MAIS LIDAS
VER TODOS

Entretenimento

'A maior ameaça que sinto é dizer que escrevo', diz Fernanda Torres em Paris

LUCAS NEVES PARIS, FRANÇA (FOLHAPRESS) - Numa das mesas mais concorridas até agora no pavilhão brasileiro do Salão do Livro de Paris, a atriz e escritora Fernanda Torres disse neste domingo (22) que se sente acuada por ser cada vez mais associada às letr

Da Redação

·
Escrito por Da Redação
Publicado em 22.03.2015, 21:56:38 Editado em 27.04.2020, 20:01:41
Imagen google News
Siga o TNOnline no Google News
Associe sua marca ao jornalismo sério e de credibilidade, anuncie no TNOnline.
Continua após publicidade

LUCAS NEVES
PARIS, FRANÇA (FOLHAPRESS) - Numa das mesas mais concorridas até agora no pavilhão brasileiro do Salão do Livro de Paris, a atriz e escritora Fernanda Torres disse neste domingo (22) que se sente acuada por ser cada vez mais associada às letras.
"A literatura chegou tardíssimo na minha vida. Comecei a fazer roteiros para cinema, criei uma peça de teatro muito ruim, assinei colunas em jornal e revista. Mas jamais achei que fosse chegar ao romance", afirmou ela sobre "Fim", o seu primeiro romance, lançado em 2013 no Brasil pela Companhia das Letras e publicado agora na França. Torres falou a uma plateia que chegou a superar os 120 espectadores, num espaço com cerca de 80 cadeiras.
O Brasil é o convidado de honra desta edição da feira, que termina na segunda-feira (23) -43 escritores compõem a delegação oficial enviada a Paris.
Torres participou de um encontro sobre "teias familiares", ao lado do paulista João Anzanello Carrascoza (de "Aos 7 e aos 40", pela Cosac Naify, cuja tradução francesa saiu há pouco) e do catarinense Cristovão Tezza (de "O Filho Eterno", editora Record, que ganhou versão gaulesa em 2009). Segundo ela, "um ator sempre precisa de mais alguém, nem que seja de um público, então a liberdade [do ato] de escrever se apresentou de uma forma incrível".
Apesar disso, frisou a atriz, "a perspectiva de ter uma coluna no jornal, escrever um livro e estar aqui com Tezza e Carrascoza é bastante ameaçadora".
Temor pouco justificado, a julgar pelas críticas publicadas nos últimos dias na grande imprensa local sobre "Fim". O jornal "Le Monde" falou em "romance divertido e tragicômico" e comparou o quinteto de protagonistas moribundos que rememoram as derivas hedonistas do Rio dos anos 1960 a um "elenco truculento que teria feito a alegria do cinema italiano" daquela década.
1ª OU 3ª PESSOA?
O debate teve acentuado teor literário -o que nem sempre é regra em encontros de autores. O trio discutiu, por exemplo, o uso da primeira ou da terceira pessoa na construção da narrativa.
"Vivemos um tempo de profunda fusão de pontos de vista. E a literatura reflete a cultura desse momento. Aquela clássica distinção do século 19 [entre primeira e terceira pessoas] não tem mais sentido hoje. Experimentamos simultaneamente todas as perspectivas", observou Tezza.
"Às vezes, quando escrevemos, a voz narrativa não aparece de cara. É preciso redigir algumas páginas até encontrá-la, e esse material talvez nem seja usado na versão final", completou Carrascoza.
Para Torres, tanto o emprego da primeira pessoa para os personagens masculinos de "Fim" quanto o da terceira para as mulheres desses tipos ajudaram a esconder a autora responsável por eles.
Mais adiante, quando um espectador perguntou aos escritores sobre suas filiações nas letras, Tezza lançou:
"Meu grande pai literário foi a infelicidade. A felicidade não produz literatura. As pessoas felizes namoram, vão ao cinema, convivem bem com a família, resolvem seus problemas. Os infelizes se trancam em casa, ficam sozinhos horas a fio escrevendo histórias que ninguém vai ler."
Carrascoza situou sua "ascendência" entre Manuel Bandeira (1886-1968) e Raduan Nassar, este criador "de uma prosa eivada de poesia, quando eu achava que a prosa só podia servir para contar histórias, não sabia que a poesia podia habitá-la".
A árvore "genealógico-literária" de Torres, por sua vez, teve Machado de Assis ("tive um choque ao ler 'Os Vermes', capítulo de 'Dom Casmurro', de Machado de Assis; como podia um livro ser tão esquisito?") e, mais tarde, Gustave Flaubert (1821-1880), de quem ela admirou "a crueldade com seus personagens, mesmo que ele tenha me criado por uns tempos um problema profissional: virei uma atriz cínica [risos]".
Justamente Machado de Assis, lembrou Carrascoza, dizia que a vida era o espaço entre duas noites. "E esse espaço é de dilaceramentos pesados, o que ainda assim é melhor do que nada. Por isso estamos aqui falando e escrevendo sobre ele. Escrever é uma forma de acalmar essa dor", comentou ele.

continua após publicidade

Gostou desta matéria? Compartilhe!

Icone FaceBook
Icone Whattsapp
Icone Linkedin
Icone Twitter

Mais matérias de Entretenimento

    Deixe seu comentário sobre: "'A maior ameaça que sinto é dizer que escrevo', diz Fernanda Torres em Paris"

    O portal TNOnline.com.br não se responsabiliza pelos comentários, opiniões, depoimentos, mensagens ou qualquer outro tipo de conteúdo. Seu comentário passará por um filtro de moderação. O portal TNOnline.com.br não se obriga a publicar caso não esteja de acordo com a política de privacidade do site. Leia aqui o termo de uso e responsabilidade.
    Compartilhe! x

    Inscreva-se na nossa newsletter

    Notícia em primeira mão no início do dia, inscreva-se agora!