O mercado de juros fechou a Super Quarta com taxas curtas estáveis e as demais em queda, mais expressiva nos vencimentos longos. A perda de inclinação na curva esteve relacionada ao exterior, com o Federal Reserve endossando a expectativa de uma suavização do discurso após os problemas em bancos nos Estados Unidos. Já para o Copom, o consenso de que a taxa será mantida em 13,75% segue inabalado. Há grande expectativa pela sinalização para maio e os pesos que o comunicado dará à evolução das variáveis do balanço de risco desde a última reunião, em especial as projeções de IPCA e as condições do segmento de crédito, em meio ainda às pressões do governo pela queda da taxa.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou com taxa de 13,00%, a mesma de ontem no ajuste. A do DI para janeiro de 2025, que chegou a cair abaixo de 12,00% nas mínimas do dia, fechou em 12,03%, de 12,10%. O DI para janeiro de 2027 projetava 12,28% no fechamento, de 12,42% ontem. A taxa do DI para janeiro de 2029 caiu de 12,88% para 12,74%.
As taxas chegaram a operar em alta durante a manhã, com algum respingo das avaliações sobre os nomes supostamente escolhidos para as diretorias do Banco Central e com a volatilidade na curva dos Treasuries. No começo da tarde, porém, os retornos dos títulos do Tesouro norte-americano se firmaram em baixa colocando as taxas locais no mesmo rumo. O mercado antecipava um discurso mais suave do Fed, que acabou se confirmando, ainda que Powell tenha colocado sobre a mesa o pacote de incertezas que ronda o futuro da política monetária. A decisão em si, alta de 25 pontos-base, levando o juro para entre 4,75% e 5,00%, ratificou as apostas majoritárias.
"De maneira geral, o statement foi levemente dove e a entrevista coletiva foi dove", avaliou o economista-chefe da Quantitas Asset, Ivo Chermont. Para ele, pela linguagem do comunicado, é provável que o aperto das condições financeira por causa dos bancos a afetem emprego, atividade e renda. "Olhando pelos dots para o fim deste ano, sugerem apenas mais uma alta em maio. Mas na hora de escrever o comunicado, não garantiram que vai ter, dizendo que talvez seja 'apropriado' ter mais uma alta", destaca.
Já na coletiva, destaca Chermont, a sensação é de que o Fed está mais preocupado com o problema dos bancos do que ele supunha. "Sugeriu até que o aperto nas condições financeiras poderiam substituir o trabalho do Fed", lembrou, considerando que nesse contexto "a leitura para juros e dólar é para baixo".
Resta saber agora como e se as sinalizações dos bancos centrais das economias principais sobre o sistema financeiro e seus impactos no crédito, dadas hoje pelo Fed e Banco da Inglaterra, e ontem pelo Banco Central Europeu (BCE), vão pesar sobre o Copom. Até porque o mercado de crédito no Brasil também está enfraquecido pelo ciclo de altas da Selic.
O operador de renda fixa da Nova Futura Investimentos, André Alírio, reconhece que o ambiente é desafiador para os diretores, com as expectativas de inflação bastante desancoradas, mas vê como importante que o Copom faça a ponderação. "Mesmo que não seja uma crise bancária que precise de estímulos à economia, o BC deve fazer esse alerta. Desconsiderar isso seria temerário", afirmou.
Na esteira das críticas ontem do presidente Lula ao nível da Selic e ao presidente do BC, Roberto Campos Neto, o ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), disse hoje que Campos Neto, presta um "desserviço" à população ao manter a taxa Selic em 13,75% e que o governo já tem uma reação ensaiada caso o juro não caia: redobrar as críticas e os ataques.
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