Os juros futuros fecharam em alta na sessão desta sexta-feira, 17, mais acentuada na ponta longa, descolados da melhora do câmbio e alinhados à abertura da curva americana. A entrevista do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, aoBroadcast/Estadão(sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) contribuiu para pressionar as taxas, dada a leitura de que as declarações reforçaram a ideia de aumento do risco de o Copom parar de reduzir a Selic em junho ou ao menos fazer uma pausa no ciclo de quedas. Analistas destacam ainda um movimento de antecipação de eventual piora nas variáveis da próxima pesquisa Focus. Na semana, todas as taxas subiram, mas as curtas em maior magnitude, o que representou perda de inclinação.
No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 estava em 10,375%, de 10,352% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026, em 10,67%, de 10,56% ontem no ajuste. A do DI para janeiro de 2027 rompia os 11%, fechando aos 11,02%, de 10,88% ontem. O DI para janeiro de 2029 tinha taxa de 11,50% (de 11,37%).
O comportamento das taxas tem elementos externos e internos de busca de proteção do investidor contra o risco prefixado. No Brasil, há crescimento do ceticismo quanto à continuidade dos cortes da Selic, com a curva nesta tarde precificando apenas 25% de chance de queda de 25 pontos-base na taxa no Copom de junho, contra 75% de probabilidade de manutenção. Para o fim de 2024, a curva projetava taxa de 10,55%, ou seja, até um pouco acima do nível atual de 10,50%.
O economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, afirma que o ambiente da política monetária ficou muito conturbado após o Copom e as tentativas do Banco Central de corrigir os ruídos de comunicação gerados pela divergência dos votos, o que favorece posições de cautela. "A discussão agora é se o ciclo terminou ou vamos ter mais uma redução", disse.
Borsoi cita ainda que a entrevista de Campos Neto teve um "tom crítico e um pouco pesado", destacando por exemplo o trecho em que o presidente do BC diz que "o mais importante é saber dizer não". "Vão vir várias ideias e propostas que não são nem do interesse da sociedade e nem do BC. Às vezes é preciso dizer não para o Executivo. Às vezes, para o Legislativo. Que tenha a firmeza de dizer não, que tenha a capacidade de explicar a opinião e que passe transparência ao longo do tempo. Mas a capacidade de dizer não é crucial", afirmou Campos Neto.
Em meio às suspeições levantadas contra os diretores que votaram pela redução de 50 pontos-base, Campos Neto voltou a reforçar o caráter técnico do Copom e a necessidade de mudança no ritmo dada a desancoragem das expectativas. Mas evitou qualquer sinalização futura. "Não posso adiantar novos cortes. Precisamos de tempo, serenidade e calma para saber como as variáveis vão se desenrolar."
Além dos sinais dos diretores ao longo da semana, hoje pesaram ainda as preocupações com a trajetória das expectativas de inflação, que vêm se afastando da meta de 3%. "Vejo algum temor sobre o que pode trazer o Boletim Focus na segunda-feira, dado o forte movimento de revisão para cima de inflação e juros", comenta Borsoi. Nesta sexta, o Santander Brasil informou ter elevado suas estimativas para a Selic de 9% para 9,75% em 2024 e de 8% para 9% em 2025.
No exterior, os rendimentos voltaram a avançar, dessa vez com a fala da diretora do Federal Reserve Michelle Bowman, de que continua disposta a retomar altas de juros caso os dados indiquem que o progresso na inflação estagnou ou reverteu. A taxa da T-Note de dez anos voltou a superar 4,40%.
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