Em meio à piora das expectativas no mercado, o Ministério da Fazenda revisou sua projeção para a inflação em 2024 e em 2025. De acordo com a nova grade de parâmetros divulgada nesta segunda, 18, pela Secretaria de Política Econômica (SPE), a estimativa para este ano passou de 4,25% para 4,40% - só 0,10 ponto porcentual abaixo do teto da meta. Para 2025, a projeção agora é de 3,6%, ante 3,40% pelo boletim anterior, que havia sido divulgado em setembro.
Também foi revisada a projeção para a variação do PIB no ano, de 3,2% para 3,3%. Segundo Raquel Nadal, subsecretária da pasta, neste caso a estimativa pode subir ainda mais: ela fala em "claro viés de alta" por conta de dados que ficaram disponíveis apenas após o órgão fechar a nova grade de parâmetros. Os números divulgados ontem pela Fazenda podem ser lidos como um termômetro da economia e servem como referência para a elaboração do Orçamento.
Apesar da mexida, a estimativa da Fazenda para o IPCA continua abaixo das projeções dos analistas, que argumentam que um mercado de trabalho ainda aquecido e a manutenção da atual política fiscal, de cunho expansionista, poderiam ampliar a disseminação de reajustes de preços na economia.
Pelo relatório Focus (uma compilação feita pelo Banco Central) também divulgado ontem, a mediana para o IPCA de 2024 subiu pela sétima semana seguida, de 4,62% para 4,64% - portanto, já acima da meta de 4,50%. Há um mês, a projeção era de 4,50%. Considerando apenas as 72 estimativas atualizadas nos últimos cinco dias úteis, essa mediana avançou de 4,63% para 4,67%.
Na Fazenda, a expectativa é de que, a partir deste mês, a inflação anual comece a cair, por conta de fatores como a volta da bandeira tarifária verde para as contas de energia (mais informações na pág. B2).
Ainda pelo Focus, a estimativa mediana para a taxa básica de juros no fim de 2025 subiu de 11,50% para 12%. Agora, ela está acima da estimativa intermediária para o fim de 2024, que se manteve em 11,75% pela sétima semana seguida. Isso sugere que, na visão dos analistas do mercado, o BC não terá espaço para cortar a Selic nos próximos meses.
Em reunião no começo do mês, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a Selic em 0,5 ponto, para 11,25%, e as previsões dos analistas são de nova alta em dezembro. O colegiado disse que os próximos ajustes "serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerão da evolução da dinâmica da inflação". Também cobrou compromisso do governo com a adoção de medidas de corte de gastos.
Fazenda prevê recuo da inflação com menor peso de tarifas de energia
No documento divulgado ontem, a Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda afirma que houve um avanço da inflação entre agosto e outubro por conta de fatores como o peso dos preços dos alimentos no orçamento doméstico. O órgão diz que o período também foi marcado pelo avanço de preços monitorados, no caso das tarifas de energia. "Até o final do ano, deverá haver desaceleração nos preços de monitorados, mas aceleração dos preços livres. Itens com preços mais voláteis, mais afetados pela dinâmica do câmbio e do clima, explicam o aumento na projeção de inflação em 2024. Nesse sentido, vale reforçar que, para a média das cinco principais métricas de núcleo, a previsão de inflação se manteve em 4%", explicou a secretaria.
A expectativa é de que, a partir deste mês, a inflação acumulada em 12 meses volte a cair. Esse cenário incorpora a adoção da bandeira verde para as tarifas de energia (sem a aplicação de encargos extras para os consumidores), ainda que novos eventos climáticos possam provocar impacto. No caso dos preços de itens como carne bovina, a secretaria aposta em uma perspectiva positiva para a safra de 2025.
O Ministério da Fazenda também revisou a projeção para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), utilizado para a correção do salário mínimo. De acordo com a nova grade de parâmetros da pasta, a estimativa para o indicador neste ano passou de 4,10% para 4,40%. Para 2025, a projeção foi de 3,20% para 3,40%.
Campos Neto
Em evento ontem, em São Paulo, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, voltou a defender a adoção de programa de corte de gastos, que daria mais sustentação às contas públicas e poderia ter efeito positivo sobre as expectativas do mercado.
Mas, segundo ele, esse esforço deveria focar apenas a redução de despesas. "O mercado entende hoje que, para ter efeito de choque positivo, tem de ser baseado em corte de gasto, e não em (novas medidas de aumento da) receita", disse Campos Neto. (COLABOROU CÍCERO COTRIM)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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