Ao passo que assustam e deixam um rastro de centenas de mortos e milhares de desabrigados, as chuvas que assolam a região serrana no Rio de Janeiro chamam também atenção para a falta de estrutura no atendimento a situações de emergência no Vale do Ivaí. Embora sejam atípicos, fenômenos naturais demandam preparação para conter transtornos e evitar vítimas fatais em qualquer área.
Em Apucarana, de acordo como subtenente do subgrupamento independente do Corpo de Bombeiros, Deusdete Feliciano Melo, a Defesa Civil do município é composta por cerca de 40 bombeiros e 40 agentes da Guarda Municipal. Em casos de desastres ambientais, como enchentes e vendavais, o órgão precisa contar ainda com a ajuda de voluntários para levar auxílios aos afetados. “Nessas situações, sempre colaboram policiais militares e o Exército, que fazem a parte da segurança nas áreas afetadas”, explica.
Ele aponta que o contingente dos bombeiros de Apucarana pode ser chamado para reforçar ainda a Defesa Civil ou bombeiro comunitário de Marilândia do Sul, Califórnia, Jandaia do Sul, Cambira, Novo Itacolomi, Rio Bom, Cruzmaltina, Borrazópolis, Kaloré, Bom Sucesso, Marumbi, Astorga, Pintangueiras e Sabáudia.
“Nem todos são enviados para essas cidades quando há situações de calamidade, para não descobrir nossa área. Mas, se for necessário, um número considerado suficiente de bombeiros é cedido para atuar no combate e na coordenação das ações”, salienta.
Mesmo admitindo que o efetivo da Defesa Civil de Apucarana é baixo, Melo pondera que catástrofes não costumam acontecer na região. Segundo ele, ainda que algum estrago ocorresse, a probabilidade de ser registrado em várias cidades do Vale é remota. “Se faltar material humano, instituições responsáveis precisam ser convocadas. Mas, dependendo do desastre, vai faltar gente de qualquer forma, como no Rio. Graças a Deus não temos isso por aqui”. Melo assinala que novos recrutas devem ser incorporados no subgrupamento neste ano.
Além de equipamentos pertencentes aos bombeiros, a Defesa Civil de Apucarana tem em estoque itens de proteção individual para os agentes e rolos de lona, para situações de destelhamento. “São em torno de sete rolos de 100 metros deixados no quartel. Se for necessário mais, contamos com lojas de materiais de construção, a Prefeitura e os bombeiros de Maringá”, pontua.
Deslizamento matou casal em Apucarana
A maior tragédia envolvendo chuvas em Apucarana ocorreu em janeiro de 2005. Duas casas que pertenciam a uma mesma família ficaram soterradas no Jardim América, próximo à Escola Municipal Vida Nova (Caic). Um casal morreu e outras áreas da cidade foram alagadas pela chuva intensa. A Prefeitura teve de decretar estado de emergência.
Em novembro de 2009, a Defesa Civil chegou a interditar o loteamento Norte do Paraná, perto do córrego do Japira, na mesma região do deslizamento de 2005. Quatorze famílias que vivem na área, considerada de risco, seriam removidas pela Prefeitura em seis meses e levadas para novas residências no Parque Industrial Norte. Mas, depois de mais de um ano, os moradores permanecem no loteamento.
Em outubro do ano passado e de 2009, chuvas de granizo também causaram estragos na cidade. Já no último domingo, uma criança de quatro anos morreu no município afogada em uma enxurrada, após um temporal, em um córrego no Núcleo Habitacional João Goulart.
Dez agentes em Jandaia
Em Jandaia do Sul, a Defesa Civil conta com 10 agentes. De acordo com o coordenador do órgão, o subtenente do Corpo de Bombeiros Júlio César Polato, o contingente atua como bombeiro comunitário na cidade, através de uma parceria firmada entre o Governo do Estado e o município.
“Todos os equipamentos usados são os dos bombeiros, sendo que o treinamento também é o mesmo. Mas, no caso de desastres, também é preciso acionar órgãos competentes da cidade”, comenta.
A maioria das situações atendidas no município, conforme ele, são destelhamentos e chuvas de granizo. “É difícil termos alagamentos”, diz.
Prejuízos de R$ 1 milhão em Manoel Ribas
No final de 2009 e início do ano passado, o município de Manoel Ribas foi atingido por chuvas e vendavais que causaram prejuízos e transtornos em diversas comunidades. Na época, os rios subiram mais de 10 metros e além de derrubar pontes, alagaram casas, deixando desabrigados. O prejuízo para o município foi de mais de R$ 1 milhão.
Segundo o supervisor do Bombeiro Comunitário da cidade, sargento Kleber Trova, nos últimos anos, o município vem sofrendo problemas causados pela instabilidade climática. “Os agentes da Defesa Civil são sempre treinados, nas normas e procedimentos e isso tem nos ajudado a dar um atendimento ideal”, diz.
Ele relata que durante as calamidades registradas em Manoel Ribas, a solidariedade da população e dos órgãos competentes foi fundamental para o socorro das vítimas.
Sem sair do papel
Na região, também não é rara a existência de estruturas de apoio a situações de emergência que ainda não precisaram ser usadas. Em Ivaiporã, o presidente da Defesa Civil, prefeito Cyro Fernandes (PT), explica que em casos de calamidades, o município possui um comitê de Defesa Civil. “Na eventualidade de catástrofes, são distribuídas tarefas para o socorro imediato”, afirma.
Toda a estrutura é articulada pela Prefeitura, com o apoio do Corpo de Bombeiros, policias Civil e Militar, hospitais e voluntários. “Existe no papel e graças a Deus, nós nunca precisamos mobilizar toda essa estrutura, mas estamos habilitados e de prontidão”, destaca o prefeito.
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