Mariana Gomes, de 24 anos, passou em primeiro lugar na Pós-graduação em Cultura e Territorialidades da Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói, com o projeto “My pussy é poder – A representação feminina através do funk no Rio de Janeiro: Identidade, feminismo e indústria cultural. Entre os objetivos do projeto está a desconstrução da ideia de que o funk seria o último grito do feminismo através das músicas de Valesca Popozuda, Tati Quebra Barraco, entre outras. Recentemente, Valesca foi escolhida como patronesse de uma turma de calouros de Mariana.
A ideia do projeto começou a surgir em agosto de 2008, quando a estudante ainda cursava a graduação em Estudos de Mídia, na mesma universidade. Ao estudar o funk e a sociabilidade da classe trabalhadora no município do Rio, ela visitou bailes funks em lugares como a Rocinha, na Zona Sul, em Santa Cruz, na Zona Oeste, e na Ladeira dos Tabajaras, também na Zona Sul.
“Eu fui observando que havia poucas mulheres cantando e que este papel ficava com os homens. As mulheres só estavam presentes dançando e quando havia erotismo. Parecia que não tinha espaço para a participação feminina em outros assuntos. E o público do baile é em sua maioria feminino”, explica a mestranda. A pesquisa deu origem ao seu projeto de conclusão de curso intitulado "Melancia, Moranguinho e melão: frutas estão na feira - A representação feminina do funk em jornais populares do Rio de Janeiro."
Ao longo do curso, a aluna pretende discutir se as letras de funk cantadas por Valesca Popozuda e outras intérpretes do gênero são um caso de libertação feminina ou apenas um atendimento da demanda do mercado erótico.
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18/04/13, 09:04
Valesca Popozuda é tema de TCC de mestrado no Rio
Mariana Gomes agora é aluna de Cultura e Territorialidades da UFF, no RJ
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Texto: A- A+
Mariana Gomes, de 24 anos, passou em primeiro lugar na Pós-graduação em Cultura e Territorialidades da Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói, com o projeto “My pussy é poder – A representação feminina através do funk no Rio de Janeiro: Identidade, feminismo e indústria cultural. Entre os objetivos do projeto está a desconstrução da ideia de que o funk seria o último grito do feminismo através das músicas de Valesca Popozuda, Tati Quebra Barraco, entre outras. Recentemente, Valesca foi escolhida como patronesse de uma turma de calouros de Mariana.
Mariana Gomes passou em 1º lugar no mestrado em Cultura e Territorialidades na UFF (Foto: Arquivo Pessoal)
A ideia do projeto começou a surgir em agosto de 2008, quando a estudante ainda cursava a graduação em Estudos de Mídia, na mesma universidade. Ao estudar o funk e a sociabilidade da classe trabalhadora no município do Rio, ela visitou bailes funks em lugares como a Rocinha, na Zona Sul, em Santa Cruz, na Zona Oeste, e na Ladeira dos Tabajaras, também na Zona Sul.
“Eu fui observando que havia poucas mulheres cantando e que este papel ficava com os homens. As mulheres só estavam presentes dançando e quando havia erotismo. Parecia que não tinha espaço para a participação feminina em outros assuntos. E o público do baile é em sua maioria feminino”, explica a mestranda. A pesquisa deu origem ao seu projeto de conclusão de curso intitulado "Melancia, Moranguinho e melão: frutas estão na feira - A representação feminina do funk em jornais populares do Rio de Janeiro."
Ao longo do curso, a aluna pretende discutir se as letras de funk cantadas por Valesca Popozuda e outras intérpretes do gênero são um caso de libertação feminina ou apenas um atendimento da demanda do mercado erótico.
A funkeira Valesca Popozuda é patronesse da turma de Estudos de Mídia da UFF (Foto: Alexandre Durão/G1)
“A MC Dandara, que escreveu “Funk de sainha”, sucesso gravado pela Valesca, escreve músicas de protesto, como o rap “Nossa banheira”. É uma música muito politizada. Mas ela precisa escrever músicas para vender. Então é possível que o erotismo nas letras de funk seja um fator mercadológico. A questão do corpo é o que mais me interessa. A relação entre feminismo e erotismo é perigosa, inclusive para a Valesca. Ela se diz feminista, mas será que é mesmo?”, questiona Mariana, reiterando que em uma das músicas, a cantora de funk diz Mulher burra fica pobre/ Mas eu vou te dizer/ Se for inteligente pode até enriquecer/ Por ela o homem chora/ Por ela o homem gasta/ Por ela o homem mata / Por ela o homem enlouquece / Dá carro, apartamento, joias, roupas e mansão / Coloca silicone / E faz lipoaspiração / Implante no cabelo com rostinho de atriz / Aumenta a sua bunda pra você ficar feliz.
Segundo Mariana, as letras trazem o valor da mulher interesseira. “A cantora afirma o corpo como espaço de liberdade, mas ele pode ser uma prisão, neste caso, porque o objetivo é conseguir bens materiais. Não chega a ser uma prostituição, mas é um jogo perigoso”.
Abertura na universidade
A aprovação da aluna em primeiro lugar no curso com o tema e escolha de Valesca Popozuda para patronesse de uma turma de Estudos de Mídia indicam uma abertura na Universidade Federal Fluminense para um assunto que nem sempre foi acolhido pelo mundo acadêmico.
"Aquela turma ter escolhido a Valesca foi uma atitude ideológica. Estamos aqui para dizer que não existe baixa cultura. A minha turma escolheu o Saramago [José Saramago, escritor português morto em 2010]. Colocaram os dois em pé de igualdade, talvez para mostrar que a hierarquização da cultura só é prejudicial para a discussão", considera a estudante.
Pronto falei
Reforçando a discussão da hierarquização da cultura, a jovem lembra das expressões "pronto falei" e "vou confessar que" utilizadas pelas pessoas que dizem que gostam de funk. "É comum você ouvir: vou confessar que gosto da Valesca. As pessoas já sabem que serão julgadas, ou elas mesmas se julgam. É importante quebrar este paradigma de séculos. Fazer isso vir à academia é muito importante", encerra Mariana.
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