Os juros futuros terminaram quarta-feira em forte alta. A piora da percepção de risco político e fiscal roubou a cena da agenda internacional, que tinha a decisão do Federal Reserve hoje como evento mais importante da semana, mas acabou ficando em segundo plano. Apesar do alívio na curva dos Treasuries, as taxas subiram com força, com o mercado precificando um isolamento do ministro Fernando Haddad dentro do governo, após declarações do presidente Lula e da ministra do Planejamento, Simone Tebet.
No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 subia a 10,725%, de 10,632% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026, de 11,19% para 11,35%. O DI para janeiro de 2027 projetava taxa de 11,74%, de 11,50%, e o DI para janeiro de 2029, taxa de 12,15%, de 11,88%.
O mercado passou por uma zeragem de posições vendidas que vinham sendo montadas partir da expectativa de que o governo pudesse avaliar a possibilidade de corte de despesas, alimentada pela declaração de Haddad de que levaria a Lula um cardápio com "opções em gastos", considerada essencial para manter em pé o arcabouço fiscal.
Porém, a fala de Lula hoje foi na direção contrária a um aperto fiscal. Em evento no Rio, ele disse que o aumento da arrecadação e a queda da taxa de juros "permitirão a redução do déficit sem comprometer a capacidade de investimento público". Vale lembrar que o mercado considera já encerrado o ciclo de cortes da Selic.
"A ideia que ele passa é a de gastar mais para o PIB crescer mais, numa dinâmica que vimos que não deu certo anos atrás", avalia do economista da Guide Investimentos Victor Beyruti, se referindo aos anos de gestão de Dilma Rousseff.
Mas desde a abertura os ativos já eram penalizados pelo risco fiscal, considerada a "derrota" da Fazenda após a devolução de parte da MP do PIS/Cofins ontem pelo Senado. Haddad disse não haver plano B para compensar o impacto da desoneração da folha de pagamentos e que, com a decisão, o Senado assume a responsabilidade em encontrar uma solução.
A percepção de isolamento de Haddad foi ressaltada no fim da tarde, quando Tebet, em
audiência na Comissão Mista de Orçamento (CMO), falou "que melhorar a qualidade do gasto público" pode reduzir a pressão das despesas obrigatórias sobre o Orçamento, frustrando a expectativa do mercado de que demonstrasse apoio à pauta da Fazenda de redução efetiva de gastos. "Não estamos aqui para dourar a pílula", afirmou a emedebista, segundo a qual o desafio para equilibrar as contas públicas "não é pequeno". Disse ainda que mexer na valorização da aposentadoria é "equívoco" e que a modernização de vinculações no Orçamento depende do crivo de Lula.
O aumento do risco doméstico acabou por minimizar o potencial impacto positivo do exterior sobre as taxas, conseguindo, no máximo, reduzir um pouco o ímpeto de avanço no meio da manhã, após o CPI dos EUA abaixo do esperado, e depois no começo da tarde, pouco antes do Fed.
A decisão de manter o juro na faixa de 5,25% e 5,50% era amplamente esperada, mas o gráfico de pontos mostrou aumento nas medianas para inflação e juros este ano. As projeções atualizadas indicaram que os dirigentes não preveem mais reduções de 75 pontos-base no agregado de 2024. No CME Group, a chance de haver uma única redução de 25 pontos em 2024 avançou, mas a visão majoritária ainda era de redução de 50 pontos.
Na entrevista coletiva, o presidente do Fed, Jerome Powell, manteve a sinalização recente ao reiterar a necessidade de maior confiança de que a inflação caminha à meta antes de decidir cortar juros. Segundo Powell, os dados do começo do ano não ajudaram a aumentar essa confiança.
Os juros dos Treasuries, que vinham em queda forte desde a primeira etapa, reduziram um pouco o ritmo depois de Powell e no fim da tarde a taxa da T-note de dez anos estava em 4,32%, após bater 4,25% nas mínimas do dia.
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