Os juros futuros completaram a terceira sessão consecutiva de alta nesta quinta-feira, 6, pressionados principalmente pelo ambiente externo negativo, com ajuda dos ruídos em torno da reforma tributária que têm ameaçado a votação do texto na Câmara ainda nesta semana. Na esteira da ata "hawkish" do Federal Reserve ontem e na véspera do payroll amanhã, dados de atividade e emprego norte-americanos acima do esperado catapultaram os juros dos Treasuries e elevaram o dólar contra moedas emergentes, reverberando nos ativos globais, ao fortalecer apostas em mais duas rodadas de aperto monetário nos Estados Unidos.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 encerrou em 12,835%, de 12,798% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025, em 10,80%, de 10,76%. O DI para janeiro de 2027 fechou com taxa de 10,26%, de 10,20%. A do DI para janeiro de 2029 subiu de 10,57% para 10,62%.
O movimento de maior pressão sobre a curva se deu até o início da tarde, em meio à leitura dos indicadores nos Estados Unidos e informações extraoficiais de que a votação da tributária ficaria para agosto - no fim da tarde, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), disse que não havia possibilidade de adiar a votação prevista para hoje.
A trajetória das últimas três sessões de alta reduziu bastante nos principais contratos o alívio de prêmios decorrente da decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) de manter em 3% a meta de inflação nos próximos anos, na quinta-feira passada, 29. O ambiente internacional de maior aversão ao risco respondeu por boa parte do movimento.
Na terça-feira, feriado nos Estados Unidos, a curva do DI aproveitou para realizar lucros e a correção se estendeu ontem com a ata do Fed. "E os dados que saíram hoje referendaram a mensagem da ata e a preocupação dos diretores com a inflação alta", disse o gerente de Renda Fixa e Distribuição de Fundos da Nova Futura, André Alírio.
Na agenda, o dado que mais assustou foi o que apontou criação de 497 mil empregos no setor privado em junho, na pesquisa ADP, quase o dobro do consenso de geração de 250 mil. Além disso, o índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) do setor de serviços medido pelo Instituto para Gestão da Oferta (ISM, na sigla em inglês), subiu de 50,3 em maio a 53,9 em junho, enquanto analistas previam aumento a 51,0.
O retorno da T-Note de dois anos tocou máxima de 5,14%, no maior nível desde 2006, mas voltou a 5,01% no fim do dia. O da T-Note de dez anos, referência para a curva de juros doméstica, rompeu 4,00%.
"A inversão da curva americana de 2 e 3 anos indica que os Estados Unidos estão no caminho da recessão", avalia Marcelo Boragini, sócio da Davos Investimentos, para quem, com os indicadores conhecidos hoje, sobretudo o da ADP, o mercado pode estar se antecipando ao payroll amanhã, caso surpreenda. O consenso das estimativas aponta criação de 225 mil vagas em junho.
Ainda que o exterior tenha dominado a cena, o investidor manteve-se desconfortável com o imbróglio envolvendo a pauta econômica da Câmara. O mercado já colocou de lado o arcabouço e o projeto de lei do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) e se dá por satisfeito se o governo conseguir ao menos iniciar esta semana a votação da tributária. A indicação de Lira se mantinha de pé no fim da tarde, embora as movimentações de governadores e setores da economia seguia intensa nesta reta final, sugerindo que um consenso sobre o desenho final do texto ainda estava distante. "A sensação é de bagunça e desorganização", disse Boragini.
À tarde, na medida em que as taxas dos Treasuries se afastaram das máximas, a curva local também se acomodou, reduzindo bastante o ritmo de alta. Pela manhã, no entanto, dado o nível de estresse, o Tesouro optou por lotes menores de prefixados, com 1 milhão de NTN-F e 7 milhões de LTN, metade da oferta de 2 e 13 milhões, respectivamente na semana passada. O Tesouro vendeu 6,780 milhões de LTN e a oferta de 1 milhão de NTN-F teve demanda integral.
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