O dólar à vista encerrou a sessão desta terça-feira, 10, em queda moderada no mercado local, mas ainda acima da linha de R$ 6,00, na contramão do sinal predominante de alta da moeda americana no exterior. Entre as poucas divisas emergentes e de exportadores de commodities que se valorizaram hoje, destaque para o real e seu principal par, o peso mexicano.
Após o dólar fechar dois pregões seguidos no pico nominal histórico, operadores afirmam que havia espaço para um recuo da taxa de câmbio em caso de sinais mais positivos no campo fiscal. Parte expressiva da apreciação do real hoje foi atribuída a ajustes de prêmios de risco diante da possibilidade de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não concorra à reeleição em 2026. A ausência de Lula aumentaria as chances de vitória de um nome à direita do espectro político na corrida ao Palácio do Planalto, em tese mais afinado com a agenda de redução de gastos públicos.
Lula passou por uma cirurgia de emergência na madrugada de ontem para hoje para drenagem de hemorragia intracraniana, no hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Segundo a equipe médica, a intervenção foi bem-sucedida, o presidente está bem e não terá sequelas. O presidente permanece em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para observação.
Para o trader de renda fixa e moedas da Connex Capital, Gean Lima, a possível retirada de Lula da eleição de 2026 teve, de fato, reflexo na formação da taxa de câmbio hoje. "Em um cenário sem Lula, o PT ficaria enfraquecido. O principal nome seria Haddad, que é moderado, mas também está mais fraco com essa desconfiança no fiscal", afirma Lima, em referência ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Outro ponto citado como possível gatilho para a recuperação do real foi a sinalização, ontem à noite, do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), de que pode destravar a tramitação do pacote de ajuste fiscal. Ele se reuniu com líderes da Casa após conversa com Lula e disse esperar a confirmação de que o Executivo resolverá, de fato, a insatisfação do Parlamento em relação à execução das emendas parlamentares.
Com esse conjunto de informações, o dólar iniciou a sessão em forte baixa, com mínima a R$ 6,0185 nos primeiros minutos de negócios. A divisa reduziu gradualmente as perdas ainda pela manhã, movimento que se estendeu ao longo da tarde. No fim do dia, era negociada a R$ 6,0480, em queda de 0,57%, depois de ter fechado os dois pregões anteriores no pico nominal histórico.
À tarde, o secretário executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, afirmou que podem ser feitos ajustes menores nas regras do Benefício de Prestação Continuada (BPC) para destravar a votação das medidas de ajuste fiscal, mas preservando o impacto do pacote. Durigan relatou encontro com a bancada do PT, que mostrou preocupação com as alterações do BPC.
Após o fechamento do mercado de câmbio, o ministro da Advocacia-Geral da União (AGU), Jorge Messias, disse que o governo vai publicar até o final do dia um parecer para orientar a execução das emendas parlamentares a partir das novas regras determinadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Para o economista-chefe da Equador Investimentos, Eduardo Velho, a manutenção do dólar acima de R$ 6,00 mostra que há ceticismo com a aprovação integral do pacote de corte de gastos apresentando pelo governo. Há receio de que parte das medidas seja apreciada apenas em 2025, após o recesso parlamentar.
Dada a "ausência de uma âncora fiscal", Velho considera que o Comitê de Política Monetária (Copom) deveria promover um "choque na taxa de juros", com alta de 1 ponto porcentual da taxa Selic amanhã, 11, e sinalização de juros elevados por bastante tempo.
"Isso poderia trazer algum alívio para o dólar, que está numa dinâmica muito ruim. A taxa já está se consolidando acima de R$ 6,00 e pode mudar de patamar para cima mais uma vez se não houver uma reação do BC", afirma o economista da Equador.
No exterior, o índice DXY - termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de moedas fortes - subiu e orbitava os 106,400 pontos no fim da tarde, após máxima ao 106,637 pontos. As taxas dos Treasuries avançaram em bloco, com o retorno do papel de 2 anos voltando a superar 4,15%. Investidores aguardam a divulgação amanhã do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) nos EUA em novembro para refinar as apostas para a decisão de política monetária do Federal Reserve na próxima semana.
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