À espera do Copom no período da noite desta quarta-feira, 19, e com liquidez muito reduzida pelo feriado em Nova York, o Ibovespa se mantinha em margem acomodada até o meio da tarde, mas ganhou ímpeto que o reconduziu aos 120 mil pontos, na máxima do dia como também no fechamento - movimento duplo que o índice havia ensaiado, sem efetivá-lo no encerramento, em três das quatro sessões anteriores.
Nesta quarta, o índice da B3 subiu 0,53%, aos 120.261,34 pontos, entre 118.960,37 (-0,56%) e 120.383,33 (+0,63%) na sessão, em que saiu de abertura aos 119.630,44 pontos. Na semana, o Ibovespa passa nesta quarta ao positivo (+0,50%), ainda cedendo 1,50% no mês e 10,38% no ano. O giro desta quarta-feira ficou em apenas R$ 14,2 bilhões.
De certa forma, o Ibovespa suavizou o padrão lateralizado que vinha prevalecendo após a queda de 1,4% da quarta-feira passada, não conseguindo deixar, até o fechamento de desta quarta, a linha de 119 mil pontos a que havia sido lançado então, entre perdas e ganhos moderados a cada sessão. Pesquisa pré-Copom realizada pela corretora BGC Liquidez, com 50 participantes do mercado financeiro, mostra unanimidade em torno da expectativa de manutenção da Selic em 10,50% na reunião desta quarta-feira, reporta a jornalista Denise Abarca, do Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.
"Para as reuniões de hoje até o fim do ano, a ampla maioria antecipa manutenção da taxa Selic em 10,5%", afirmam Daniel Cunha, Daniel Leal e Rafael Costa, respectivamente estrategista-chefe, estrategista de renda fixa e economista-chefe da instituição, responsáveis pelo levantamento. Na pesquisa pré-Copom realizada pela BGC Liquidez, agentes do mercado financeiro preveem reajuste para cima nas projeções de inflação do colegiado. Atualmente, a previsão para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no cenário de referência para 2024 é de 3,8% e para 2025, de 3,3%. Segundo o levantamento, as estimativas devem ser ajustadas, respectivamente, para 3,9% e 3,5%.
A sessão que antecede a deliberação do Copom foi de novo avanço tanto para o dólar - em alta limitada a 0,14% no fechamento, a R$ 5,44 - como para a curva de juros doméstica, o que reduzia o escopo para uma recuperação do Ibovespa. Não obstante, o índice da B3 costurou nesta quarta dois ganhos consecutivos, algo não visto desde os dias 13 e 14 de maio, há pouco mais de um mês.
Do meio para o fim da tarde, o Ibovespa passou a renovar máximas da sessão, firmando-se aos 120 mil pontos em direção ao fechamento, contando com o apoio de nomes do setor metálico, como Vale (ON +0,31%) e Gerdau (PN +1,47%), assim como do setor financeiro, como Itaú (PN +0,78%) e Banco do Brasil (ON +0,73%). Na ponta ganhadora do Ibovespa, destaque para Yduqs (+4,33%), BRF (também +4,33%), Marfrig (+3,03%), São Martinho (+2,92%) e Minerva (+2,86%). No lado oposto, Azul (-4,62%)CSN (-1,85%), Assaí (-1,07%) e CVC (-1,05%).
"Tanto BRF quanto Marfrig refletiram hoje, em suas altas, o otimismo do mercado com a exportação de proteína brasileira para a China, bem como pela recente alta do dólar e pelo imbróglio chinês com a União Europeia no setor - o que pode beneficiar o Brasil. Pelos mesmos motivos, Minerva e JBS (+1,76%) também subiram hoje", diz Felipe de Castro, sócio da Matriz Capital.
Em dia levemente negativo para o petróleo, e de posse de Magda Chambriard no comando da Petrobras em cerimônia com a presença do presidente Lula - a primeira vez em 12 anos que um presidente da República foi à posse de dirigente da estatal, reportam do Rio os jornalistas Denise Luna e Gabriel Vasconcelos, do Broadcast -, as ações da empresa fecharam sem sinal único (ON -0,63%, PN +0,08%).
"Por conta do feriado nos Estados Unidos e da decisão do Copom sobre os juros brasileiros, o dia foi de baixa liquidez. A curva de juros, por sua vez, abriu. Causa estresse a espera do mercado pelo novo presidente do BC, especialmente depois de o presidente Lula ter usado as palavras maduro e calejado, em entrevista ontem à rádio CBN, para se referir ao perfil do futuro indicado", diz Inácio Alves, analista da Melver, referindo-se a nomes como os do ex-diretor do BC Luiz Awazu; do atual de política monetária, Gabriel Galípolo, e mesmo do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, que já estavam ou começam a entrar nas especulações - com maior grau de aceitação ou de aversão.
"Internamente, ainda há muita preocupação com a situação fiscal: tem que se falar em Brasil, com dívida bruta do governo em aproximação de 81% do PIB para 2025, e um ciclo de corte da Selic menor do que se antecipava para 2024. Governo tem aumentado gasto, sem conseguir promover o aumento da receita, com situação complicada, ainda, entre os Três Poderes. Sem um norte melhor para Brasil, fluxo estrangeiro continuará a ser de saída, levando em conta também os juros altos que permanecem nos Estados Unidos. Mais de 70% do capital estrangeiro que entrou em 2023 na B3 já saiu em 2024", diz Gabriel Meira, sócio da Valor Investimentos, acrescentando que o País se colocou "fora do radar", ao fazer com que o investidor estrangeiro "cansasse".
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