Os juros futuros subiram nesta segunda-feira, 21, num movimento capitaneado pelo exterior, mais precisamente pela escalada dos yields dos Treasuries, com a T-Note de dez anos tocando as máximas desde 2007. A piora do câmbio deu a sua contribuição - o dólar nas máximas do dia chegou perto dos R$ 5. Internamente, há desconforto com o cenário de reformas, cuja tramitação ainda não avançou desde o retorno do Congresso há três semanas.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 encerrou em 12,435%, de 12,430% no ajuste de sexta-feira, e a do DI para janeiro de 2025 subiu de 10,51% para 10,61%. O DI para janeiro de 2027 fechou com taxa de 10,48% (10,32% na sexta-feira). O DI para janeiro de 2029 marcava 10,98%, de 10,84%.
A trajetória das taxas nesta segunda-feira esteve novamente apoiada na curva dos títulos do Tesouro dos EUA. O juro da T-Note de dez anos chegou a 4,352%, maior nível desde novembro de 2007, enquanto o do papel de 2 anos tocou máxima nos 5,01%.
A nova rodada de alta não teve gatilho específico, vista como continuidade das tensões recentes com a possibilidade de juros elevados por muito tempo nos EUA, e possíveis consequências para o setor financeiro e dívida pública americana. Não se descarta, contudo, que o mercado esteja se antecipando a possíveis alertas do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, em seu discurso na sexta-feira, no simpósio de Jackson Hole, evento em que a autoridade monetária costuma antecipar seus movimentos na política monetária.
Outro problema é a China. A redução de juros anunciada pelo banco central frustrou o mercado, elevando a preocupação com o ritmo da economia. A taxa para empréstimos de um ano foi reduzida para 3,45%, ante expectativa de 3,40% e a taxa de cinco anos se manteve inalterada em 4,20%, ante media de 4,05%.
Os juros por aqui também foram contaminados pelo aumento da pressão sobre o câmbio, que é variável-chave para preços. Na máxima, o dólar chegou nesta segunda a R$ 4,9970, para fechar em R$ 4,9787. "O cenário de melhora da inflação estagnou nas últimas semanas, não só pela fraqueza do real, mas também porque o movimento de redução das expectativas de inflação igualmente parou de evoluir", destacou Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho.
Não por acaso, os preços do atacado já têm retomado fôlego, com deflações menores. Na segunda prévia de agosto, o IGP-M caiu 0,02%, ante 0,72% na segunda prévia de julho, informou nesta segunda a Fundação Getulio Vargas (FGV).
Na pesquisa Focus, a mediana de IPCA para 2023 voltou a subir, de 4,84% para 4,90%, refletindo o ajuste nos preços da gasolina anunciados pela Petrobras. Não houve alteração nas estimativas que contam para o horizonte relevante da política monetária, ou seja 2024 (3,86%) e 2025 (3,50%). "As expectativas mais longas permanecem acima das metas, uma limitação para a atuação mais agressiva do Banco Central no ciclo de flexibilização monetária", afirma Luiza Benamor, analista da Tendências Consultoria.
Nesse contexto, a curva preservava nesta tarde apenas 20% de probabilidade de uma aceleração no ritmo de queda da Selic a 0,75 ponto porcentual, no Copom de setembro, segundo Rostagno. Outros 80% representam as chances de corte de 0,50 ponto. Para 2023, a curva projetava Selic entre 11,50% e 11,75%. Para o fim de 2024, a projeção, que já chegou a ser menor do que 9%, era de 9,50%.
Outro fator importante no balanço de riscos do Banco Central são as reformas e a ausência de avanços na tramitação tem incomodado o mercado, cuja expectativa era de uma definição da reforma ministerial que pudesse abrir caminho. "Mas Lula viajou sem definir nada", observou o estrategista do Mizuho. O presidente está na África do Sul para participar da 15ª Cúpula dos Brics.
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