MAIS LIDAS
VER TODOS

Economia

Indústria precisa de 'Plano Safra' e de juros menores, afirmam líderes do setor

A indústria brasileira enfrenta hoje dois grandes entraves para o seu desenvolvimento: juros altos e falta de uma política específica para o setor, com crédito mais barato, aos moldes do Plano Safra, que é voltado para a agricultura. No período (2024/2025

Francisco Carlos de Assis, Eduardo Geraque e Diego Lazzaris, especial para o Estadão (via Agência Estado)

·
Escrito por Francisco Carlos de Assis, Eduardo Geraque e Diego Lazzaris, especial para o Estadão (via Agência Estado)
Publicado em 24.07.2024, 07:07:00 Editado em 24.07.2024, 07:11:26
Imagen google News
Siga o TNOnline no Google News
Associe sua marca ao jornalismo sério e de credibilidade, anuncie no TNOnline.
Continua após publicidade

A indústria brasileira enfrenta hoje dois grandes entraves para o seu desenvolvimento: juros altos e falta de uma política específica para o setor, com crédito mais barato, aos moldes do Plano Safra, que é voltado para a agricultura. No período (2024/2025), serão destinados R$ 400 bilhões para o setor.

continua após publicidade

É o que disseram ontem o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes, e o diretor de Desenvolvimento Industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Rafael Lucchesi, durante a abertura do Fórum Estadão Think - A Indústria no Brasil Hoje e Amanhã, na sede da Fiesp, uma realização do Estadão, com apoio da Fiesp, do Ciesp, da Firjan e da CNI.

Para o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, no Brasil "viver de renda se tornou um grande negócio", e produzir, uma péssima iniciativa. Segundo ele, o Plano Real, que acabou com o flagelo da hiperinflação, impôs uma taxa de juro real alta que deveria ser transitória, mas se tornou permanente.

continua após publicidade

"Ao longo dos últimos 30 anos, se nós tivéssemos aplicado R$ 100 em CDI, títulos públicos sem qualquer spread bancário (a diferença entre os juros que os bancos pagam e cobram), teríamos hoje R$ 8.043. Enquanto um bem ou serviço que custava R$ 100 há 30 anos, hoje, se corrigido pelo IPCA, custaria R$ 808. Ou seja, a taxa de juro real nestes 30 anos é dez vezes maior do que a taxa de inflação", disse Josué.

"Mesmo se levarmos em consideração os últimos 25 anos desde a criação do tripé macroeconômico colocado em prática pelo Armínio Fraga, nós vamos ver que a taxa de juro, em média, foi de 12,4% contra uma taxa de inflação de 6,5%", disse o presidente da Fiesp.

Ele questionou como um setor intensivo em capital pode ter os recursos necessários para manter a sua produtividade e continuar competitivo, se não consegue tomar recursos de terceiros. "Como manter a competitividade em um contexto como este?", indagou Josué. O presidente da Fiesp disse ainda que é preciso "aplaudir o desempenho do agro brasileiro", mas é necessário lembrar que desde 2003 o setor conta com o Plano Safra, que oferece crédito subsidiado.

continua após publicidade

Segundo Josué, é a indústria quem cria tecnologia e, a seu ver, os polos de inovação têm de estar próximos dos centros de produção, da indústria. "Os Estados Unidos estão cientes que exportaram sua indústria."

"Dentro deste extremo liberalismo, era preciso ser eficiente. E buscar a eficiência significava buscar os países de menor custo de produção, especialmente em função do custo de trabalho mais baixo e das regulações ambientais mais flexíveis. Agora, eles estão se dando conta de que perderam, inclusive, sua classe média", disse o presidente da Fiesp, acrescentando esperar que o Brasil se dê conta da importância da indústria de transformação e passe a fazer o mesmo.

Oportunidade

continua após publicidade

De acordo com Rafael Lucchesi, o crescimento exponencial da economia brasileira, tendo a indústria como base entre as duas grandes guerras mundiais no século passado, dá uma pista da janela de oportunidades que o Brasil tem hoje. "O Brasil cresceu na crise de hegemonia no século passado. Durante cinco décadas foi um dos países que mais cresceram no mundo", disse. "O momento atual é semelhante, apesar de condições fiscais não tão favoráveis."

Lucchesi afirmou que existem três processos em curso atualmente. A nova revolução industrial baseada em big data, na internet das coisas e na inteligência artificial; os extremos climáticos, que fazem acelerar a necessidade da transição energética; e a nova geopolítica, que mostra descolamento entre o Ocidente e o Oriente, assim como ocorreu no século passado, entre os anos 1920 e 1980.

continua após publicidade

"Precisamos fazer mais do que discutirmos a questão fiscal. Temos de ter estratégia, uma missão. A reindustrialização precisa vir de uma política de Estado", disse Lucchesi. Se de um lado a janela de oportunidades que o setor industrial brasileiro tem é estreita, de outro, precisa haver mais ambição, defende o representante da CNI.

O Brasil é o país que mais retrocedeu em termos de competitividade, disse, por causa da ausência de políticas industriais ativas, ao contrário do que ocorre com os países mais ricos, que despejam atualmente quase US$ 13 trilhões nesse tipo de política. "O rentismo sem produção também vai condenar o futuro no Brasil", segundo Lucchesi.

Se, do ponto de vista estratégico, o setor industrial precisa de um Plano Safra, a questão tributária ainda gera apreensão, na visão de Rafael Cervone, presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp). Entre outros pontos, porque a lista extensa de benefícios tende a gerar distorções nos ganhos da reforma tributária em curso no Congresso.

"A alíquota média tende a ficar em 26%, mas, sem os chamados puxadinhos, poderia ficar em 20%. É preciso que isso seja analisado com urgência pelo Congresso Nacional", disse Cervone. Segundo ele, é ainda necessário dar andamento à "dormente" reforma administrativa, "igualmente fundamental".

Além das questões fiscal e tributária, outras áreas precisam ser atacadas para que a indústria brasileira volte a ter uma curva ascendente, segundo Carlos Erane de Aguiar, presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). Para ele, a falta de segurança pública é outro gargalo que gera bilhões de reais em prejuízo. Desde a questão da ida e vinda ao trabalho por parte do trabalhador, passando pela perda de patrimônio em si até questões envolvendo roubo de energia, de água e de crimes eletrônicos, como fraudes.

"Atividades ilegais cibernéticas como roubo de propriedade intelectual têm um impacto devastador para toda a sociedade", disse. "Toda a insegurança na indústria precisa ser tratada como uma abordagem integrada."

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Gostou desta matéria? Compartilhe!

Icone FaceBook
Icone Whattsapp
Icone Linkedin
Icone Twitter

Mais matérias de Economia

    Deixe seu comentário sobre: "Indústria precisa de 'Plano Safra' e de juros menores, afirmam líderes do setor"

    O portal TNOnline.com.br não se responsabiliza pelos comentários, opiniões, depoimentos, mensagens ou qualquer outro tipo de conteúdo. Seu comentário passará por um filtro de moderação. O portal TNOnline.com.br não se obriga a publicar caso não esteja de acordo com a política de privacidade do site. Leia aqui o termo de uso e responsabilidade.
    Compartilhe! x

    Inscreva-se na nossa newsletter

    Notícia em primeira mão no início do dia, inscreva-se agora!