O avanço dos rendimentos dos Treasuries, em meio a indícios de aperto monetário mundial, estimula alta dos juros futuros na manhã desta quinta-feira, 29, enquanto os investidores se debruçam na leitura do Relatório Trimestral de Inflação (RTI), divulgado mais cedo.
Já a estimativa de manutenção da meta em 3,00% da meta do IPCA para os próximos anos pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e a deflação do Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) atenuam a alta dos principais vértices, especialmente os de curto prazo.
O movimento dos juros retrata os sinais de aperto monetário global por mais tempo do que o imaginado, principalmente na zona do euro e nos Estados Unidos. "Reflete o discurso duro do presidente do Fed, Jerome Powell, entre ontem e a madrugada de hoje, e da própria Christine Lagarde, presidente do BCE Banco Central Europeu", diz o economista Antonio Madeira, da MCM Consultores.
O presidente do Fed mais uma vez indicou que a instituição poderá voltar a elevar juros antes do fim do ano, após a pausa na reunião de política monetária deste mês. "O mercado tem ajustado as expectativas. O Fed vem reduzindo o ritmo desde que começou a subir os juros. Obviamente a inflação de aluguel e de serviços está resiliente, mas tenta controlar as expectativas", avalia William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue.
Na opinião de Alves, os sinais de aperto monetário no mundo por mais tempo do que o imaginado podem fazer com que o Banco Central brasileiro corte menos a Selic. "Pode diminuir a possibilidade de baixar mais os juros do Brasil", diz o estrategista da Avenue.
Apesar da pressão externa, a estimativa de manutenção da meta em 3,00% da meta do IPCA para os próximos anos pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e a deflação do Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) atenuam a alta dos principais vértices, especialmente os de curto prazo.
Antes do CMN e em meio à confirmação do governo de que o programa de descontos dos automóveis terá mais R$ 300 milhões em crédito subsidiado, o mercado acompanhará com afinco o detalhamento do RTI pelo presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, e o diretor Diogo Guillen (11h). Isso porque segue crescente a expectativa por sinais sobre quando e quanto o juro básico cairá.
Contudo, isso pode ficar para mais tarde, após o CMN, dada a cautela sugerida recentemente pelo BC na ata do Copom. No documento esta semana, ressaltou que as expectativas de inflação seguem desancoradas das metas definidas pelo CMN.
Ontem, Haddad esclareceu que o tema do encontro é a meta de inflação de 2026 e que a pasta também vai pautar a mudança do regime de metas de ano-calendário para contínuo, como o ministro vem defendendo nos últimos meses.
No Brasil, o quadro de alívio da inflação prossegue. O Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) registrou deflação de 1,93% em junho (mediana: -1,72%), após queda de 1,84% em maio, segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV). O indicador caiu 6,86% nos últimos 12 meses. No ano, o índice acumula queda de 4,46%.
De acordo com o RTI, com a desinflação em curso, a chance de estouro da meta de inflação de 2023 caiu bastante, mas ainda é alta. No cenário de referência, a probabilidade de a inflação deste ano ficar acima do teto da meta, de 4,75%, é de 61%, contra 83% no RTI de março. Para 2024, atual horizonte relevante da política monetária, chance de estouro do limite superior (4,50%) também se reduziu, de 26% para 21%.
Sobre o aumento o crédito para bancar o desconto no preço de carros de passeio pelo governo, a MCM Consultores avalia que o efeito fiscal da medida será nulo. "O aporte de mais R$ 300 milhões em créditos tributários para estimular a venda de carros populares será compensado pela elevação em R$ 0,03 de PIS e Cofins sobre o diesel", cita em nota.
Às 10h03, o contrato de depósito interfinanceiro (DI) com vencimento em janeiro de 2024 tinha 12,975%, ante 12,957% no ajuste ontem. O DI para janeiro de 2025 exibia 11,00%, após 10,97% na véspera (ajuste), enquanto o DI para janeiro de 2026 mostrava 10,41% (ajuste ontem: 10,34%). Já o DI para janeiro de 2029 era negociado em 10,79% (ante 10,34% no ajuste ontem). Hoje, tem leilão do Tesouro Nacional.
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