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De doméstica a amiga da família

A profissão é antiga, necessária e nem sempre valorizada. Ser empregada doméstica não é tarefa fácil. Encontrar uma pessoa de confiança para ajudar nos afazeres domésticos também não. Quando patroa e empregada acertam na escolha, a relação profissional

Da Redação

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 Sandra Xavier com a empregada Maria Aparecida Santos: “É minha filha moreninha”
Icone Camera Foto por Delair Garcia
Sandra Xavier com a empregada Maria Aparecida Santos: “É minha filha moreninha”
Escrito por Da Redação
Publicado em 31.03.2011, 08:38:00 Editado em 27.04.2020, 20:49:05
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A profissão é antiga, necessária e nem sempre valorizada. Ser empregada doméstica não é tarefa fácil. Encontrar uma pessoa de confiança para ajudar nos afazeres domésticos também não. Quando patroa e empregada acertam na escolha, a relação profissional ultrapassa a barreira imposta pelo trabalho e abre espaço para a amizade.


Um exemplo da boa convivência entre patroa e empregada vem de duas apucaranenses. Maria Aparecida de Souza Santos, 37 anos, conhecida por Cidinha, a ‘Ci’ como prefere a patroa Sandra Paula Xavier, 60. Cidinha começou a trabalhar de doméstica na casa de Sandra quando tinha 20 anos.

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Em 17 anos de trabalho e gratidão, elas compartilharam momentos de fé, descontração e compreensão. Cidinha conta que todas as manhãs liga o rádio no programa Experiência com Deus, comandado pelo padre Reginaldo Manzotti, e no momento da oração coloca um copo com água para ser benzida, um para ela e outro para a patroa. “Que empregada faz isso? Tem filha que nem isso faz para mãe. Considero a Ci como alguém da família. É minha filha moreninha”, diz a patroa.


Outras demonstrações de carinho feitas pela empregada ficaram guardadas na memória de Sandra. Ela recorda, com os olhos quase marejados, do dia em que Ci preparou a festa surpresa de seu aniversário, no ano passado. “Ela organizou tudo. Reuniu todas as minhas amigas na fazenda. Foi um momento lindo”, diz.


Os gestos de bondade não ficam só por conta de Cidinha. A empregada também tem histórias marcadas pelo carinho da patroa. Sandra foi madrinha de casamento da funcionária. Outra ocasião marcante para Cidinha aconteceu em 2009, quando passou por uma cirurgia de redução do estômago, em Curitiba. “Fiquei sabendo que a Sandra e o esposo oraram por mim”, conta. De acordo com Cidinha, quando voltou para Apucarana, a patroa foi visitá-la em casa.


A empregada, que tem ensino médio completo, espanhol básico e informática, não pensa em mudar de emprego. “Em que lugar vou poder levar minha filha junto no emprego ou a patroa vai buscar ela comigo na escola?”, questiona.


Sandra garante que não se importa que a filha da empregada, Maitê, de 9 anos, frequente a casa. “Ela vem, brinca com meus netos, assiste tevê no meu quarto”, confidencia. Sempre que viaja, a patroa também coloca a menina na lista de pessoas que receberão um souvenir. Da última viagem à África do Sul, Maitê ganhou uma boneca.

Bom humor

Além dos mimos e da dedicação, Sandra garante que o alto-astral da empregada é fundamental. “É uma energia muito boa. Não suportaria dividir minha casa com alguém que vivesse de cara amarrada”, diz.


Humor as duas têm de sobra. Quando falta esse ingrediente, elas sabem que é hora de deixar a outra sozinha. “Tem que haver respeito”, assinala Sandra, com o aval da funcionária.


A patroa faz questão ainda de lembrar o cuidado de Ci com as refeições. Conhecida como mãos de fada, ela gosta de inovar o cardápio da família colecionado receitas do Programa Mais Você e também da Revista Uau!.

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Uma parceria perfeita


Elas se conhecem há mais de 30 anos. Cleide Barbiere, 51 anos, e Dirce de Oliveira, também com 51, de Apucarana, compartilham seus dias há 24 anos. Não só como patroa e empregada, mas principalmente como amigas. “A Dirce já trabalhava na casa da minha mãe há sete anos. Depois que me casei, ela veio me ajudar e está aqui até hoje. Não é apenas uma empregada, é uma amiga para as horas de alegria e tristeza”, afirma Cleide.


Dirce é chamada por todos na casa como Gê, por causa da filha mais velha de Cleide, Daniele, que quando bebê não conseguia pronunciar o nome da empregada. Gê ajudou a cuidar das três filhas de Cleide: Daniele, 23 anos, Rafaela, 20, e Isadora, 17. “São as nossas meninas, né Gê?”, diz. Segundo Cleide, Daniele fez questão que a empregada participasse de sua formatura. “As meninas têm um grande carinho por ela. Afinal foi a Dirce que ajudou a cuidar delas. Posso dizer, sem medo, que ela é a segunda mãe de minhas filhas”, afirma.


A empregada também viaja com a família para a praia nas férias. “Não vai só para ficar trabalhando. Ela aproveita o passeio junto com a gente”, diz Cleide. A empregada confirma a versão da patroa. “Estava sempre junto com eles. Os passeios eram muito divertidos”, garante. Além das viagens, Dirce também participa dos eventos da família como convidada. “São mais de 30 anos com a gente. É da família mesmo. O carinho entre nós é recíproco”, garante.
Cleide já ficou 25 dias fora de casa, em 2008, quando viajou para os Estados Unidos visitar uma irmã. “Fui tranquila. Sabia que as meninas estavam sendo bem cuidadas por ela e pelo meu marido”, salienta.


A parceria de sucesso também já passou por momentos difíceis. Foi Cleide quem levava a mãe de Dirce para fazer quimioterapia, em Londrina. “Isso foi há 18 anos. Eles também compraram o terreno no cemitério. Me ajudaram muito”, recorda.


A neta de Dirce, Isadora Torres Rodrigues, 7 anos, filha de Ricardo de Oliveira, 31, é afilhada de Cleide.
Patroa e empregada elencam alguns pontos essenciais dessa relação duradoura. Entre eles estão o respeito, a discrição, a sinceridade e a confiança. Com essas qualidades em vista, sobra espaço para amizade.
Dirce é registrada desde que começou a trabalhar. “Sinto saudades quando fico longe deles. Sinto falta até nos finais de semana quando estou na minha casa”, diz, reforçando que nem pensa em mudar de emprego.



Mercado de trabalho tipicamente feminino


A profissão de doméstica é a que mais emprega mulheres no Brasil. Ao todo, de acordo com dados de 2010 do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), elas são 6,2 milhões em todo o país. Em Apucarana, segundo Odete Maria de Jesus, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Domésticos de Apucarana e Região, são mais de 2 mil trabalhadores ocupados nessa área. “Cerca de 60% trabalham na informalidade”, calcula Odete.


Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que apenas 37% dos empregados domésticos têm carteira de trabalho assinada. Com o abatimento da contribuição previdenciária no Imposto de Renda, a partir de 2006, mais de 700 mil empregados domésticos saíram da informalidade, conforme a Receita Federal, até o ano passado.
De acordo com Odete, muitos empregadores têm procurado a instituição para se informar sobre os direitos trabalhistas dos empregados domésticos. “Os patrões estão mais preocupados e conscientes que a formalidade é o melhor caminho para dos dois”, observa.


Cerca de 98% das vagas no mercado de trabalho doméstico, de acordo com a presidente do Sindicato, são ocupadas mulheres. Já as funções de jardineiro e motorista, que também se enquadram na modalidade, são desempenhadas por homens.


A maioria das domésticas, conforme Odete, tem apenas o ensino fundamental incompleto, geralmente até a 4ª série. A idade média é de 45 anos. Ela acrescenta ainda que o sindicato oferece cursos para os associados, como de ética e relações humanas.

O salário mínimo regional para a categoria é hoje de R$ 688,50.

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