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Praça Roosevelt se transforma em picadeiro gratuito a céu aberto

MARIA CLARA MOREIRA SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em fevereiro de 2014, a praça Roosevelt viu do encontro entre os amigos Rodrigo Buchiniani, Jorge Ribero e Otavio Fantinato nascer uma ideia: a criação de um circo livre para coroar a tomada artística do e

Da Redação

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Escrito por Da Redação
Publicado em 27.11.2015, 13:13:44 Editado em 27.04.2020, 19:54:43
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MARIA CLARA MOREIRA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em fevereiro de 2014, a praça Roosevelt viu do encontro entre os amigos Rodrigo Buchiniani, Jorge Ribero e Otavio Fantinato nascer uma ideia: a criação de um circo livre para coroar a tomada artística do espaço público da capital. Assim surgiu a Noite da Rose, cabaré a céu aberto que tomará o cartão-postal do centro de São Paulo como picadeiro pela sétima vez neste sábado (28).
Dos criadores, é Buchiniani quem toma as rédeas do projeto. Aos 36 anos, ele equilibra a vida de artista e a profissão de advogado como os malabares que aprendeu a dominar ainda no colégio, em 1996. Era criança quando teve seu primeiro contato com o circo, levado pelos pais.
O estímulo ao seu lado lúdico, reflexo de uma educação construtivista, levaram-no a passar cinco anos como malabarista de farol ao mesmo tempo em que cursava Direito no Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas."Fico me questionando como as pessoas se dedicam a uma coisa só", ele brinca.
Toda sua polivalência é colocada a cargo da "Noite da Rose", onde responde pela curadoria artística, presta consultoria jurídica e emprega os mais de 600 quilos de equipamentos da sua companhia Circo Herói na produção do espetáculo independente.
"A gente não tem verba, patrocínio, grana, nada. É a vontade de fazer um projeto que demora, em média, três a quatro meses de pré-produção em cada edição", diz o artista à reportagem.
Embora complexo, o caráter independente do esforço coletivo -ao todo, são cerca de 30 pessoas envolvidas na produção- traz um grau de liberdade característico da arte circense, conta Buchiniani.
"O lado da resistência é muito forte no circo. Historicamente sempre foi. O circense se habitua a apanhar, mas também não larga o osso", afirma. Para atender a todos os requisitos exigidos pela prefeitura com a popularização do evento (como ambulâncias e banheiros químicos, custo orçado em R$ 35 mil), ele recorreu no fim deste ano ao Rumos, programa de incentivo financeiro do Itaú Cultural.
Mas é a burocracia, e não os custos, o principal obstáculo enfrentado pelo circo popular. A necessidade de autorização e encerramento antes das 22h "cria muito conflito", segundo Buchiniani, que entrou com um mandado de segurança contra a administração pública para promover a edição de maio da iniciativa.
"A arte sempre teve de pedir licença, sujeita à vontade do governante. Ela tem uma força educativa enorme por reunir o público e fazer uma transformação que ele nem percebe, usando de linguagem abstrata."
"Com a burocracia para usar o espaço público, acaba que a Noite da Rose é uma demarcação de território muito grande", opina Ésio Magalhães, 41, ator do Barracão Teatro, em Campinas, que se apresentará como palhaço no evento.
"Lá, podemos conviver com todos de uma maneira democrática, em um espaço aberto. A arte circense contribui muito por ser popular: você não precisa ter lido nada, ser entendido em nada, para acompanhar um espetáculo de circo. Ele atinge desde letrados a analfabetos."
Presente na cultura brasileira "desde o descobrimento", com as trupes de mambembes, o circo em seu formato eternizado -com lona e mestre de cerimônia- chegou ao Brasil no século 18, conta Buchiniani, com o desembarque das grandes companhias europeias.
"Hoje, esse formato é, infelizmente, cada vez mais raro, sobretudo em São Paulo, pela falta de espaço", lamenta. "A Noite da Rose se propõe a ser esse modelo de circo, com o respeito da linguagem, com arte no ar, arte no chão, números de trapézio e palhaço. O céu aberto deixa a coisa toda colorida."
Por enquanto tem dado certo. A última edição do cabaré circense registrou mais de três mil pessoas na Roosevelt em uma noite de quarta-feira. "Eram adultos, idosos e muita, muita criança. Não houve qualquer desentendimento", conta o organizador. "A arte tem força. Quando o público percebe que há qualidade e segurança em um evento, isso se traduz em respeito."
SÉTIMA EDIÇÃO
Aqueles que comparecerem à praça Roosevelt na noite de sábado terão um prato cheio: do mestre de cerimônia argentino Marcelo Lujan (Circo Amarillo) aos vencedores do quadro "Se Vira nos 30" do "Domingão do Faustão" (Globo), os arremessadores de facas Daniel Wolf e Estrela Rigoletto, a noite promete momentos divertidos.
"O arremesso de faca é muito raro, mesmo no circo. Dani é a sexta ou sétima geração de circo -juntos, ele e a Estrela têm 200 anos da arte no sangue. Estou ansioso pela reação do público porque, querendo ou não, é um homem atirando facas em uma mulher no contexto em que vivemos hoje", comenta Buchiniani, refletindo sobre o feminismo. "No Brasil, principalmente, a mulher sempre levou o circo nas costas."
Nem Wolf, 30, consegue rastrear com precisão sua linhagem: os documentos aos quais teve acesso o permitem estimar uma ligação com a arte circense até a sétima geração. Filho de mãe trapezista, seguiu caminho parecido aos 15 anos, quando se tornou acrobata e malabarista.
"Venho do circo tradicional e passei por várias escolas, então vivi a transição para o modelo contemporâneo, sem animais e mais tecnológico", conta.
Há três anos, conheceu Estrela Rigoletto, sua atual mulher, em um circo de amigos. O casal é hoje pai de um filho de nove meses -a gravidez e fraturas no pé e na região cervical os afastaram das acrobacias.
"Jogar facas foi um golpe de necessidade e sorte ao mesmo tempo", diz Wolf. "No começo, é algo muito tenso. Uma dependência de confiança muito louca: ao mesmo tempo em que ela tem de confiar em mim, eu tenho de confiar nela e em mim mesmo. Devemos estar muitos conectados, porque qualquer deslize pode ser fatal."
Ele não se preocupa com possíveis críticas. "Todo mundo acha que eu quero matá-la, mas não é isso. O intuito é levar o risco, mas controlado. A crítica faz parte, como em qualquer outra profissão."
O restante da programação terá início às 19h com a abertura musical da banda Mustache e os Apaches, seguida de apresentações de Guga Morales (o Homem Foca), da trapezista italiana Veronica Piccini, do grupo uruguaio de malabaristas Ritual das Esferas, da monociclista Cafi Otta, do acrobata Rafael Souza e do palhaço Ésio Magalhães.
Ex-doutor da alegria, Magalhães atua como palhaço desde 1995. "Aconteceu meio que por acaso. Eu queria fazer teatro, mas sempre que entrava em cena, as pessoas riam muito e eu não entendia o motivo. Talvez fosse a cara de menino, ou o fato de ser baixinho", ri, citando Os Trapalhões e Charlie Chaplin como inspirações.
Como manda a tradição da arte de rua, os circenses passarão o chapéu para contribuições a critério do público.

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NOITE DA ROSE - SÉTIMA EDIÇÃO
QUANDO sábado (28), a partir das 19h
ONDE (Praça Franklin Roosevelt, s/n)
QUANTO grátis

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