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Projeções de inflação do BC sinalizam uma queda menor dos juros

A trajetória da inflação prevista pelo Banco Central deve levar a um aumento das projeções do mercado para a taxa Selic no final deste e do próximo ano, avaliam os economistas. Ou seja, os juros devem cair menos do que se esperava. A leitura dos analistas

Thaís Barcellos e Cícero Cotrim (via Agência Estado)

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Escrito por Thaís Barcellos e Cícero Cotrim (via Agência Estado)
Publicado em 04.04.2024, 08:11:00 Editado em 04.04.2024, 08:14:04
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A trajetória da inflação prevista pelo Banco Central deve levar a um aumento das projeções do mercado para a taxa Selic no final deste e do próximo ano, avaliam os economistas. Ou seja, os juros devem cair menos do que se esperava. A leitura dos analistas é que os patamares de 9% para a Selic em dezembro, e de 8,5% no fim de 2025, como indicado pelas medianas da pesquisa Focus, serão insuficientes para fazer com que o IPCA convirja para o centro da meta, de 3%.

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Essa percepção ganhou força depois da divulgação do Relatório Trimestral de Inflação (RTI) do BC, na semana passada. No cenário de referência, o BC estimou que a inflação fecharia este ano em 3,5%, cairia a 3,2% em 2025, e repetiria a mesma taxa em 2026. Isso significaria que, com a trajetória da taxa Selic indicada no relatório Focus, a autoridade monetária não vê o IPCA convergindo para o centro da meta, que é de 3%.

Ciclo menor

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"A mensagem que veio das projeções do RTI, de inflação acima da meta dois anos à frente, é que não parece ser possível a Selic cair até 8,5%, que o ciclo teria de parar antes", diz Alexandre Schwartsman, ex-diretor do BC e consultor da A.C. Pastore & Associados. "Do ponto de vista de mercado, já houve uma reavaliação a esse respeito: a curva não coloca mais 9% como uma Selic terminal possível."

O nível da taxa Selic precificado pela curva de juros tem oscilado ao redor de 9,75% desde a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), há duas semanas, enquanto o boletim Focus ainda não se moveu. Como mostrou oEstadão/Broadcast(sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), o colegiado tentou usar a ata, divulgada em 26 de março, para mostrar que seu cenário-base para o juro no fim do ciclo estava preservado, mas não convenceu o mercado.

Para Schwartsman, o atraso nos ajustes das projeções é natural pela forma de apuração do Focus, mas a tendência continua sendo de elevação das medianas. Uma Selic de 8,5% no fim do ano que vem, com IPCA de 3,5%, como indica a mediana, representaria juro real de 5% - apenas um pouco acima da taxa neutra calculada pelo próprio BC, de 4,5%, e em linha com a estimativa de boa parte do mercado.

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"Se a projeção para a inflação segue acima da meta e para reduzi-la à meta você precisa de um juro real maior do que o neutro, estamos vendo que o juro terminal claramente não será 8,5%", diz Schwartsman, que espera Selic de 9,25% no fim de 2025.

Luís Otávio de Souza Leal, economista-chefe da G5 Partners, considera "bem possível" um aumento da mediana da Selic no fim deste ano, de 9% para 9,25%, na próxima edição do Focus. As projeções do relatório trimestral sugerem, diz ele, que seria necessário uma taxa entre 9,5% e 9,75% no fim deste ano para promover a convergência da inflação à meta.

Mesmo assim, Leal mantém a projeção da Selic a 9% no fim deste ano, com um corte de 0,5 ponto porcentual em maio, seguido por cinco baixas de 0,25 ponto. Interromper a redução dos juros ainda no primeiro semestre, em sua visão, poderia colocar o BC sob pressão na segunda metade do ano, quando o governo escolherá o próximo presidente da autarquia.

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"O modelo do BC não está convergindo não só por causa da trajetória de juros do Focus, mas também por causa das expectativas de inflação, que estão acima da meta. E por quê? Porque ninguém sabe que BC estará aí a partir de janeiro. Se o BC parar de cortar juros agora, essa vai ser uma profecia autorrealizável: você aumenta a chance de ter um nome heterodoxo e, aí, as expectativas não caem mesmo."

Risco

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A diretora de macroeconomia para o Brasil no UBS Global Wealth Management, Solange Srour, acredita que a mediana do Focus para a Selic não deve mostrar grandes mudanças por ora. Segundo ela, é mais provável que os economistas esperem mais dados de inflação subjacente para ver a evolução da relação entre o mercado de trabalho aquecido e os preços de serviços, uma das incertezas apontadas pelo BC.

"Com base no nosso cenário, parece que a Selic terminal daria para ser menor que 9,75%, mas depois de um discurso que mostra uma certa divisão no Copom, dados mais fortes de mercado de trabalho, PIB dos Estados Unidos e discursos do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) mais duros, o risco está para ser mais alto do que ser mais baixo", diz, observando que a precificação da Selic em torno de 9,75% pode ser um nível restritivo demais. "Mas é um patamar mais condizente com os dados e a comunicação recente do que os 9% do Focus."

Segundo ela, o que vai determinar qual número está mais próximo da realidade são os dados dos próximos meses, e, principalmente, quando terá início a queda de juros pelo Fed.

As informações são do jornalO Estado de S. Paulo.

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