Em projeto paralelo, Dinho Ouro Preto, vocalista do Capital Inicial, propõe releituras de clássicos internacionais. Essa foi a forma que ele encontrou para oferecer algo novo, sem abandonar o posto oficial e cativo no Capital Inicial. “Esse disco foi um capricho meu. Queria fazer algo diferente do que faço no Capital há 30 anos.”
Quando propôs à gravadora Sony, acreditou que a brincadeira se resolveria rapidamente, no hiato de produção da banda. “Sabia que só produziríamos depois de um ano, achei que gravaria todo o CD em um mês, mas no fim foi o projeto mais longo que já fiz. Durou um ano.”
As 12 músicas do álbum solo “Black heart” foram selecionadas, segundo o cantor, pela qualidade das letras. São de certa forma autobiográficas, pois contribuiram para a formação do artista ao longo dos seus quase 48 anos (ele faz aniversário neste mês), mas não resumem seu apreço musical.
Cruel
As produções de Leonard Cohen, Morrissey, Patti Smith, Nick Cave, Elvis, Ian Curtis, Jack White têm em comum a temática dos relacionamentos amorosos. O rótulo fácil de trabalho romântico, entretanto, é rapidamente rechaçado pelo cantor. “Nenhuma das músicas fala de amor. São todas fortes, cheias de maldade. A Patti Smith compara o relacionamento com heroína. Isso não é romântico."
A maldade, aliás, é pré-requisito para agradar os ouvidos do cantor. Aos onze anos, quando foi apresentado aos Beatles, Dinho achou o trabalho dos meninos de Liverpool “muito frouxo”, meigo demais. O mesmo descaso foi dado a Elvis.
"Eu fui um cara difícil de ser catequizado. Gostava do punk-rock. Meu gosto foi mudando depois de homem feito. Achei os Beatles sem maldade, frouxo. O mesmo aconteceu com o Elvis. Fui comprar os discos e ouvir as músicas dele só depois de adulto", recorda ele, que agora regrava "Suspicious Minds."
Dinho não canta a favor da dor de cotovelo, mas assume que o novo trabalho revela, de alguma forma, sua maneira “visceral” de amar. “É mais emotivo, e as letras mostram que é possível abordar esse tema sem ser brega. Essa também é a minha forma de amar.”
Fossa educativa
As releituras pendem para a melancolia (explícita no nome do CD) como é o caso de “Being Boring”, do Pet Shop Boys, mas não refletem uma angústia do cantor. Envelhecer ao lado de um público adolescente é visto como um privilégio para Dinho. “Não acho que eu sofra da síndrome de Peter Pan. Sou um homem maduro, responsável, pai de dois filhos. Mas tenho um espírito jovem, que se renova com essa garotada. Achei a fonte da juventude.”
O disco cover não é direcionado a um público específico, mas tem a pretensão de ser pedagógico para os fãs de Capital Inicial. “É uma forma de apresentar, ensinar coisas muito boas para essa galera que acompanha o Capital e não conhece esses clássicos. Não fiz por isso, mas pode ter essa função.”
Ele ainda recomenda que as letras sejam compreendidas e traduzidas. “É um trabalho primoroso de texto. Vale conhecer, entender.” Após a “alfabetização”, os pupilos não devem esperar que os repertórios se misturem nos shows. As duas carreiras permanecerão separadas por fronteiras claras, sem risco de invasão. “No Capital eu sou compositor e cantor. Nesse projeto, apenas intérprete. As duas coisas permanecerão dessa forma nos palcos.”
Deixe seu comentário sobre: "Dinho Ouro Preto grava disco com clássicos internacionais"