Em entrevista a um canal de notícias com sede na Venezuela, o presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Marcio Pochmann, defendeu a reindustrialização do Brasil, proposta pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e citou as desigualdades regionais do País.
Segundo ele, cidades vinculadas à produção primária exportadora estão vivenciando "quase uma espécie de crescimento chinês", enquanto, em outros lugares, a realidade é de estagnação, presença de igrejas e expansão do crime organizado.
Pochmann destacou, porém, que ainda não se sabe se a nova indústria brasileira, que receberá estímulos do governo, repetirá os padrões geográficos de décadas passadas, se instalando no Sudeste, ou se haverá dispersão em outras regiões.
"Não se sabe os locais nos quais essa nova indústria se instalará. Se repetirá locais que até então eram a estrutura da indústria, de forte concentração no Sudeste, ou se teremos uma indústria mais dispersa no território nacional", disse o executivo em entrevista ao programa Latitud Brasil, da Telesur, rede de televisão multiestatal com sede em Caracas.
O link para a entrevista foi postado nesta segunda-feira, 12, pelo presidente do IBGE na rede social X (ex-Twitter), sem informação sobre data em que foi realizada e transmitida. Procurada, a assessoria de comunicação do instituto não soube informar.
"O que se sabe é que, com os investimentos alocados no plano de aceleração do crescimento, o Brasil vai melhorando sua estrutura em vários locais das regiões brasileiras, o que é importante, porque o nosso desenvolvimento sempre foi muito concentrado em poucas regiões, poucas cidades", explicou. "Há um esforço também de buscar um desenvolvimento menos desigual do ponto de vista regional."
Os cerca de 5.570 municípios são divididos em três tipos, afirmou. Um grupo, com 40% das cidades, tem forte dinamismo. "Quase uma espécie de crescimento chinês, porque são vinculadas à produção primária exportadora." Um grupo com 15% dos municípios tem população muito pequena, e parte importante dela dependendo de transferência de renda, aposentadoria ou programas sociais.
E um grupo com aproximadamente 35% é formado por grandes municípios, que já foram parte da estrutura industrial, mas perderam o protagonismo econômico. "São cidades que vivem quadro de estagnação, com muita dificuldade de conviver, inclusive, com esse novo formato dessa massa sobrante no Brasil, que é muito vinculada ao papel das igrejas e ao papel do crime organizado, que vem tendo espaço inegável em grandes centros urbanos no País."
Pochmann criticou as formas como os ex-presidentes Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso lidaram com o processo de globalização. "A forma como o Brasil se inseriu na globalização, a partir da década de 1990, trouxe o reposicionamento na divisão internacional do trabalho", disse.
"O Brasil, até início dos anos 90, tinha uma estrutura produtiva complexa, diversificada e integrada regionalmente. Nas exportações, era majoritariamente exportador de bens industriais manufaturados, com valor agregado considerável", apontou, mencionando as vendas externas de carros e aviões. "Exportava quase todos os bens industriais", disse. "Lembra do presidente Collor dizendo que o Brasil só produzia carroças, que o bom é importar? Isso tem seu custo."
Pochmann destacou, ainda, que "o Brasil é hoje um país que depende muito da produção e exportação de bens primários, porque geram reservas que nos permitem pagar a dependência crescente em relação ao exterior em produtos de maior valor agregado e maior conteúdo tecnológico". Para ele, o resultado deste modelo é geração de empregos de qualidade baixa.
"O Brasil é o quarto mercado consumidor de bens e serviços digitais. E praticamente não produz nada. Toda essa parafernália da revolução informacional, nós adquirimos de fora, não produzimos internamente."
"A opção do presidente Lula (pela reindustrialização) me parece absolutamente necessária porque, ao expandir a indústria com maior qualidade e maior valor agregado, melhores empregos vão ser gerados", concluiu.
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