Os juros futuros fecharam quarta-feira em alta nos vencimentos de curto e médio prazos, invertendo o sinal de baixa no meio do dia após declarações do presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, em Washington, que limparam as apostas de corte de 0,50 ponto da Selic no Copom de maio. Os longos cederam, acompanhando o alívio do câmbio e da curva dos Treasuries.
Campos Neto admitiu que num cenário de manutenção de incertezas elevadas o ritmo de queda da Selic pode ser alterado. Ainda, foi categórico em afirmar que o BC fará o que for necessário para ancorar a inflação e discorreu ainda sobre as turbulências fiscais.
No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 estava em 10,445%, de 10,280% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026 subia de 10,65% para 10,75%. O DI para janeiro de 2027 projetava 11,01%, de 11,06% ontem no ajuste. A taxa do DI para janeiro de 2029 caía para 11,44%, de 11,60%.
Pela manhã, o mercado chegou a arriscar uma correção das fortes altas registradas ao longo do mês, amparada no ajuste em baixa do dólar e no alívio da curva dos Treasuries. O ajuste, porém, era aquém do expressivo volume de prêmios acumulados, com sinais de que não se sustentaria até o fim da sessão, até porque o mercado aguardava a participação de Campos Neto em eventos em Washington.
No início da tarde, a fala de Campos Neto, em evento promovido pela XP, deu a senha para que os DIs de curto e médio prazos passassem a subir. "Podemos ter um sistema em que a incerteza continua alta, sem mudar, o que pode significar redução do ritmo", afirmou. Disse ainda que num cenário em que a incerteza começar a afetar "variáveis mais importantes" e que seja necessário "conversar sobre mudar o balanço de riscos" pode haver alteração no cenário básico do BC. "Para o cenário base virar um corte de 0,25 ponto, basta ficar igual a como está", diz Marco Caruso, economista-chefe do PicPay.
Tal percepção sobre uma possível mudança no ritmo de redução da taxa básica foi endossada pela ênfase de Campos Neto ao afirmar que a autoridade monetária "não tem medo de fazer o que é necessário" para ancorar a inflação e alertar ainda para os riscos da perda da âncora fiscal. "Se você perde credibilidade na âncora fiscal, fica mais caro para âncora monetária", afirmou.
No forward guidance do encontro de março, o Copom indicava uma redução de mesma magnitude, de 0,5 ponto, na Selic na próxima reunião "em se confirmando o cenário esperado".
Na curva, a sinalização de Campos Neto abalou a aposta de corte da Selic em 0,5 ponto no Copom de maio, que há semanas aparecia como majoritária. Os DIs passaram a precificar integralmente uma redução de 0,25 ponto. Mais do que isso, a reunião de junho tem apenas -7 pontos precificados no DI, indicando apostas marginais de queda da taxa. Para o segundo semestre, já há precificação de alta para a Selic, segundo o economista-chefe do banco Bmg, Flávio Serrano.
Vale destacar que, diante da forte zeragem de posições vendidas e da disparada na aversão a risco nos últimos dias, a precificação da curva já vinha se tornando mais conservadora no que diz respeito ao plano de voo do BC. Com o reforço de hoje, a curva passou a projetar Selic terminal de 10,60%.
Na seara fiscal, não bastasse o desconforto com a mudança das metas para 2025 e 2026, hoje a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou, por 18 votos a 7, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do Quinquênio que concede um "bônus" de 5% a cada cinco anos, limitados a 35%, a magistrados, procuradores e promotores. A medida pode ter um impacto fiscal de cerca de R$ 42 bilhões ao ano, de acordo com informações do Ministério da Fazenda.
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