O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, lamentou a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de manter a taxa Selic em 10,50% e afirmou que "foi uma pena", em entrevista nesta quinta-feira, 20, à Rádio Verdinha, do Ceará. Na ocasião, Lula voltou a criticar o patamar da taxa de juros atual e sugeriu que esses pagamentos sejam transformados em gastos. O presidente também acusou bancos privados de preferirem "ganhar dinheiro com a alta taxa de juros", em vez de oferecerem crédito.
"Então, foi uma pena. Foi uma pena que o Copom manteve, porque quem está perdendo com isso é o Brasil, é o povo brasileiro. Porque quanto mais a gente pagar de juros, menos dinheiro a gente tem para investir aqui dentro. E isso tem que ser tratado como gasto", disse Lula. "Eu não vejo o mercado falar das pessoas que necessitam do Estado."
O presidente também disse que "os que tão em cima", em referência aos mais ricos, "não querem que os que estão embaixo subam no degrau". Além disso, defendeu uma política do governo de melhorar áreas sociais como saúde e educação com "gastos necessários".
O petista voltou a criticar ainda a autonomia do Banco Central e afirmou que o atual presidente da instituição, Roberto Campos Neto, tem o mesmo nível de autonomia que tinha Henrique Meirelles, que foi presidente do Banco Central nos governos do PT dos anos 2000.
"Eu fui presidente oito anos. O presidente da República nunca se mete nas decisões do Copom ou do Banco Central", afirmou. "O Meirelles tinha autonomia comigo tanto quanto tem esse rapaz de hoje. Só que o Meirelles eu tinha o poder de tirar, como o Fernando Henrique Cardoso tirou tantos."
Lula prosseguiu o questionamento sobre a autonomia do Banco Central: "Ora, autonomia de quem? Autonomia para servir a quem? Atender quem?", acrescentou.
Depois de sete quedas seguidas, o Copom do Banco Central interrompeu na quarta-feira, 19, em decisão unânime, o ciclo de cortes da taxa básica de juros, iniciado em agosto do ano passado, e manteve a Selic em 10,50% ao ano. O resultado era amplamente esperado pelo mercado, em meio ao impasse do governo na condução da política fiscal e ao aumento das expectativas de inflação.
Mais do que o resultado, a grande expectativa dos agentes econômicos era sobre o placar da decisão, sobretudo após Lula ter retomado a ofensiva contra o BC e o presidente da instituição, Roberto Campos Neto. A votação unânime agrada o mercado, depois da forte divisão da reunião de maio.
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