Apesar do avanço mais expressivo do dólar e das taxas dos Treasuries ao longo da tarde, os juros futuros diminuíram o ritmo de alta na segunda etapa de negócios, afastando-se das máximas vistas pela manhã, quando investidores absorveram a leitura acima do esperado do IPCA-15 de dezembro. Dados de geração de vagas formais de emprego em novembro revelados pelo Caged à tarde não tiveram impacto relevante na formação das taxas. Medidas anunciadas ainda pela manhã pelo ministério da Fazenda para recomposição de receitas perdidas com desoneração da folha de pagamentos já haviam sido absorvidas sem sobressaltos.
Com máxima a 10,075%, DI para janeiro de 2025 fechou a 10,03%, ante 9,99% na sessão anterior. O DI para janeiro de 2027 subiu de 9,635% para 9,72%. E DI para janeiro de 2029, que tocou 10,11%, terminou em 10,07%, ante 9,996% no ajuste anterior.
As taxas apresentaram entre 20 e 50 pontos-base de redução ante o fechamento de novembro. Em 2023, a curva a termo mostrou um alívio geral de mais de 250 pontos-base. Parte expressiva da queima de prêmios é atribuída ao desafogo no ambiente externo no último trimestre, quando a inflação deu sinais de arrefecimento nos EUA e investidores passaram a vislumbrar o início de um processo de corte da taxa básica americana pelo Federal Reserve no primeiro semestre de 2024.
Fatores internos, contudo, também contribuíram para a redução das taxas futuras neste ano. Houve aprovação do novo arcabouço fiscal, em substituição ao teto de gastos, o que eliminou, nas palavras do próprio presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, o chamado "risco de cauda" das contas públicas - ou seja, a perspectiva de uma trajetória explosiva de endividamento. Esse quadro ensejou elevação da nota de crédito brasileira por agências de classificação de risco como Fitch e S&P, embora o País ainda esteja longe de recuperar o grau de investimento. A reforma tributária passou no Congresso, após três décadas de espera.
Com a nova regra fiscal e a apreciação do real, as expectativas de inflação de longo prazo caíram e os índices correntes apresentaram desaceleração, o que abriu espaço para o Banco Central iniciar um processo de corte de juros. Embora tenha provocado alta dos DIs, a leitura do IPCA-15 de dezembro hoje cedo não desmontou as apostas de mais cortes seguidos da taxa Selic em 0,50 ponto porcentual e taxa terminal próxima de 9%. Houve, contudo, diminuição das apostas de que o BC pudesse acelerar o passo no primeiro trimestre de 2024, com uma redução da taxa básica em 0,75 ponto porcentual.
O IPCA-15 acelerou de 0,33% em novembro para 0,40% em dezembro, superando o teto da estimativas de analistas consultados pelo Projeções Broadcast (0,35%). A mediana era de 0,25%. Com o resultado anunciado hoje, o IPCA-15 acumulou um aumento de 4,72% no ano de 2023, pouco aquém do teto da meta, de 4,75%, também superando as expectativas.
A despeito da percepção de deterioração do qualitativo do IPCA-15, a economista-chefe da B.Side Investimentos, Helena Veronese, afirma que o cenário de arrefecimento da inflação não foi alterado. "Não muda o plano de voo do Banco Central. O que pode acontecer é o mercado deixar de lado o debate em torno de uma aceleração do ritmo de corte dos juros", diz Veronese, que estima Selic em 9,75% no fim de 2024, mas a projeção tem viés de baixa.
Após o IPCA-15 de dezembro, a equipe econômica da Warren Investimentos elevou a projeção para a taxa de inflação fechada deste mês. A estimativa para o IPCA de dezembro subiu de 0,35% para 0,45%, com a inflação fechando o ano em 4,51%, dentro do intervalo da meta. Em 2021 e 2022, o IPCA superou o teto da meta, o que obrigou o Banco Central a divulgar carta aberta com explicações para a arrancada da inflação.
Depois da redução queda de prêmios neste ano, analistas veem alguns entraves para uma baixa acentuada dos DIs nos próximos meses. Além de inflação corrente menor e convergência das expectativas para a meta (3%), há necessidade de progresso no front fiscal, com cumprimento dos objetivos estabelecidos no novo arcabouço. Economistas veem com ceticismo a possibilidade de o governo entregar déficit primário zero em 2024 mesmo com aprovação de medidas para ampliação das receitas.
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