A curva de juros futuros ganhou inclinação nesta segunda-feira, 8, reflexo do aumento da percepção de risco do mercado após a confirmação de que o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, será indicado diretor de Política Monetária do Banco Central. Em meio a altas do dólar e dos rendimentos dos Treasuries, a informação levou a um aumento dos prêmios de risco nos contratos de DI, especialmente os mais longos.
Na comparação com o ajuste da última sexta-feira, 5, a taxa do contrato para janeiro de 2029 avançou 14,1 pontos-base, de 11,849% para 1,990%. O movimento se repetiu, em menor escala, nos contratos com vencimento para janeiro de 2024 (13,196% para 13,220%) e 2027 (11,472% para 11,575%). O contrato para janeiro de 2025 teve leve queda, de 1,5 ponto-base, de 11,705% para 11,690%.
A confirmação do nome de Galípolo no início da tarde chegou a sustentar uma queda pontual das taxas para 2024 a 2026, devido à avaliação de que o economista poderia servir como contraponto dovish no Comitê de Política Monetária (Copom), em linha com a pressão do governo pela diminuição da taxa Selic. Mas, ao longo da sessão, as preocupações em torno de ruídos na comunicação do BC levaram à reversão parcial do movimento.
Em entrevista ao Broadcast, o ex-diretor do BC Alexandre Schwartsman alertou que a indicação do economista seria lida como um sinal de que a autoridade monetária poderá se tornar "muito mais leniente" com a inflação nos próximos anos. Isso porque Galípolo é visto como favorito para a sucessão do atual presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, após o fim do seu mandato, em dezembro do ano que vem.
Também por isso, o Goldman Sachs alertou que a nomeação do secretário-executivo da Fazenda pode aumentar os ruídos na comunicação do BC e gerar atritos na autarquia. Em relatório, o diretor de Pesquisa Macroeconômica do banco para América Latina, Alberto Ramos, notou que a participação de Galípolo no Copom pode levar a decisões divididas de política monetária e a visões opostas sobre o nível correto dos juros.
"A ideia de indicar um sujeito que tem a perspectiva de se tornar o presidente do BC lá na frente de alguma maneira constrange o mandato da diretoria atual e, ao mesmo tempo, sinaliza que pode haver uma politização do BC mais à frente, e a curva refletiu isso", resume o economista-chefe da Terra Investimentos, João Maurício Lemos Rosal, lembrando o papel de Galípolo como braço direito do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT).
Para alguns profissionais, a indicação do economista ao BC serviu como gatilho para disparar as preocupações acumuladas com uma série de ruídos políticos na última semana, marcada por uma queda das taxas longas. Sobre o mercado, ainda pairam incertezas em torno do desenho final do novo arcabouço fiscal e da capacidade de articulação do governo, após a derrubada dos decretos do saneamento pela Câmara na última quarta-feira, 3.
"O dólar subindo e os Treasuries subindo ajudam a referendar esse movimento de abertura da curva hoje, depois do fechamento da semana passada", diz o operador de renda fixa da Nova Futura Investimentos André Alírio. "Esse movimento de maior preocupação lá fora, numa linha de que talvez não tenha tanto espaço para alívio, talvez tenha puxado mais do que nossas discussões políticas."
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