A demissão do presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, joga o Ibovespa para baixo, em meio a crescentes temores de ingerência política. Assim, o principal indicador da B3 ignora a alta das bolsas norte-americanas. Ao mesmo tempo, influencia negativamente o principal indicador da B3 a queda em torno de 1,50% do minério de ferro, em Dalian, na China, e do petróleo.
Na terça, o Ibovespa fechou em alta de 0,28%, aos 128.515,49 pontos. Às 11h18, o principal indicador da B3 caía 1,11%, aos 127.083,11 pontos, após abertura aos 128.514,32 pontos, com variação zero, em dia de vencimento de opções sobre o Ibovespa. Petrobrás caía entre 6,56% (PN) e 7,99% (ON). Vale perdia 1,58%. Ações de grandes bancos também recuam, com destaque para Banco do Brasil (-1,93%).
Nos EUA, a alta menor do que a esperada do índice de preços ao consumidor americano, o CPI, e a estabilidade nas vendas do varejo do país, de abril, estimulam ganhos das bolsas de Nova York e recuo dos rendimentos dos Treasuries.
No geral, o CPI veio em linha e mantém toda a cautela recente em relação aos juros dos EUA, menciona Rodrigo Ashikawa, economista da Principal Claritas. "O resultado traz certo alívio aos mercados, mas não muda as preocupações com a política monetária. As expectativas ainda são de juro alto por algum tempo nos Estados Unidos, de taxas restritivas", avalia.
Ainda assim, o dólar ante o real e os juros futuros sobem, diante da espera dos investidores por desdobramentos no caso da Petrobras e ainda ecoando incertezas relacionadas à política monetária brasileira, após o Copom indicar que o ciclo de queda da Selic está próximo.
Os dados dos EUA elevam, em parte, as apostas de que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) tem espaço para começar a cortar os juros em 2024, embora sejam insuficientes para mudar as estimativas de final de ciclo de queda da taxa Selic. Por isso, os investidores digerem as palavras do presidente do BC, Roberto Campos Neto, nesta manhã. Ainda hoje, o diretor Gabriel Galípolo participa de evento em Nova York.
Há pouco, Campos Neto frisou que a conjuntura macroeconômica atual é marcada pelo ambiente externo mais adverso, por causa da incerteza elevada e persistente em relação ao início da flexibilização da política monetária nos Estados Unidos e à velocidade de queda da inflação de maneira sustentada em diversos países.
De todo modo, o que influencia negativamente o Ibovespa é a saída de Prates, da Petrobras, ontem, um dia após a estatal divulgar lucro e dividendo menor do que o esperado pelo mercado.
O comunicado da demissão feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi feita em reunião com Prates fora da agenda do chefe do Executivo. Estavam presentes os ministros Rui Costa (Casa Civil) e Alexandre Silveira (Minas e Energia). O outro ministro cuja pasta tem interesse direto na estatal, Fernando Haddad (Fazenda), não estava na conversa. O motivo alegado, segundo apurou oBroadcast(sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), foi a falta de entregas de projetos por parte do dirigente da estatal, além da divergência em relação à distribuição de dividendos pela empresa.
Prates será substituído por Magda Chambriard, ex-diretora da ANP no governo Dilma "e para muitos a precursora prática de divergir preços domésticos dos internacionais", cita em nota a Guide Investimentos.
O Conselho de Administração da Petrobras se reúne para destituir Prates e eleger a nova presidente da estatal.
O economista da Principal Claritas ressalta que será preciso acompanhar os desdobramentos em torno da Petrobrás. Do lado econômico, cita, fica a dúvida em termos de intervenção política nas estatais, com ruídos já vistos em outras empresas como a Vale e a questão dos dividendos na Petrobras.
Além disso, pode elevar o temor com as contas públicas, em meio a possibilidades de perda de um pouco de força do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. "Se o Haddad começar a perder um pouco de força, a questão fiscal pode ficar mais delicada", avalia Ashikawa.
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