Os juros futuros recuaram nesta terça-feira, influenciados pela consolidação das apostas na queda do juro nos EUA em setembro que, por sua vez, jogou para baixo os rendimentos dos Treasuries, favorecendo também um alívio no câmbio. A queda das taxas foi mais firme pela manhã, perdendo fôlego à tarde após declarações do presidente Lula sobre a necessidade de corte de gastos.
No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 estava em 10,575%, de 10,589% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026 cedia a 11,09% (de 11,17%). O DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 11,35%, de 11,43% ontem, e o DI para janeiro de 2029, taxa de 11,71%, de 11,76%.
A agenda local esvaziada já deslocava o foco para o exterior logo cedo. Nos EUA, a estabilidade das vendas do varejo em junho contrariou o consenso de queda de 0,2%, reduzindo as apostas num orçamento de redução de até 75 pontos-base nos juros neste ano, mas manteve intacta a percepção de que o ciclo do ciclo será em setembro.
"Depois do CPI e da fala de Powell ontem, a expectativa é de que o Fed já telegrafe no encontro deste mês a intenção de reduzir em setembro", aponta o estrategista de renda fixa da BGC Liquidez Daniel Leal. Ontem, o presidente do Fed, Jerome Powell, disse que os dados do segundo trimestre ampliaram a confiança de que a inflação caminha de volta à meta de 2%, embora tenha evitado sinalizar sobre o timing para queda de juros.
O yield da T-Note de 10 anos se afastou ainda mais da marca de 4,20%, rodando nos 4,16% no fim da tarde, o que ajudou a trazer o dólar para mais perto dos R$ 5,40. A melhora do câmbio ajuda a aliviar a curva, na medida em que pode tirar pressão da inflação de curto prazo, especialmente nos bens industrializados.
Pela manhã as taxas chegaram a cair mais de 10 pontos-base, mas perderam quando começou a circular nas mesas de mercado trecho da entrevista de Lula para a TV Record que tratava da parte fiscal, posteriormente divulgado pelo portal de notícias R7. Lula disse que fará o que for necessário para cumprir o arcabouço fiscal, mas que precisa ser convencido sobre a necessidade de cortar gastos e que a única coisa fora de controle na economia brasileira é a taxa de juros. Afirmou ainda que não há problema em o déficit do País ser zero, 0,1% ou 0,2%. Ele também afirmou ser aceitável não cumprir a meta se houver coisas mais importantes para serem feitas. A entrevista será transmitida na íntegra à noite, no Jornal da Record.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, minimizou o impacto das declarações, argumentando que a divulgação da fala do presidente se deu de uma forma "descontextualizada" e reiterou ainda o compromisso do chefe do Executivo com o cumprimento do arcabouço.
Depois de Lula, os juros chegaram a zerar a queda e a flertar com a estabilidade, mas depois voltaram a ceder, ainda que não na magnitude vista pela manhã. "Teve esse aumento da volatilidade com a fala, mas não é muito diferente do que Lula já vinha sinalizando e sabe-se que ele joga muito para a torcida", afirma Leal.
O teste real para a melhora vista no mercado é o relatório de avaliação de receitas e despesas no dia 22. "R$ 10 bilhões é zero a zero, mas se vier menos é sinal de que o governo jogou a toalha no que diz respeito à meta e o mercado vai reagir mal", afirma, sobre o eventual contingenciamento. Por outro lado, um número acima pode desencadear um rali nos ativos.
"Possivelmente podemos ter bloqueio e contingenciamento", afirmou Haddad, mas o número ainda não foi levado a Lula. Ainda, segundo o ministro, o detalhamento sobre o corte de R$ 25,9 bilhões em despesas que deverão constar no Orçamento de 2025 está pronto. "O Planejamento vai divulgar quais são as rubricas, de como vai ser feito, se vai exigir mudança legal, isso tudo vai ser discriminado", disse.
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