Os juros futuros de curto e médio prazos fecharam em alta e os longos, com viés de queda. Apesar do tombo do IGP-M de abril, a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) e o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) surpreenderam para cima, alimentando a convicção sobre a manutenção da Selic em 13,75% no Copom da próxima semana e limitando o espaço para a flexibilização das taxas até o miolo. Os longos tiveram alívio com a valorização do câmbio e a decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ontem, favorável ao governo no julgamento sobre benefícios fiscais, a despeito da pressão dos Treasuries e do leilão do Tesouro com lote e risco mais elevados.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 13,24%, de 13,21% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025 subiu de 11,84% para 11,94%. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 11,72%, de 11,70%, e o DI para janeiro de 2029, com taxa de 12,03%, de 12,07%.
A agenda e o noticiário interno estabeleceram um jogo de forças que segurou as taxas relativamente perto dos ajustes durante todo o dia, mas com alternância de leve sinal positivo e negativo até o trecho intermediário. Os longos, por sua vez, percorreram a jornada com queda moderada, na contramão da abertura da curva americana.
O contágio por aqui foi limitado, em boa medida, pela queda do dólar, que à tarde voltou a furar o nível dos R$ 5, para fechar em R$ 4,9802. Além disso, a decisão do STJ trouxe alívio na perspectiva fiscal, dado que o alcance das metas estipuladas no arcabouço é visto como muito dependente da geração de receitas. A corte decidiu ontem, por unanimidade, autorizar a cobrança de IRPJ e CSLL sobre benefícios fiscais de ICMS. De acordo com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a decisão permite a arrecadação de R$ 90 bilhões para a União. A decisão, porém, não terá eficácia, no curto prazo, em função de uma liminar do ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF).
O economista-chefe do Banco Original, Marco Caruso, afirma que, além da receita advinda, há um segundo ponto que pode ter favorecido o recuo das taxas. "Se pensarmos que as empresas serão taxadas, pode haver desaceleração na atividade, o que em tese reduz a inflação", comentou.
Na agenda, a deflação do IGP-M de abril, de 0,95%, ficou perto do piso das estimativas, que iam de -1,04% a -0,41%, com mediana de -0,71%, sob impacto da melhora do câmbio e queda de preços das commodities. Pelo lado da atividade, o volume de serviços de fevereiro subiu 1,1% na margem, perto do teto das projeções (1,0% a 1,2%, com mediana de +0,5%).
Para os analistas da Levante, os indicadores mostram que a inflação desacelera e a atividade econômica se recupera, embora aquém do seu potencial. "Aos poucos, mais devagar do que seria desejável, a economia brasileira está voltando aos trilhos", comentaram.
À tarde, a agenda trouxe ainda contas do Governo Central. O déficit de R$ 7,085 bilhões em março veio bem pior do que a mediana das estimativas (-R$ 4,70 bilhões). No Caged, as 195.171 vagas criadas em março superaram o teto das previsões, que iam de 23.407 mil a 161.244 vagas em março, com mediana positiva de 96.473. "Com ajuste sazonal, a geração de postos é estimada entre 250 mil e 300 mil, é muito forte", afirma Caruso.
Hoje no Senado, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, voltou a citar que a inflação brasileira tem desacelerado de forma lenta, com os núcleos ainda altos. Reforçou ainda que as "projeções do BC pioraram e estacionaram em nível alto e distante da meta". Ele participou, juntamente com os ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Simone Tebet (Planejamento) de um debate sobre juros, mas com declarações na mesma linha daquelas feitas na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) na terça-feira.
O Tesouro veio com um lote grande de prefixados nesta quinta-feira, o último o mês, de 17 milhões de LTN e 1,3 milhão de NTN-F, ante 11 milhões e 1 milhão, respectivamente, na semana passada. O risco em DV01 ficou em US$ 691 mil, de US$ 418 mil no leilão anterior, segundo a Necton Investimentos.
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