Os juros futuros fecharam a segunda-feira em queda expressiva, apoiada em falas de membros do Banco Central sobre a melhora do cenário inflacionário e no ambiente externo. Apesar do recuo firme da ponta curta, os longos cederam ainda mais, dada a percepção de um cenário mais recessivo no exterior na esteira de dados fracos nos Estados Unidos e Europa, o que pode apressar o fim do ciclo de aumento de juros por lá, e redução do risco fiscal.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 13,16%, de 13,202% no ajuste de sexta-feira, e a do DI para janeiro de 2025 caiu de 11,46% para 11,31%. A do DI para janeiro de 2027 recuou mais de 20 pontos-base, de 10,77% para 10,55%, e a do DI para janeiro de 2029, de 11,08% para 10,89%, pela primeira vez cruzando a linha dos 11% desde 4/4/2022 (10,96%).
As taxas começaram o dia com viés de alta, acompanhando a reação do petróleo ao corte de produção de 1 milhão de barris por dia anunciado ontem pela Arábia Saudita e o avanço dos juros dos Treasuries. Ainda pela manhã, passaram a oscilar perto da estabilidade com a virada dos yields dos Treasuries para baixo e abandonando a commodity como referência. "Vieram os dados dos Estados Unidos, praticamente todos abaixo do esperado", destacou o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno.
O alívio nos prêmios de risco ganhou força na segunda etapa, em meio a declarações de diretores e do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, destacando a melhora do cenário inflacionário no exterior e no Brasil. O primeiro a falar, Diogo Guillen (Política Econômica), tido com o mais hawkish dos membros do Copom, admitiu em evento do Bradesco BBI, ainda que com certa cautela, a evolução benigna nos preços, em especial alimento e bens industriais, mas ponderando sobre a resistência dos núcleos em patamares elevados e que o mercado de trabalho está resiliente.
"Ele tentou fazer jogo duro, mas reconheceu a melhora inflacionária, baixando a barra para começar a cortar a Selic. É um discurso gradualista, mas que indica o caminho para reduzir no segundo semestre", avalia o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi.
Depois de Guillen, a curva teve novas mínimas durante a live do diretor de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta Mauricio Moura. Em tom didático, disse que a Selic "vai voltar a cair em algum momento", assim que as condições permitirem, listando três vetores principais: queda da inflação corrente, as expectativas futuras e o balanço de riscos.
Para coroar o que se pode chamar de ação coordenada do BC em seu discurso para ajustar as expectativas do mercado sobre a Selic, Campos Neto, evento da Cooperativa Cooxupé, em Minas Gerais, foi além e reconheceu que cenário de inflação está um pouco melhor "inclusive de núcleos, com serviços", embora tenha reiterado que a inflação, exceto de alimentos e energia, é persistente. Também parece agora ter visão melhor das expectativas de longo prazo. "Ainda estão em alta, mas devem cair", disse.
Segundo Rostagno, a curva nesta tarde projetava estabilidade para a Selic em 13,75% no Copom de junho e 18 pontos de queda para a reunião de agosto, o que significa 72% de chance de redução de 25 pontos e 18% de probabilidade de manutenção. Para o fim de 2023, a precificação é de taxa a 12,22% e para o fim de 2024, em 9,54%.
Borsoi, da Nova Futura, diz ainda que mais dois fatores internos estariam dando conforto para a montagem de posições aplicadas na curva, especialmente na ponta longa, mais sensível ao risco fiscal. Uma delas é a percepção de "mão forte" do Congresso no que diz respeito a frear impulsos gastadores do governo e a outra, a perspectiva de reoneração antecipada do diesel. "É uma boa saída já que a conta do subsídio ao setor automotivo precisa ser paga", disse.
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