Os juros sustentaram o ajuste de alta até o fechamento dos negócios, ainda apoiados em declarações "hawkish" dos dirigentes do Banco Central (BC) entre a segunda-feira e a terça-feira e na influência negativa do ambiente externo na volta de Wall Street do feriado. As taxas que mais subiram foram as curtas e intermediárias refletindo a redução de apostas mais otimistas sobre a Selic, após alertas do presidente do BC, Roberto Campos Neto, e do diretor de Política Monetária, Bruno Serra, enquanto a ponta longa respondeu basicamente ao exterior.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023, com mais de 1 milhão de contratos negociados nesta terça, fechou em 13,74%, de 13,71% na segunda. O DI para janeiro de 2024, também com giro acima do padrão, voltou a rodar acima dos 13%, fechando em 13,10%, de 12,82% no ajuste anterior. A do DI para janeiro de 2025 encerrou em 11,93%, de 11,69%, e a do DI para janeiro de 2027 avançou a 11,62%, de 11,44%.
As taxas vinham caindo seguidamente desde a última quarta-feira (30), o que naturalmente já deixava espaço para correção. O movimento de alívio nos prêmios parece ter trazido algum desconforto ao Banco Central, que aproveitou as oportunidades na segunda e na terça para um ajuste na rota.
Em evento Valor 1000, do jornal Valor Econômico, Campos Neto alertou na segunda-feira que o Brasil terá três meses consecutivos de deflação, mas a batalha não está ganha. Segundo ele, o BC não pensa em queda de juros neste momento, mas sim em finalizar o trabalho de convergência da inflação para as metas. Disse ainda que a decisão do Copom deste mês está em aberto e que o colegiado vai avaliar "um possível ajuste final" na Selic.
Bruno Serra, em evento virtual organizado nesta terça pela Bradesco Asset Management, fez coro, dizendo que haverá uma discussão no próximo Copom sobre um ajuste residual na Selic. "A inflação está em quase dois dígitos ainda. A nossa meta é de 3,25% em 2023 e 3,00% em 2024, é um desafio bem grande pela frente", disse.
Como resultado, a curva passou a projetar nesta terça 40% de chance de uma elevação de 0,25 ponto porcentual na taxa básica, para 14,00%, no encontro do dia 21, ante 60% de probabilidade de manutenção nos atuais 13,75%, segundo a Greenbay Investimentos. Para 2023, o orçamento total de cortes na curva caiu de 330 pontos da segunda para 290 pontos nesta terça.
Para o estrategista-chefe da CA Indosuez Brasil, Vladimir Caramaschi, a fala dos dirigentes deixou no ar um certo incômodo com a "cravada" do mercado de que o ciclo de alta havia terminado, já que muita coisa mudou desde o último Copom. "Não é pouca coisa a alteração nas apostas para o BCE e Fomc, por exemplo, que naquela ocasião eram de alta de 0,5 ponto para as reuniões de setembro", destacou. Apesar do ajuste nas apostas e do efeito sobre a curva, o estrategista viu as declarações como uma tentativa de frear a empolgação, mas "não colocam em dúvida de que o ciclo está perto do fim".
No exterior, os juros dos Treasuries subiram após surpresa com a alta do índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) do setor de serviços americano mantido pelo Instituto para Gestão da Oferta (ISM, na sigla em inglês), ante expectativa de baixa. No fim da tarde em Nova York, o juro da T-note de 2 anos avançava a 3,505% e o da T-note de 10 anos a 3,339%. Segundo o CME Group, as chances de alta de 75 pontos-base pelo BC americano neste mês subiram a 74%, contra 26% de chance de 50 pontos. Na sexta-feira, eram, respectivamente, 57,0% e 43,0%.
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