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'Nós estamos perdendo âncora fiscal e monetária', diz economista Solange Srour

O aumento das metas de inflação pode ampliar a desancoragem das expectativas, prejudicar a credibilidade do Banco Central (BC) e, no limite, exigir uma retomada do ciclo de aperto monetário. A avaliação é da economista-chefe do Credit Suisse no Brasil, So

Cícero Cotrim e Renata Pedini (via Agência Estado)

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Escrito por Cícero Cotrim e Renata Pedini (via Agência Estado)
Publicado em 15.02.2023, 08:49:00 Editado em 15.02.2023, 08:55:35
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O aumento das metas de inflação pode ampliar a desancoragem das expectativas, prejudicar a credibilidade do Banco Central (BC) e, no limite, exigir uma retomada do ciclo de aperto monetário. A avaliação é da economista-chefe do Credit Suisse no Brasil, Solange Srour, que vê uma ameaça à confiança na economia do País, especialmente diante da piora de perspectivas para a política fiscal e da falta de sinais sobre a âncora que substituirá o teto de gastos.

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"Estamos voltando a um mix de perda de âncora fiscal e monetária ao mesmo tempo, que não é um mix bom de se estar", afirma, em entrevista ao Estadão/Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado. "Se a meta de inflação for elevada de forma que ninguém mais acredite que vai ser cumprida no seu centro, ou se começarmos a acreditar que o BC não vai ter mais autonomia de fato, porque a qualquer momento o Conselho Monetário Nacional (CMN) pode mudar a meta de novo, esse mix acaba gerando uma perda muito grande e rápida da confiança na economia."

Solange argumenta que seria um erro que o CMN alterasse os alvos já na reunião do dia 16 deste mês, devido às incertezas em torno da política fiscal. Para a economista, uma elevação dos alvos a um nível entre 4% e 4,5% poderia deslocar as expectativas de inflação ao topo da meta caso não haja certeza sobre o arcabouço que vai orientar as contas públicas.

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O Credit Suisse espera que o IPCA atinja 5,8% este ano (6,4% caso a cobrança de impostos federais sobre combustíveis seja retomada) e fique em 4% no ano que vem, em um cenário que considera a manutenção da meta em 3%. "Essa projeção vai mudar se a meta for mudada. Rapidamente", diz. Confira os principais trechos da entrevista:

Qual a sua avaliação sobre a discussão em torno das metas de inflação?

Quando você tem um risco fiscal elevado, e ele já começa a afetar as expectativas de inflação, a discussão de aumentar a meta de inflação é muito contraproducente, porque desancora ainda mais as expectativas e deixa a sensação de que há uma tentativa de puxar a Selic (taxa básica de juros) para baixo na marra. É contraproducente, porque estamos começando a colher os frutos do juro real alto em termos de desinflação, mas vem uma discussão sobre mudança de meta em um momento em que estamos sem âncora fiscal e com uma incerteza muito grande sobre a sustentabilidade da dívida.

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Existe um nível razoável para se aumentar a meta?

Eu acho que não. Acho que qualquer mudança da meta vai acabar gerando a sensação de que, mesmo sem uma âncora fiscal, vamos tentar forçar a queda da Selic. Mesmo que seja 3,5%, vai trazer a sensação de que há uma tentativa de puxar a Selic para baixo, ainda que as expectativas continuem desancoradas. Se for 4% ou 4,5%, acho que é muito pior, porque a reação do mercado vai ser de elevar ainda mais as expectativas de inflação, e isso pode acabar até levando o BC a ter de subir os juros.

O CMN deveria antecipar a decisão sobre as metas para diminuir a incerteza ou aguardar a apresentação do novo arcabouço fiscal?

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Se a decisão do CMN for chegar na quinta-feira (da semana que vem) e dizer que as metas estão mantidas, seria superpositivo, diminuiria a incerteza e o resultado seria uma melhora da confiança de que as metas vão ser cumpridas, ainda que não imediatamente. Agora, se a decisão é elevar a meta, eu não sou a favor de fazer isso logo, sem antes dar alguma sinalização sobre o fiscal. Porque isso vai ser visto como voluntarismo, de tentar forçar uma queda da Selic sem ter nenhum tipo de previsibilidade. Além de aprovar a regra fiscal, o governo vai precisar mostrar como essa regra vai ser cumprida de fato, quais são os mecanismos de controle de gastos que vão impedir que essa regra seja modificada.

O que uma elevação das metas implicaria para as expectativas do mercado?

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Tudo depende de qual vai ser a meta e se vão mudar o intervalo de tolerância. Se a meta for para 4% ou 4,5%, mesmo com o intervalo de tolerância sendo mantido em 1,5 ponto porcentual, acho que as expectativas ainda têm mais a subir e vão buscar o topo da meta. Se além de tudo ainda se mudar o intervalo para dois pontos, a situação vai ficar muito ruim, sinalizando que se busca um topo mais alto ainda. Se fosse apresentada antes não só a regra fiscal mas também um meio de se alcançar a meta fiscal, as expectativas poderiam não ir logo para o topo da meta.

Podemos voltar a um equilíbrio próximo ao do governo Dilma, quando as expectativas se situavam sempre no teto da meta?

Estamos voltando a um mix de perda de âncora fiscal e monetária ao mesmo tempo, que não é um mix bom de se estar. Até essas iniciativas de tentar constranger o BC, não tínhamos âncora fiscal, que se foi na PEC da Transição. Se perdermos a âncora monetária, se a meta de inflação for elevada de forma que ninguém mais acredite que será cumprida no seu centro, ou se começarmos a acreditar que o BC não vai ter mais autonomia, esse mix acaba gerando uma perda muito grande e muito rápida da confiança na economia. Foi o que vimos justamente em 2015: essa perda de confiança gera mais inflação via câmbio e expectativas desancoradas; um juro mais alto na curva, mesmo que a Selic fique constante; e uma desaceleração do PIB. É um mix bastante inflacionário e recessivo.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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