Os juros futuros reduziram o ritmo de alta no meio da tarde, em meio a falas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre o pacote de gastos. Ainda que ele não tenha cravado quais são as medidas, tampouco quando serão anunciadas, as declarações serviram de gatilho para uma tentativa de realização de lucros, uma vez que as taxas vinham subindo há várias sessões seguidas.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 encerrou a 13,21%, de 13,18% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2027 subiu de 13,33% para 13,36%. O DI para janeiro de 2029 encerrou com taxa de 13,16% (de 13,15% ontem).
A possibilidade de o pacote ser anunciado só no fim da semana que vem, junto com o relatório bimestral de despesas e receitas, no dia 22, atormentou o mercado pela manhã. O Broadcast Político apurou que a divulgação deveria ficar para depois da participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no evento, que termina no dia 19. Como dia 20 é feriado da Consciência Negra, a expectativa era de que o governo deixasse tudo para sexta.
Essa hipótese acabou ofuscando uma potencial reação positiva à informação de que as medidas incluem a adequação da política do aumento do salário mínimo ao arcabouço fiscal, também conforme o Broadcast Político. Ou seja, o aumento anual seria de no máximo 2,5% e no mínimo 0,6% além da inflação, o que teria impacto elevado na redução estrutural dos gastos.
No meio da tarde, após reuniões com Lula e com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), Haddad, falando a jornalistas, não descartou a chance de um anúncio ainda esta semana. "Hoje ainda temos uma reunião com o presidente, mas eu não sei se há tempo hábil (para anúncio)", afirmou. "Se o presidente autorizar, anunciamos. Mas o mais importante, assim que ele der a autorização, nós estamos prontos para dar publicidade aos detalhes", disse.
Segundo Haddad, o número do pacote será "expressivo" e reforçará o conceito de que todas as rubricas devem, na medida do possível, ser incorporadas ao que prevê o arcabouço.
Na esteira das declarações de Haddad, as taxas, que subiam em torno de 10 pontos-base, reduziram a alta para perto de 5 pontos, com o mercado tentando dar o benefício da dúvida ao ministro, que mantém intacta a sua credibilidade. O mercado sabe que, há mais de uma semana, a decisão sobre o que entra e o que sai do pacote está nas mãos do presidente.
A dinâmica das taxas até então vinha sendo ditada também pelo exterior e pela reação à pesquisa de serviços. Esta última atingiu especialmente a ponta curta, segundo a economista-chefe da CM Capital, Carla Argenta. O volume de serviços prestados cresceu 1,0% sem setembro, no teto das estimativas. A mediana era de 0,6%. "Os números corroboram a pujança da economia doméstica. Sabemos o quanto o setor de serviços tem sido caro ao BC e a política monetária neste momento", diz.
Do lado externo, investidores seguiram se posicionando para uma política econômica inflacionária nos EUA na gestão Trump. "São inflacionárias e devem colocar o Fed em alerta, o que está traduzido em discursos de dirigentes hoje", afirma Argenta.
Os receios com a era Trump chegam num momento em que o processo de desinflação nos EUA dá sinais de esgotamento. O núcleo do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) dos Estados Unidos avançou 3,3% em outubro, mesmo ritmo de setembro e dentro das previsões dos analistas.
Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad, diz que os dados da CPI encerram a sequência de quedas observada nos últimos meses. "Embora a inflação esteja próxima da meta e o Fomc usualmente não se deixa influenciar por apenas uma leitura, dúvidas sobre o que pode vir pela frente serão levantadas", afirma o economista, completando que neste momento as atenções "inevitavelmente" começam a se voltar para 2025 e os potenciais impactos das medidas do novo governo Trump.
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