Acha que esse fato é sintoma dessa falta de cuidado? É muita pressão, o cara te dá um tempo e a pressão vai aumentando… Não somos máquinas. Por exemplo, você vai se preparar para uma luta. Eu treino duas vezes por dia, mas tem gente que treina até três ou quatro. O corpo vai se desgastando e você começa a ler notícias falando ‘ah, já perdeu duas, se perder a terceira…’ Várias vezes entrei para lutar e gente falando que o patrão lá, o mestre dos magos, já tinha dito que ia me mandar embora se perdesse mais uma, que iria me aposentar.
Como assim vai me aposentar?! Quem tem de decidir se vai se aposentar é o atleta. Eu decidi me aposentar porque eu quis. Não ia deixar que chegasse um cara desse e falasse que eu não lutaria mais. Não ia me prestar a esse papel, porque eu sei o quanto eu contribui para esse esporte. O mínimo que precisamos é que o cara, quando for nos dirigir, lave a boca para falar de nós. Porque assim não dá.
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