O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, citou nesta sexta-feira, 1º de dezembro, a sincronia de credibilidade entre as políticas fiscal e monetária entre os motivos que permitiram ao Brasil crescer este ano mais do que as previsões iniciais, ao mesmo tempo em que as expectativas de inflação no longo prazo convergiram em direção à meta. Durante almoço da Febraban, a federação dos bancos, Campos Neto destacou ainda que as preocupações sobre um colapso no mercado de crédito após o rombo da Lojas Americanas não se confirmaram. "O crédito no Brasil navegou melhor do que em outros países", afirmou durante almoço com banqueiros. Segundo Campos Neto, também houve um erro de avaliação dos economistas sobre a nova dinâmica econômica global após os estímulos sem precedentes e sincronizados na pandemia. Ele apontou que o primeiro erro das análises foi não entender que o consumo de bens e serviços e voltaria. Os economistas, acrescentou, também deram muito valor ao choque de oferta, além de terem subestimado os efeitos dos estímulos fiscais e monetários. "Erramos bastante, até erramos um pouco mais em intensidade, mas teve erro global", declarou Campos Neto, explicando que, em geral, os economistas não conseguiram compreender num primeiro momento o cenário de estímulos sincronizados no mundo. "Os impulsos fizeram com que a dinâmica econômica fosse diferente", assinalou o presidente do BC. Ele voltou a dizer, também, que ficou mais claro que houve uma melhora do crescimento estrutural do Brasil - ou seja, a capacidade do País de crescer com menor pressão inflacionária.
O presidente do Banco Central afirmou que, com as variáveis como estão hoje, não faz um
guidancede qual será a taxa Selic terminal, mas que entende que será restritiva. O banqueiro central defendeu que o ritmo de cortes de 0,50 ponto segue apropriado, diante do comportamento da inflação corrente, do hiato da atividade e das expectativas de inflação. "Com as variáveis que temos na mão, ainda precisamos de juro em campo restritivo", disse. Campos Neto frisou que um movimento de Selic sem credibilidade poderia aumentar a taxa de juros longa e ter efeito contrário do esperado. O presidente do BC defendeu ainda que ao falar sobre o nível de juro real é importante olhar a estrutura da curva como um todo e não somente a ponta. "Não é verdade que a taxa real seja constante, ela tem caído dependendo do ponto da curva que se olha." O banqueiro central também destacou que o diferencial de juros com os Estados Unidos, tanto nominal quanto real, tem diminuído.
Em meio ao conflito entre bancos e credenciadoras em torno do parcelamento sem juros das compras de cartões de crédito, o presidente do Banco Central disse que a preocupação da autarquia, seja qual for o produto financeiro ou dinâmica de inovação, é com a estabilidade do sistema financeiro. Durante almoço na Febraban, Campos Neto salientou que o BC vem chamando todos os grupos envolvidos para encontrar uma solução sobre o parcelamento sem juros no cartão. Após pontuar que a instituição atua para estimular a competição entre bancos, gerando inclusão, com sustentabilidade, o presidente do BC observou que o parcelamento de compras sem juros cresceu muito, ao passo que os descontos praticados nas antecipações de recebíveis superam hoje o risco do emissor. Campos Neto revelou o receio de a indústria olhar apenas aos entraves de curto prazo sem perceber as oportunidades de expandir a oferta de crédito de forma mais sustentável.
Melhorias institucionaisO presidente do Banco Central minimizou riscos de reversão da autonomia conquistada pela autoridade monetária. Ele considerou que, apesar de "ruídos no processo", o Brasil poucas vezes deu passos para trás após obter avanços institucionais. Conforme Campos Neto, assim como a agenda de inovação, em especial o lançamento do Pix, colocou o BC em outro patamar na sociedade brasileira, a autonomia colocou a autarquia em outro patamar na arena internacional. Por causa da autonomia, disse, o BC do Brasil é hoje ouvido pelos demais bancos centrais. O presidente do BC salientou que as adaptações necessárias para a autonomia funcionar são um trabalho que, em parte, ainda está sendo feito pela instituição. "A autonomia é como se fosse uma planta, precisa ser regada", disse. Nesse ponto, ele disse que o BC tem atuado para melhorar a interação entre as diretorias, lembrando que a autonomia tem várias dimensões, não apenas do presidente do BC em relação aos interesses do governo, mas também dos diretores em relação ao presidente do BC. Também disse ser importante avançar em direção a uma maior flexibilidade administrativa do BC. "Tem sido um aprendizado interessante, fico feliz em fazer parte dessa história", declarou o presidente do BC. Ao fazer uma retrospectiva, Campos Neto lembrou das tentativas de aprovação da autonomia do BC que fracassaram nos anos anteriores, incluindo durante o mandato de seu antecessor, Ilan Goldfajn. Ele emendou que, apesar do ceticismo de muitos sobre a chance de a agenda prosperar, a autonomia se tornou uma realidade com o apoio do Executivo e do Congresso. No almoço com os banqueiros, Campos Neto destacou também que o Brasil foi um dos poucos países que realizaram reformas durante a pandemia, citando a reforma da Previdência e a aprovação do marco do saneamento entre as medidas que, junto com outras reformas estruturais, permitiram uma melhora do potencial de crescimento do País.
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