O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, destacou nesta segunda-feira, 12, que as notícias para a inflação e as projeções de longo prazo do mercado começaram a melhorar, abrindo espaço para a atuação do Copom sobre a Selic, hoje em 13,75% ao ano.
"A taxa de juros longa tem caído bastante. Isso leva um pouco de tempo até se refletir nos empréstimos dos bancos, mas começa a haver uma queda. Isso significa que o mercado dá credibilidade ao que tem sido feito, abrindo espaço para uma atuação de política monetária à frente", afirmou Campos Neto, em evento promovido pelo Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV).
Para o presidente do BC, em comparação com o mundo avançado, a inflação brasileira está menor pela primeira vez na história. "O trabalho que foi feito teve sua eficácia", considerou.
O presidente do Banco Central ponderou, no entanto, que a inflação brasileira está caindo de uma maneira mais lenta nos últimos meses, mas a partir de um patamar mais baixo. "Quando a gente tira alimentos e energia, a inflação brasileira tem uma dificuldade de cair. Está ali no topo como uma das mais altas", ressaltou.
Campos Neto lembrou que a América Latina aumentou os juros antes no atual ciclo. Por isso, o mercado já espera cortes de juros no Brasil, México, Chile e Colômbia. "Na Colômbia e no México a inflação surpreendeu para cima, no Chile e no Brasil a inflação de núcleos ainda está alta. Mas no mundo desenvolvido quase não se espera queda nos juros", comparou.
Após a surpresa desinflacionária de maio, o presidente do Banco Central disse que o IPCA deve provavelmente ficar negativo em junho. "Depois de junho, a inflação deve voltar a subir lentamente e terminar o ano subindo. Teremos meses entre 0,4% e 0,5% de alta de inflação no fim do ano, o que vai fazer o resultado do ano ficar em torno de 4,5%. Isso é uma melhora em relação ao que a gente esperava anteriormente, mas é melhora lenta", afirmou.
Campos Neto repetiu que há uma melhora nas "inflações cheias" no mundo, mas voltou a alertar para a inflação de núcleos, principalmente na América Latina. "O núcleo de inflação subiu muito, mas está caindo muito lentamente na América Latina. Em países avançados, os núcleos de inflação não estão nem caindo", afirmou.
Ele destacou que alguns países que pararam de subir juros, como Austrália e Canadá, precisaram retomar o aperto monetário. "Eles haviam parado de subir os juros, sinalizando que poderia haver uma queda. Mas isso foi precipitado e eles tiveram que voltar a subir os juros. Isso sempre tem um impacto na credibilidade do banco central", completou.
O presidente do Banco Central avaliou que, apesar do patamar da Selic, a desaceleração do crédito no Brasil tem sido menor que a de outros lugares do mundo, como os Estados Unidos e a Europa, que terão variação zero ou negativa em 2023.
"A gente projeta um crescimento de crédito de 8% no Brasil neste ano, ante 13,5% no ano passado", afirmou Campos Neto, no evento promovido pelo Instituto para Desenvolvimento do Varejo. "É óbvio que alguns setores são mais impactados, mas para empresas a desaceleração é menor do que em outros lugares", acrescentou.
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