O presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex Brasil), Jorge Viana, defendeu na China que o governo e o empresariado devem reconhecer seus problemas ambientais relacionados ao desmatamento da Amazônia ao invés de tentar ocultá-los. Diante de uma delegação composta principalmente por executivos do agronegócio, que sofrem pressão externa e interna por investimentos em sustentabilidade e até campanhas de boicote contra seus produtos, ele associou a derrubada da floresta ao avanço da pecuária.
"Nós brasileiros deveríamos parar de dizer fora do Brasil que o Brasil não tem problema ambiental. Nós temos e faz muito tempo", afirmou o petista Jorge Viana, que é ex-governador do Acre e engenheiro florestal.
Ele falou em um seminário organizado pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), realizado no Centro para China e Globalização (CCG). "Se nós reconhecermos o que já foi feito de equivocado, teremos maiores condições de defender aquilo de bom que estamos fazendo na Amazônia ou procuramos fazer."
A China é o principal mercado comprador dos produtos do agronegócio nacional. E o petista discursou diante de uma plateia com cerca de 100 representantes de governos locais, autoridades chinesas, e executivos de empresas gigantes do mercado brasileiro, como a Suzano, JBS e Vale.
Estavam na plateia representantes da Syngenta, Cargill e de think tanks chineses, além de diplomatas e especialistas em relações internacionais e integrantes da assessoria especial da Presidência da República.
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, abriu o seminário, mas não presenciou a declaração de Viana.
Viana citou uma série de dados para embasar sua tese. Segundo ele, nos últimos 50 anos, 21% da Amazônia foi desmatada, uma área de 84 milhões de hectares. Outros 79% por cento da Amazônia permanecem preservados.
"Quero dar números bem objetivos. Falei que 84 milhões de hectares foram desmatados. Para que essas áreas estão sendo usadas? 67 milhões de hectares para a pecuária; 6 milhões para agricultura de grãos. E 15 milhões (são) de floresta secundária", afirmou o presidente da Apex.
Ele creditou os dados a instituições como o Ministério da Agricultura, a FAO, e entidades de monitoramento por satélite do desmatamento, como o Mapbiomas e o Imazon. "O Brasil reconhecendo os problemas que tem pode apresentar soluções extraordinárias e essas soluções podem ser muito fortes no sentido de convencer nossos interlocutores."
Segundo Viana, o desmatamento foi reduzido nos governos FHC, Lula 1 e 2, e Dilma Rousseff, mas dobrou no governo Jair Bolsonaro. "Nós tivemos problemas com o governo passado. Reconheço que o governo passado incentivou a ocupação de terras indígenas e o desmatamento", afirmou ele, ponderando que o setor produtivo e a sociedade civil decidiram enfrentar o desmatamento.
Ele também disse que o Código Florestal brasileiro ainda não foi totalmente implementado. Para o presidente da Apex, quando o País consegue reverter essa tendência, ainda em alta no governo Lula conforme dados do Deter, deve ser considerado uma vitória também do setor produtivo. Ele propôs melhorias tecnológicas no uso da terra e restauração florestal. Afirmou que Vale, Suzano e Marfrig vão recuperar 4 milhões de hectares em área degradada.
Viana disse que Lula quer visitar Pequim o quanto antes, depois de adiar a viagem por motivo de saúde, e defendeu a formalização de um mecanismo de cooperação ambiental do Brasil com a China, maior emissor de gases estufa do mundo, com destaque para o mercado de créditos de carbono.
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