Apesar da escalada do dólar ao longo da tarde para a faixa de R$ 4,91 e do avanço firme do retorno dos Treasuries, os juros futuros mantiveram alta moderada ao longo da segunda etapa de negócios, sem fôlego para renovar máximas. Operadores ressaltaram que a liquidez foi reduzida nesta primeira sessão de 2024, com muitas tesourarias relevantes operando ainda em marcha lenta.
A possibilidade de aumento de atritos entre governo e o Congresso, que está em recesso, não se traduziu, por ora, em elevação dos prêmios de risco. Ao desconforto com a Medida Provisória (MP) do ministro Fernando Haddad para compensar perdas com desoneração somou-se hoje o veto do presidente Lula ao calendário de pagamento de emendas parlamentares na sanção da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).
Entre as principais taxas, o DI para janeiro de 2025 fechou a 10,05%, ante 10,014% no ajuste anterior. DI para janeiro de 2027 passou de 9,70% para 9,78%. Na ponta longa da curva, DI para janeiro de 2029, encerrou com taxa de 10,14%, de 10,07% no ajuste anterior.
Lá fora, as taxas dos Treasuries avançaram em bloco. O retorno da T-note de 2 anos ultrapassou o nível de 4,30%, com máxima na casa de 4,36%. Investidores apararam parte das apostas em início de corte da taxa básica americana nos Estados Unidos no primeiro trimestre. Leitura fraca de índices de gerente de compras (PMI, na sigla em inglês) na Europa e China deprimiram preços de commodities e levaram a uma alta global da moeda americana.
Para o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, o mercado local operou "muito atrelado" ao comportamento dos ativos no exterior, em especial das taxas dos Treasuries. "O quadro externo foi preponderante hoje. É claro que esse estresse com possível embate entre governo e Congresso na questão da MP do Haddad e do Orçamento incomoda e cria uma rigidez na curva", afirma Velho.
À tarde, o deputado Danilo Forte (União-CE), relator da LDO de 2024, criticou a decisão de Lula de vetar o cronograma de pagamento de emendas. Ele disse que vê possibilidade de que o veto presidencial seja derrubado no Congresso. Segundo apuração do Broadcast Político, articuladores políticos do governo avaliam que será difícil manter o veto de Lula, mas ponderam que a análise do tema pelos parlamentares demorará ao menos um mês, o que daria chance de o Planalto trabalhar para contornar a situação.
Não se sabe como a queda de braço entre Congresso e Planalto sobre a execução do Orçamento vai afetar o andamento da agenda econômica, essencial para cumprimento das metas fiscais. Em entrevista ao jornal O Globo, Haddad afirmou que a MP para compensar o prolongamento da desoneração da folha de pagamentos estava "mais ou menos precificada com o Congresso". O ministro relatou ter conversado sobre o tema anteriormente com os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), "uma vez que não estava prevista no Orçamento a renúncia da desoneração". As declarações de Haddad de acordo prévio se chocam com fala de Pacheco, na semana passada, de que a MP "causou estranheza".
Para Velho, da JF Trust, a "única certeza" no momento é que o governo "não deve cumprir a meta de déficit primário zero no ano que vem". Ele estima até que o rombo pode ultrapassar 1% do PIB em 2024. "Isso já foi assimilado pelo mercado e limita o espaço para queda dos juros intermediários e longos. Não tem muito mais prêmio para ser tirado da curva", diz Velho, para quem ainda é preciso ver se o governo "terá condições" para promover contingenciamentos no Orçamento em meio a uma provável queda na arrecadação.
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